O índio de Tambaba
entrevista a Pedro Ribeiro*
Julíndio Macuxi, mais conhecido apenas como Julíndio, é uma personagem de destaque dentro da praia de Tambaba. Não só por sua figura diferente, cabocla, por estar constantemente coberta com pinturas de inspiração indígena. Membro da diretoria da SONATA é muito atuante para que a praia tenha funcionamento de acordo com a ética naturista. É integrante do grupo NU (Naturistas Unidos), criado em João Pessoa, que tem por objetivo desenvolver o naturismo na capital paraibana. Concedeu esta entrevista no ambiente mágico de Tambaba.
Toda vez que passa uma boa temporada dentro da praia mora na sua barraca de camping, estrategicamente colocada sobre uma das colinas. Frequentador há sete anos.
OLHO NU: Como foi sua descoberta de Tambaba ?
Julíndio: Eu já tinha ouvido falar em Tambaba muito, mas não havia tido a oportunidade de vir. Mas como eu trabalho com turismo ecológico, vim fazer uma caminhada de Pitimbu, que é um município vizinho, até aqui o Conde. No meio da caminhada estava Tambaba. Fazia parte do grupo além de mim, minha esposa e um amigo. Na hora em que deparamos com Tambaba começou aquele drama... Nós viemos pelo outro lado, pelo lado das falésias. Na época não havia segurança na "fronteira". Mas nós tínhamos a noção que não devíamos passar de roupa. Como minha esposa estava diante desse meu amigo e meu amigo diante de minha esposa, acabou rolando um certo constrangimento, uma vergonha. Aí eu falei que por mim tudo bem. A gente tirou a roupa e entrou. Desde então a gente contraiu o tambavírus. E depois que se contrai o tambavírus não se consegue sair daqui mais.
ON: Você hoje é membro da diretoria da SONATA (Sociedade Naturista de Tambaba) ?
JM: Depois de vir todo final de semana, acabaram me convidando para fazer parte da SONATA. Fiquei na portaria um tempo e hoje sou diretor de esportes.
ON: Você é casado atualmente ?
JM: Estou separado há um ano. Mas estou doido para voltar com ela. Nós estamos separados por questões profissionais, eu diria. Ela teve que ir para Brasília. Tenho um filho, que mora em São Paulo.
ON: A que se deve seu nome Julíndio ?
JM: É uma mistura de Julinho com índio, que passou a ser meu apelido, porque aqui em Tambaba passo quase sempre pintado pelas areias coloridas da praia. E lá onde moro as pessoas me chamam de índio. Eu tenho realmente uma ascendência indígena, dos índios goitacazes e dos macuxis.
ON: Onde você nasceu ?
JM: Nasci em Belém do Pará. Depois morei em Brasília durante muitos anos. Depois fui para Piracicaba, interior paulista, morei um tempo no Goiás e só depois é que vim para a Paraíba.
ON: Como você enxerga a praia de Tambaba?
JM: Bem, não precisa dizer que sou um apaixonado. E acho que minha opinião vai ficar prejudicada, porque sou bairrista. Até porque eu não conheço outra praia naturista. E pelas fotos que vejo, não consigo ver nada mais bonito do que Tambaba. Outras praias mais bonitas até, eu conheci em Fernando de Noronha, mas não são naturistas.
Aqui ela agrega tudo que há em outras praias em uma praia só. Ela tem falésias, coqueirais, piscinas naturais, mar aberto, uma faixa de areia muito extensa, e ao contar tudo isso adicona-se a nudez. Então, para quem gosta é a praia perfeita. É o verdadeiro paraíso na Terra.
ON: Você como diretor da SONATA, pode falar um pouco sobre uma coisa que causou uma certa má impressão, que é o fato de haver muita gente vestida, as pessoas que prestam serviço aqui dentro.
JM: É. Isto é um fator complicador. São as pessoas que trabalham no bar aqui dentro. Estas pessoas não são naturistas como nós gostaríamos que fossem. Se o bar fosse meu, por exemplo, as bebidas que chegam seriam recolhidas lá fora, pelos funcionários que ficariam nus aqui dentro. Então não precisaria dos fornecedores entrarem. No momento, há uma autorização para que eles entrem na praia e acabam ficando perambulando aqui dentro totalmente vestidos. Nós naturistas realmente não nos sentimos à vontade com a presença deles.
Nem mesmo em relação aos policiais, que trabalham de roupa. Às vezes chega um batalhão de quatro ou cinco que circulam aqui dentro. Isto não nos deixa à vontade. Nós precisamos deles é nas extremidades e não aqui dentro. Aqui dentro nós mesmos cuidamos. Até mesmo porque Tambaba é praticamente frequentada pelas mesmas pessoas. Todo mundo se conhece, se cuida, se respeita. É uma praia que é quase um clube.
ON: A respeito dos garçons, conversei com eles, e alegaram que foi a vigilância sanitária que exigiu que trabalhassem ao menos de sunga. Mas quanto ao segurança ? Há um que circula pela praia totalmente vestido.
JM: A Vigilância sanitária realmente implicou. Creio que tenha havido um certo preconceito do órgão, pois não houve questionamento sobre os pelos, como o cabelo, o suor, já que trabalham sem boné e sem camisa. Quanto ao segurança, realmente não precisaria usar roupas. Mas como a maioria dos seguranças é policial, que trabalha aqui nas horas vagas, e não são naturistas, a gente acaba tendo que aceitar também esta irregularidade.
ON: É comentado por aqui que você mora mesmo em uma oca. É verdade ?
JM: Bem, a história é a seguinte. Nós somos dezesseis pessoas que procuravam uma terra para comprar. Encontramos um sítio grande. Parte desse sítio a gente loteou e parte é área de preservação ambiental, com várias nascentes, riachozinho, uma mata nativa, banho de argila, e uma área naturista. É a segunda área naturista da Paraíba. Embora seja uma área particular, não divulgo muito porque é mais de preservação ambiental.
E lá eu fiz a minha oca, usando material reciclado como garrafa, madeira, restos de jarros e barro quebrado. O que eu achava na rua ia guardando e de repente montei uma quebra cabeça e fiz a oca. É uma casinha de um andar. Eu durmo em cima e em baixo é uma salinha.
ON: Onde está localizado ?
JM: fica aqui no Gurugi. É um antigo Quilombola, a quatorze quilômetros de Tambaba. Ainda dentro do município do Conde. Na verdade, Conde tem duas áreas naturistas. Tambaba e esta, que é particular.
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