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NATURALMENTE # 13


por Paulo Pereira*
 

foto: revista Época

Índios Zoé

Mais um ano termina. A caminhada naturista tem sido longa, determinada e prazerosa. Na nossa limitada concepção do tempo, perdemos quase sempre o entendimento do que seja a perenidade, ignorando os ciclos vitais e as energias atemporais. Há cada vez mais informação, mas o conhecimento real é frequentemente pobre, sobretudo o auto-conhecimento. Falta certamente um pouco mais de estudo e de meditação.

 

Na pressa louca das grandes cidades, os pormenores preciosos são perdidos. Recordo, de passagem , um velho conhecido meu, o médico Hermínio Macedo. Eu era um pré-adolescente e lembro, então, o jovem Hermínio, sempre ligado, brilhante, entusiasmado pela pesquisa científica da época, interessado pelas forças da mãe natureza, colaborador assíduo da famosa revista “Saúde e Nudismo”, na década de 50 (52/53). Rendo a ele, aqui e agora, minha singela homenagem. Recordemos suas palavras : _ “Vivemos numa época de completa inversão de valores, em que o homem é medido não pelo seu talento, não pela sua cultura ou profundidade de conhecimentos, mas sim pela conta no banco... O conhecimento de nós mesmos, do nosso mais profundo íntimo, já se verificou que é uma grande necessidade. Mas o estudo de nossa vida sexual engatinha...Tabus e preconceitos durante muito tempo impediram que a parte talvez mais importante de nosso ego, nossa vida sexual, fosse bem considerada, sendo relegada a um plano inferior, pois era assunto dito imoral.” Em grande parte, os problemas de 1952 persistem ainda agora, no início do século 21. Isso é uma vergonha! No meu livro Corpos Nus, Verdade natural 2006, analiso sumariamente a questão da nudez vista como problema. Infelizmente, nudez e sexo ainda são tabus pra milhões de hipócritas e sofredores. É preciso, pois, estar muito atento para essa complexa questão, especialmente quando se enfoca a vida naturista.

 

Teremos no próximo ano, 2008, a realização do Congresso Internacional de Naturismo ( INF), em Tambaba, Paraíba, fato que constitui um marco histórico de destaque na atual quarta etapa do Naturismo Brasileiro, o que nos convoca, a todos, a pensar as bases e fundamentos do chamado Movimento Naturista. Recordemos que o Naturismo Oficial, proclamado pela INF, não acata jamais dogmas ou preconceitos. Na boa prática nudista, devemos valorizar, mais do que nunca, o íntimo contato com a natureza, bem longe dos problemas de cor, raça, credo, posição social ou opção sexual, por exemplo. Ser bom naturista é ser naturalmente fraterno e consciente. As questões de convivência do homem, preferencialmente com o meio ambiente, e com o diferente, estão postas em evidência. É mister ter em conta que o amanhã só pode ser bem pensado quando vivemos autenticamente o hoje. Continuo acreditando na boa informação e enfatizando o bom conhecimento, a boa leitura, o diálogo franco e respeitoso, além de uma prática nudista espontânea e adequada aos fundamentos consagrados.

 

Apesar do proclamado progresso, o nu ainda pode causar espantos...Leio, em “Brasil Naturista n° 3”, algumas palavras muito interessantes de Francesco Giordano. Vejamos o que ele diz :_ ‘Na Itália, o Naturismo sempre foi muito hostilizado pela Igreja Católica. Aqui temos o Papa e também os partidos políticos, que sempre vão fazendo as leis de acordo com os desejos da Igreja. Por exemplo, lembro, de quando era criança, que a polícia invadia a praia com uma fita métrica, para medir os biquínis das mulheres...O Naturismo cresceu se escondendo em algumas praias desertas e poucos clubes privados. Hoje, esta situação ainda não foi muito alterada. Temos apenas duas praias oficiais.” Creio que a entrevista de Giordano serve, sobretudo, para um boa reflexão, especialmente se levarmos em conta a forte presença das Igrejas (Católica e Protestante) no Brasil. Essa história de puritanismo enfermo eu conheço bem, desde os tempos de Luz Del Fuego...Nudez e sexo ainda têm aspectos considerados demoníacos ou pecaminosos. A ignorância é nossa! É bom observar atentamente o que se coloca nas linhas e entrelinhas da mídia, notadamente quando se enfoca declarações de políticos, religiosos ou pessoas simples das ruas. Para a imensa turba de crentes e de fanáticos, a nudez é tida como desprezível, impura, imoral, animalesca e atentatória. Essa gente toda, infeliz e mal informada, pensa que o ser humano é um anjo. O corpo seria, por acaso, antítese do espírito? Os fanáticos puritanos certamente esquecem que todos os homens nascem nus,seguindo os ditames da natureza, que nunca pede julgamentos, que não se curva jamais perante os falsos sábios moralistas. O proclamado Papa também nasceu nu, pequeno e tornou-se homem adulto e, como tal, conhece muito bem suas necessidades fisiológicas, pois come, dorme, urina, defeca, e provavelmente ainda tem ereções...O ser humano, mesmo coroado, não é um anjo assexuado; é um primata, o que, de resto, não arrepia de forma alguma a existência da consciência, do raciocínio lógico, da boa linguagem articulada ou do chamado “self” ou espírito imortal. A matéria, muitos afirmam, é energia concentrada; o nosso corpo físico é nossa identidade na Terra, nossa “cara” natural, nossa verdade biológica incontestável, nossa verdade natural!

 

Ignorar, pois, a verdade natural não me parece sinal de sabedoria. Lembro agora que a canção popular diz, com propriedade, que “quem quer ser muito perfeito, certamente encontrou um jeito insosso de não ser de carne e osso”...

 

Na esperança de mais verdade e bom senso, com menos nivelamento por baixo (vide populismo barato) o meu voto a todos de um Feliz Ano Novo.
 

*Biólogo, escritor, ex-presidente da Rio-NAT

indiangy99@yahoo.co.uk

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Jornal Olho nu - edição N°85 - dezembro de 2007 - Ano VIII


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