Conhecendo Massarandupió

 

entrevista a Pedro Ribeiro*

 

foto: Pedro Ribeiro

Ricardo Costa, membro da diretoria da Abanat, que cuida da praia de Massarandupió, juntamente com outros membros da associçào que visitaram Tambaba.

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Ricardo Costa, 44, publicitário, diretor social da ABANAT (Associação Baiana de Naturismo) que funciona na praia de Massarandupió, município de Entre Rios, a poucos quilômetros ao norte de Salvador, também esteve presente no V Encontro Nacional de Naturismo de Tambaba e concedeu esta entrevista em meio ao barulho do mar, da natureza e da alegria que contagiou o local.

 

OLHO NU: Vou começar com uma questão, a qual algum tempo atrás causou polêmica. Há duas associações na praia que disputam o poder ?

 

Ricardo Costa: Na realidade, nós tivemos, por algum tempo, duas associações. Era uma questão política. Tínhamos a ABANAT, que é a que permanece hoje, e tivemos a AMANAT que era a Associação Massarandupioense de Naturismo. Formada por uma questão entre dois grupos que frequentavam a praia e "racharam"... Na realidade, esta última não vingou, sobrando a ABANAT que foi instituída. Nós somos da nova diretoria eleita há duas semanas (da data do Evento 12/10), que está reestruturando todo o sistema da praia.

 

ON: Como é que funciona a praia de Massarandupió ?

 

RC: Massarandupió é o paraíso, em primeiro lugar. São quatro quilômetros de praia, com dunas, coqueiros e, uma coisa única, um rio a 50 metros do local, que corre paralelamente à praia. As dunas  ficam entre o mar e o rio. Temos água doce e água salgada no mesmo ambiente.

 

Hoje temos uma infra-estrutura que conta com duas barracas centralizadas que oferecem atendimento de comida e bebida. E um grupo com uma união muito forte, como o baiano costuma ser normalmente. É o paraíso realmente.

 

ON: Há quanto tempo existe a praia de Massarandupió para o naturismo ?

 

RC: Oficialmente há oito anos. Uma praia que começou exatamente no carnaval. Mas extra-oficialmente muito mais do que isso. O pessoal já ia para lá para fazer naturismo há muito tempo. Foi uma dapatação ao que já existia de fato na praia.

 

ON: Há quanto tempo você frequenta a praia ?

 

Praia de Massarandupió em antiga foto.

RC: Tenho dez anos de frequência. Antes da oficialização. Ela ocorreu por necessidade de organização para o que se fazia. A praia não sendo oficializada acarretava em problemas de segurança, de curiosos, coisas que acontecem em quase todas as praias naturistas. Em virtude disso, nós vimos a necessidade de oficializar, de criar regras, porque algumas pessoas não se comportavam dentro da ética. Então colocamos as coisas nos trilhos.

 

ON: Na época da oficialização, em 1997, já estavam oficializadas a praia do Pinho, a praia de Tambaba, a Oho de Boi e Barra Seca. Elas influenciaram vocês para lutar pela oficialização ?

 

RC: Sim, sim, claro. A influência de todas as lutas naturistas é verificada em cada local onde se desbrava uma praia naturista. É uma característica do naturista, que é um desbravador, enfrenta barreiras orgulhosamente, enfim.

 

ON: Como é a relação da praia de Massarandupió com o pessoal que vive nas vizinhanças ?

 

RC: Eu acredito que, quando nós chegamos e começamos a frequentar, o vilarejo de Massarandipió não tinha nenhuma pousada. Apenas uma pensão. Hoje nós temos seis pousadas, vários restaurantes, uma vida agitada, empregando várias pessoas dentro do vilarejo. E isso refletiu em vida para o local. Tanto é, que o próprio vilarejo é extremamente favorável não só aos naturistas, mas também ao próprio naturismo, pelo benefício que ele vem trazendo no dia a dia do município.

 

ON: E a relação com a política e políticos ?

 

RC: Hoje, sim, temos uma boa relação política com os governantes. Nós tivemos oito anos com o ex-prefeito, que não era favorável ao naturismo, que nos fez penar durante muito tempo, sem que nós pudéssemos alçar vôos maiores.

 

Agora nós estamos com um prefeito que está dando apoio. Nós temos apoio do governo do estado, inclusive com a Bahiatur, que é uma estrutura de turismo única no Brasil, uma das melhores. Ela tem observado no naturismo um perfil muito apropriado ao turismo. Então, temos aí. O apoio realmente está sendo dado. De agora em diante, o trabalho de Massarandupió é sempre crescer mais.

 

ON: Há algum tempo, houve uma notícia na imprensa que o Grupo Gay da Bahia processou a praia de Massarandupió ou a Associação, porque homossexuais teriam sido impedidos de entrar na praia. A questão era, a mesma que há em várias praias, a de que não pode entrar homem solteiro ou desacompanhado de mulher. Os gays masculinos são os mais prejudicados com essa norma porque geralmente fazem casal entre si. O que aconteceu nessa época ?

 

RC: Houve na administração passada, uma certa desorganização no sentido de quem estava designado a falar pela praia. Não haviam pessoas destinadas a cada setor da associação para se responsabilizar por isso. Então várias pessoas falavam.

 

Um dos bares em funcionamento em Massarandupió, em antiga foto

Infelizmente foi uma inabilidade de uma das pessoas que recebeu o casal gay que estava indo à praia. Colocou demasiadamente , de uma forma até preconceituosa, que eles não poderiam ficar na praia, enfim.

 

Em virtude disso o Grupo Gay da Bahia, o GGB, extremamente organizado, cujo presidente na época era o Luiz Mott a nível nacional inclusive, tomou aquele incidente com uma direção de luta em si. E a imprensa, pelo seu lado comercial de vender jornais, viu na luta essa chance. Isso, então, tomou proporções muito maiores do que realmente foi.

 

Existiu e existe a ação contra a praia, que foi regularizada numa primeira instância de acordo. E eles passaram a frequentar a praia.

 

Na medida em que nós abrimos para que eles frenquentassem a praia, isso ocorreu uma o duas vezes. depois eles pararam até de utilizar seu direito. A separação é uma coisa extremamente natural. Os casais ficam normalmente separados e eles também, mas por uma questão ocasional. Não existe nenhuma lei ou nenhum espaço determinado para isso.

 

ON: E quanto aos homens solteiros que não são homossexuais ?

 

RC: Nós temos hoje um controle sobre isso, porque eles podem alegar inclusive que são gays e o direito de ir e vir dentro da Lei. O que nós observamos, na realidade, é exatamente o comportamento das pessoas. O do homem solteiro, assim como o dos casais. Se, por exemplo, algum casal tiver um comportamento inadequado, nós chamamamos a atenção.

 

O homem solteiro quando vai, acaba ficando deslocado, porque ele vai ver que não é nada disso. É uma coisa de família. Vai estar a mulher, o marido, os filhos. Então se ele vai solteiro, ele vai com outra intenção. E se ele vai com outra intenção, vai verificar que ali é um lugar de família. Então fica deslocado e vai embora. E não aparece mais. Então essa parte da restrição ela se faz naturalmente.

 

foto: Internet

O Grupo Gay da Bahia protestou por ter sido um casal gay impedido de entrar na praia.

Leia a matéria publicada no OLHO NU sobre esse incidente em janeiro de 2004

ON: Então vocês não impedem um homem solteiro de entrar. O que essa nova diretoria, eleita há duas semanas, pretende fazer para incrementar o naturismo e Massarandupió ?

 

RC: Primeiramente nós vamos fazer uma sistemática e um resgate do que já temos. Nós temos um número muito grande de pessoas que vão à praia, mas desordenadamente. Ou seja, essas pessoas não são cadastradas. Não temos como fazer nenhum noticiário a eles, de algum evento, de alguma coisa.

 

Em primeira mão, o primeiro trabalho da diretoria vai ser o de identificar os frequentadores de verdade, com e-mail, com coisas com que a gente possa a partir daí trabalhar eventos e diversas situações e aumentar significativamente na praia o número de evntos em datas especiais. E aí começa o ordenamento dessa vinda das pessoas à praia. É o nosso plano imediato.

 

Prá frente nós temos alguns planos futuros e alguns projetos, inclusive buscando patrocínios com empresas como a de protetor solar, como um mercado direcionado aos naturistas.

 

ON: Existe um projeto , que está ainda em andamento, que é fazer um loteamento para a área de Massarandupió totalmente naturista ?

 

RC: Natuville. Isso é ainda um projeto. O terreno já é próprio, foi adquirido. Mas nào é um projeto da associação, que o estará apoiando, no entanto. é um projeto particular. E em cima disso a idéia é criar uma vila naturista, bem próxima, de bom gosto, bem trabalhada. Acredito que terá um retorno turístico muito forte.

 

 

A diretoria da ABANAT é composta pelo Presidente: Adelmo, Vice-presidente: Marcos;  Consultor Jurídico: Roberto e 1º secretário: Diego.

 

Para chegar em Massarandupió deve-se pegar a Linha Verde, na Bahia, e entrar entre as praias de Subaúma e Porto de Sauípe. Maiores informações na página Bahia -Destinos.

 

Jornal Olho nu - edição N°62 - novembro de 2005 - Ano VI


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