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       Paulo Sérgio Werneck é uma daquelas pessoas para quem se olha e acha que encontrou a tranqüilidade em forma de gente.  Com um ar sereno e jeito manso de falar, fez durante o CONGRENAT uma palestra enfocando o Naturismo pelo lado da psicanálise. 

     Ele e sua esposa, Regina Célia Werneck, começaram no Naturismo há cerca de 5 anos quando visitaram a ilha de Saint Martin no Caribe e decidiram-se então associar-se ao sítio RINCÃO NATURISTA, em Guaratinguetá, em São Paulo. Ele é médico e psicanalista e tem 58 anos de idade. Leia em seguida a palestra proferida por ele.

A PSICANÁLISE DO NATURISMO

Por Regina Célia e Paulo Sérgio Werneck* 

 

   Este modesto trabalho visa contribuir para a compreensão do desejo e das dificuldades e resistências íntimas que ocorrem em muitos dos que se sentem inibidos na prática do naturismo. Utiliza elementos de nossa experiência pessoal e de nossos amigos, e da leitura da psicanálise.

     O bem estar do nu pode ser notado em toda criança que circula entre seus pais e irmãos em sua casa, ou na praia, ou na piscina. Trata-se de uma sensação de liberdade e de autonomia mesclada com o desejo de exibir o corpo do prazer recém descoberto ! Porém, freqüentemente, tais sentimentos foram reprimidos por não coincidir com o desejo dos pais, e até pode colidir com seus preconceitos. Algo que eles sentiam como uma curiosidade incômoda de verificar como eram seus corpos e genitais, e compará-los com os nossos.

     E o desejo de circular nu e de exibir-se é recalcado para o inconsciente, no afã de agradar nossos pais, e vira angústia-sinal que surgirá toda vez que se ofereça a oportunidade de sermos 

Dr. Paulo Sérgio Werneck no momento de sua palestra no Congrenat

 

vistos nus, e que se traduz em cuidados, tais como trancar a porta do quarto e do banheiro, as janelas, abotoar a barriguilha, e outros que passam a fazer parte da rotina de nossos hábitos diários.

     Porém o desejo do nu permanece latente, e, para ser contido, construímos toda uma formação reativa e defensiva: o pudor, que inclui a insegurança com o próprio corpo, visto como indigno de ser exposto aos outros, o medo de ser mal visto pela sociedade e até de ser preso ! Assim falta a disposição para o naturismo, e sobra a intolerância com os naturistas !

     Quando afinal conseguimos vencer este conflito de desejos díspares e podemos freqüentar um ambiente em que o nu é acolhido com naturalidade e permissão, voltamos a ser aquelas crianças de outrora, cheias de felicidade e prazer !

     Outro obstáculo é a angústia da castração, ou seja, o medo fantasmático de perder o genital, derivado dos desejos incestuosos edipianos.

     Os homens sentem-se inibidos, pois inseguros quanto ao tamanho do pênis-falo, comparam-se em desvantagem com os demais naturistas; as mulheres não conseguem descobrir a genital, local que em sua fantasia é a prova da castração ( a falta do falo) a que foram submetidas.

     Prova disto é a dificuldade do top-less nas praias em geral, e nas mulheres desejosas de ser naturistas, de tirar a parte de baixo do biquini.

     A angústia da castração manifesta-se também no receio que os que conseguem freqüentar ambientes naturistas têm de falar sobre isso com os não naturistas, por medo de serem vistos como devassos e excluídos da vida social.

     Para isto, contribui a desinformação sobre os limites que os naturistas se impõem, tratando-se de uma prática familiar que não inclui a promiscuidade e a libidinagem.

     Há homens que acreditam que a mulher que se mostra despida está disponível para o assédio sexual; confundem a nudez com o erotismo sedutor !

     Finalmente são os naturistas vítimas da intolerância religiosa, que com suas morais rígidas e limitantes, subjacente às quais existem os ciúmes e os preconceitos contra os diferentes.

     Várias iniciativas de autoridades de o Executivo (Rio de Janeiro) e do Legislativo Municipal (Ilha Bela) têm sido abortadas por vozes de religiosos que clamam pela defesa do pudor e das crianças !

     Não faltam os que vêem no naturismo um risco para as crianças que poderiam ficar "chocadas" com a visão de seios ou genitais nus ! Como se traumatizante não fosse o esmagamento do desejo do nu, que custa tão caro a todos em termos de consumo de energia mental !

     Isto pode verificar-se na prática naturistas, quando libertos desses incômodos contradesejos e formalidades mostramo-nos muito mais alegres e solidários uns com os outros !

     Pensamos que estas reflexões devam ser partilhadas de alguma forma com a nossa Sociedade, para que se crie uma mentalidade mais favorável ao Naturismo, o que influenciaria as autoridades, inclusive do Judiciário, na liberação de áreas públicas onde se possa exercer o verdadeiro direito de ficar nu !!

* dasimattos@ig.com.br

Arthur, Fabiana e Amigos, Jovens no Naturismo

Elias Alves Pereira, Presidente da PLANAT

A turma do SAMPANAT

Luiz Fernando Rojo,Doutorando em Antropologia

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