NATEntrevista

     O interesse pelo Naturismo despertado nos meios acadêmicos é notório. Há muitos estudiosos espalhados pelos mais diversos pontos do país, que escolheram o tema para seus trabalhos universitários. São profissionais ou estudantes das áreas de ciências humanas (psicologia, sociologia, filosofia, antropologia, etc) que dispensam seu tempo para se debruçarem sobre este apaixonante estilo de vida. A grande maioria não é naturista, mas destes muitos acabam se tornando praticantes irrefutáveis.

     Alguns poucos já eram naturistas antes de começarem seus estudos e pesquisas. É o caso de nosso entrevistado desse mês, João Carlos Lima de Souza, paraense que já foi matéria do OLHO NU em outra ocasião (ver OLHO NU nº 30, março de 2003), sobre sua particularidade de ser naturista e ex-padre. 

     Nesta entrevista, João fala sobre sua vida atual, seu trabalho e a pesquisa que está disponível na Internet.

NATURISMO: a realização de um sonho

por João Carlos Lima de Souza* 

entrevista concedida por e-mail a Pedro Ribeiro**

João Carlos na primeira vez em local naturista              OLHO NU: Fale um pouco sobre você: nome completo, idade, profissão, família, interesses pessoais

      JOÃO: Nome completo: João Carlos Lima de Souza

      Idade: 39 anos

      Profissões: Pedagogo e Radialista

      Sobre a família: Sou casado com Fátima e tenho um enteado e uma enteada. Fátima é Relações Públicas no ramo do turismo, minha enteada está no terceiro ano do curso de Direito, meu enteado já é casado e tem uma empresa junto com sua esposa.

      Interesses pessoais: Meu trabalho como educador no ensino formal (disciplinas pedagógicas e Metodologia Científica) e no ensino não-formal (assuntos de cunho social, como exemplo: Terceiro Setor, Associativismo e Cooperativismo e Políticas Públicas), Análise de Conjuntura (Internacional, Nacional, Regional, Estadual e Local), Futebol, Comunicação e Naturismo.

 

OLHO NU:  Quando e como começou a praticar o naturismo ? Pratica em algum lugar atualmente?

 JOÃO: Comecei a praticar naturismo há oito anos atrás. A primeira prática foi em um quintal de uma casa no centro de Belém. Já havia, em Algodoal (bela Praia do litoral paraense) tirado a roupa uma vez. Mas a primeira vez mesmo, considerada como naturismo, foi em Belém, com os amigos do GRUNAPA – Grupo Naturista do Pará. No momento, devido a questões particulares, não pratico em Belém. Quando possível, eu e minha esposa viajamos e praticamos em outro Estado do Brasil. Já estivemos em Tambaba, Galheta e Pinho. Eu, sozinho, já fui quatro vezes ao Planat e uma vez ao Ramanat. Ela já esteve sozinha, uma vez, no Planat. Juntos, em Belém, só duas vezes. Eu sozinho, em Belém, muitas vezes. Mas pensei em dar um tempo. Prefiro estar em companhia dela e ela não quis mais participar aqui em nosso Estado. Ela é mais importante para mim que o naturismo.

 

OLHO NU: Tem algum problema em revelar para seus amigos, parentes e colegas sua prática naturista ?

JOÃO: Não. Com tranqüilidade assumo que sou naturista. Em qualquer lugar. É por isso que obtive sucesso quando fiz um trabalho de conclusão de curso enfatizando o naturismo. Quem me conhece sabe que sou naturista.

  José Carlos e amigos no PLANAT, em Brasília

OLHO NU: Como surgiu a idéia de fazer um trabalho acadêmico sobre o naturismo ?

JOÃO: Na verdade, sonho em fazer vários trabalhos ligados ao naturismo. Entendi que um trabalho acadêmico, na atualidade, seria menos difícil. O referido trabalho é parte de um sonho maior. Penso, um dia, escrever um livro. Já estou construindo, embora não seja um escritor. Se for possível se tornar uma realidade, vou ficar bem feliz. Mas não é fácil. De qualquer forma, caso o livro chegue ao mercado, não é para esse ano. Quero preparar uma peça teatral sobre naturismo. Também dar idéia para um cineasta sobre um filme. Outras vontades: uma fita de vídeo, de uma hora e meia, sobre o naturismo em cada canto do Brasil. Isso é loucura, mas tenho essa vontade e, ainda, montar um museu naturista aqui no Norte do Brasil. Pelo menos o trabalho acadêmico eu fiz. O restante eu não sei se vai sair. Mas tenho vontade.

 

OLHO NU: Como foi a reação de seus colegas e orientadores, inicialmente, sobre seu trabalho?

JOÃO: Nenhum espanto. O fato de eu assumir e conversar sobre o assunto com extrema tranqüilidade, fez com que ninguém me criticasse ou demonstrasse embaraço. No dia da exposição foi um dos trabalhos mais procurados. As pessoas não estão acostumados com esse aspecto do naturismo: o nudismo (em grupo). Não houve estardalhaço.

 

OLHO NU:  Houve alguma modificação de comportamento da parte deles ao término de seus estudos?

JOÃO: Não. Se bem que alguns, no futuro, pretendem ingressar no mundo naturista. Não tenho certeza se isso vai ocorrer.

 

OLHO NU:  Como você compreende a importância que seu estudo poderia ter para o futuro da naturismo brasileiro ?

JOÃO: Se ficar só no trabalho acadêmico, reconheço, não vai ajudar muito. Mas, se o livro “sair”, a divulgação será maior e mais pessoas irão se interessar pelo naturismo. O trabalho acadêmico é só a semente. Se bem que o livro tem que ser comercializado em todo o território brasileiro. Caso contrário, também não vai ajudar muito. Lembro dos amigos Paulo Pereira e Celso Rossi. Ambos se dedicaram, escreveram dois livros, e pouca gente no Brasil, teve acesso aos mesmos. Por isso é que o meu, se “sair”, fica mesmo para 2004. Só vai para o mercado se for para ser bem divulgado e vendido. Tantos escritos legais de Paulo e Celso, poucos e poucas tiveram acesso. E são dois belos trabalhos. Que eu saiba, em Belém, só tem um livro do Celso. Parece que teve um outro, foi para uma biblioteca e alguém “passou” a mão. O livro do Paulo, eu tenho um, doei outro à universidade onde estudei e, um terceiro, presenteei o secretário do GRUNAPA, grupo naturista aqui do Pará. Pode ser que alguém tenha um outro livro do Paulo ou do Celso, mas eu desconheço.

 

       OLHO NU:  Como sentiu a reação das pessoas entrevistadas para a pesquisa quando souberam que o tema seria naturismo?

 JOÃO: As pessoas demonstraram muito interesse. Ninguém se esquivou de responder. Mesmo os contrários à prática, não deixaram de ser solícitos. A reação dos entrevistados foi muito boa.

 

 OLHO NU: Quanto tempo durou sua pesquisa?

JOÃO: Pesquisei durante oito meses.

 

       OLHO NU: Houve boa vontade ou sentiu dificuldades por parte dos sujeitos do trabalho?

 JOÃO: Sempre muito boa vontade.

 

 OLHO NU: Pretende publicar em forma de livro?

      JOÃO: Sim. Mas só nas circunstâncias anteriormente ventiladas.

 

     OLHO NU: Fale um pouco sobre seu trabalho: objetivos e tema.

  JOÃO: O grande objetivo foi mostrar que o naturismo não é somente o ato de se tirar a roupa. Pensei em demonstrar sua complexidade e sua influência no dia-a-dia de muitas pessoas no Brasil e no mundo. Também procurei destacar que, o fato de serem naturistas, não os tirava da situação de seres humanos normais. Pessoas legais, chatas, alegres, tristes, ricas, pobres (pouquíssimos), humildes, “metidas”, gente de todo tipo. Alguns entrevistados achavam que todos naturistas eram bonzinhos e muita gente pensa assim. Também quis, através desse trabalho, detectar se todos os naturistas realmente cuidavam da natureza. E constatei que não. Enfim, uma tentativa de ir além do “ficar nu”, foi meu grande objetivo. E, no final, constatei que, a maioria dos naturistas,infelizmente, ainda não consegue ligar naturismo com educação ambiental. Ficam, portanto, somente na educação ecológica. Essa amplitude de visão, resultado de um ser políticos mais qualificado, ainda falta melhorar. A questão ambiental é uma questão bio-política, e não somente um cuidado com o chão do sítio ou da praia onde nos despimos de roupas e preconceitos. Falta mais politização à maioria dos que praticam o naturismo.

 

*Pedagogo

jcnat@terra.com.br 

** Editor do jornal OLHO NU

natpedro@globo.com 

 


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