OLHO
NU: Fale um pouco sobre você: nome completo, idade, profissão,
família, interesses pessoais
JOÃO:
Nome completo: João Carlos Lima de Souza
Idade: 39 anos
Profissões: Pedagogo e Radialista
Sobre a família: Sou casado com Fátima e tenho um enteado e
uma
enteada. Fátima é Relações Públicas no ramo do turismo, minha
enteada está no terceiro ano do curso de Direito, meu enteado já é
casado e tem uma empresa junto com sua esposa.
Interesses pessoais: Meu trabalho como educador no ensino
formal (disciplinas pedagógicas e Metodologia Científica) e no
ensino não-formal (assuntos de cunho social, como exemplo: Terceiro
Setor, Associativismo e Cooperativismo e Políticas Públicas), Análise
de Conjuntura (Internacional, Nacional, Regional, Estadual e Local),
Futebol, Comunicação e Naturismo.
OLHO
NU:
Quando e como começou a praticar o naturismo ? Pratica em
algum lugar atualmente?
JOÃO:
Comecei a praticar naturismo há oito anos atrás. A primeira prática
foi em um quintal de uma casa no centro de Belém. Já havia, em
Algodoal (bela Praia do litoral paraense) tirado a roupa uma vez. Mas
a primeira vez mesmo, considerada como naturismo, foi em Belém, com
os amigos do GRUNAPA – Grupo Naturista do Pará. No momento, devido
a questões particulares, não pratico em Belém. Quando possível, eu
e minha esposa viajamos e praticamos em outro Estado do Brasil. Já
estivemos em Tambaba, Galheta e Pinho. Eu, sozinho, já fui quatro
vezes ao Planat e uma vez ao Ramanat. Ela já esteve sozinha, uma vez,
no Planat. Juntos, em Belém, só duas vezes. Eu sozinho, em Belém,
muitas vezes. Mas pensei em dar um tempo. Prefiro estar em companhia
dela e ela não quis mais participar aqui em nosso Estado. Ela é mais
importante para mim que o naturismo.
OLHO
NU: Tem algum problema em revelar para seus amigos, parentes e
colegas sua prática naturista ?
JOÃO:
Não. Com tranqüilidade assumo que sou naturista. Em qualquer lugar.
É por isso que obtive sucesso quando fiz um trabalho de conclusão de
curso enfatizando o naturismo. Quem me conhece sabe que sou naturista.
OLHO
NU: Como surgiu a idéia de fazer um trabalho acadêmico sobre o
naturismo ?
JOÃO:
Na verdade, sonho em fazer vários trabalhos ligados ao naturismo.
Entendi que um trabalho acadêmico, na atualidade, seria menos difícil.
O referido trabalho é parte de um sonho maior. Penso, um dia,
escrever um livro. Já estou construindo, embora não seja um
escritor. Se for possível se tornar uma realidade, vou ficar bem
feliz. Mas não é fácil. De qualquer forma, caso o livro chegue ao
mercado, não é para esse ano. Quero preparar uma peça teatral sobre
naturismo. Também dar idéia para um cineasta sobre um filme. Outras
vontades: uma fita de vídeo, de uma hora e meia, sobre o naturismo em
cada canto do Brasil. Isso é loucura, mas tenho essa vontade e,
ainda, montar um museu naturista aqui no Norte do Brasil. Pelo menos o
trabalho acadêmico eu
fiz. O restante eu não sei se vai sair. Mas tenho vontade.
OLHO
NU: Como foi a reação de seus colegas e orientadores,
inicialmente, sobre seu trabalho?
JOÃO:
Nenhum espanto. O fato de eu assumir e conversar sobre o assunto com
extrema tranqüilidade, fez com que ninguém me criticasse ou
demonstrasse embaraço. No dia da exposição foi um dos trabalhos
mais procurados. As pessoas não estão acostumados com esse aspecto
do naturismo: o nudismo (em grupo). Não houve estardalhaço.
OLHO
NU: Houve alguma modificação de comportamento da parte deles ao término
de seus estudos?
JOÃO:
Não. Se bem que alguns, no futuro, pretendem ingressar no mundo
naturista. Não tenho certeza se isso vai ocorrer.
OLHO
NU:
Como você compreende a importância que seu estudo
poderia ter para o futuro da naturismo brasileiro ?
JOÃO:
Se ficar só no trabalho acadêmico, reconheço, não vai ajudar
muito. Mas, se o livro “sair”, a divulgação será maior e mais
pessoas irão se interessar pelo naturismo. O trabalho acadêmico é só
a semente. Se bem que o livro tem que ser comercializado em todo o
território brasileiro. Caso contrário, também não vai ajudar
muito. Lembro dos amigos Paulo Pereira e Celso Rossi. Ambos se
dedicaram, escreveram dois livros, e pouca gente no Brasil, teve
acesso aos mesmos. Por isso é que o meu, se “sair”, fica mesmo
para 2004. Só vai para o mercado se for para ser bem divulgado e
vendido. Tantos escritos legais de Paulo e Celso, poucos e poucas
tiveram acesso. E são dois belos trabalhos. Que eu saiba, em Belém, só
tem um livro do Celso. Parece que teve um outro, foi para uma
biblioteca e alguém “passou” a mão. O livro do Paulo, eu tenho
um, doei outro à universidade onde estudei e, um terceiro, presenteei
o secretário do GRUNAPA, grupo naturista aqui do Pará. Pode ser que
alguém tenha um outro livro do Paulo ou do Celso, mas eu desconheço.
OLHO
NU:
Como sentiu a reação das pessoas entrevistadas para a
pesquisa quando souberam que o tema seria naturismo?
JOÃO:
As pessoas demonstraram muito interesse. Ninguém se esquivou de
responder. Mesmo os contrários à prática, não deixaram de ser solícitos.
A reação dos entrevistados foi muito boa.
OLHO
NU: Quanto tempo durou sua pesquisa?
JOÃO: Pesquisei durante oito meses.
OLHO
NU: Houve boa vontade ou sentiu dificuldades por parte dos
sujeitos do trabalho?
JOÃO:
Sempre muito boa vontade.
OLHO
NU: Pretende
publicar em forma de livro?
JOÃO:
Sim. Mas só nas
circunstâncias anteriormente ventiladas.
OLHO
NU: Fale um pouco sobre seu trabalho: objetivos e tema.
JOÃO:
O grande objetivo foi mostrar que o naturismo não é
somente o ato de se tirar a roupa. Pensei em demonstrar sua
complexidade e sua influência no dia-a-dia de muitas pessoas no
Brasil e no mundo. Também procurei destacar que, o fato de serem
naturistas, não os tirava da situação de seres humanos normais.
Pessoas legais, chatas, alegres, tristes, ricas, pobres
(pouquíssimos),
humildes, “metidas”, gente de todo tipo. Alguns entrevistados
achavam que todos naturistas eram bonzinhos e muita gente pensa assim.
Também quis, através desse trabalho, detectar se todos os naturistas
realmente cuidavam da natureza. E constatei que não. Enfim, uma
tentativa de ir além do “ficar nu”, foi meu grande objetivo. E, no
final, constatei que, a maioria dos
naturistas,infelizmente, ainda não consegue ligar naturismo com educação
ambiental. Ficam, portanto, somente na educação ecológica. Essa
amplitude de visão, resultado de um ser políticos mais qualificado,
ainda falta melhorar. A questão ambiental é uma questão bio-política,
e não somente um cuidado com o chão do sítio ou da praia onde nos
despimos de roupas e preconceitos. Falta mais politização à maioria
dos que praticam o naturismo.
*Pedagogo
jcnat@terra.com.br
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Editor do jornal OLHO NU
natpedro@globo.com
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