A Trilogia
do Nudismo de William Welby (parte 1)
"Naked and Unsashamed"
Jorge Bandeira*
vicaflag@hotmail.com
Carta de São Paulo para Tito: “Dentro da pureza todas as coisas são
puras”.
Algumas obras sobre o Nudismo podem ser encontradas ao longo de sua
trajetória, percalços, lutas e conquistas, contribuindo desta forma para
divulgação deste ideal e filosofia de vida. Algumas são inexplicavelmente
esquecidas ou negligenciadas, caso especifico da “Trilogia do Nudismo”, de
William Welby, sob a qual repousa um silêncio severo, sem precedentes na
historiografia do Naturismo. Este texto busca, na medida de suas
limitações, sanar esta lacuna e resgatar a memória de Welby e sua
brilhante contribuição para a causa naturista.
As informações sobre William Welby são escassas, e por isso vamos nos
deter sobre a sua magnífica obra, composta de três livros que têm como
tema principal o Nudismo e que começaram a ser publicados em 1934, com
sucessivas edições até 1950 pela editora de Londres Thorsons Publishers,
todos os livros são ilustrados com belas fotografias, a maioria de autoria
do fotógrafo Walter Bird. Infelizmente nenhuma das obras de Welby foi
traduzida ou divulgada no Brasil (não sei da situação editorial em
Portugal!). O primeiro deles chama-se “Naked and Unashamed”, algo como “Nu
e sem vergonha”, com um subtítulo sugestivo: o nudismo através de seis
pontos de vista.
Nesta primeira parte de sua trilogia Welby descreve com muita propriedade
sobre o ponto de vista histórico e moral do nudismo, o ponto de vista da
saúde e psicológico, além da questão estética e ética do nudismo e o seu
contraponto, analisando o nudismo a partir do senso comum. Welby é um
escritor claro e conciso. Sua defesa do Nudismo é embasada em sua
experiência como profissional da área de saúde, além de ser, ele e sua
família, freqüentadores assíduos de clubes e campos de nudismo (as
populares colônias de nudismo), naquela época muito em voga nos arredores
de Londres.
Um dado importante para destacarmos é a preocupação de Welby em fazer uma
divulgação do nudismo inseparável do elemento da natureza, recheando as
páginas de sua obra com belas imagens de corpos nus em comunhão com o Meio
Ambiente, exibindo assim uma noção essencial do Naturismo e seu vínculo
com a preservação ambiental. A alegria de viver dentro de um local
naturista é outro ponto forte da obra, onde em suas páginas são variados
os momentos de descontração dos freqüentadores dos clubes Lótus e New
Forest (Nova Floresta), que interagem pelos jogos de bola e banhos
coletivos em pequenos riachos. As fotos são de uma beleza estonteante, não
são instantâneos apelativos, são frutos de um artista realmente integrado
com a definição clássica do Naturismo. Os banhos de Sol merecem um
destaque especial neste livro, sendo uma terapia bastante difundida no
começo do século XX.
Segundo Welby, na parte que trata do ponto de vista histórico do nudismo
“a civilização progride, porém por meios complicados, onde a roupa ganha
uma importância exagerada”, segundo sua visão. A perda da simplicidade de
viver leva o ser humano a situações de extremo risco e tensões, diminuindo
assim a auto-estima de muitos. As roupas seriam as responsáveis diretas
por uma visão equivocada de conforto e bem estar neste mundo cada vez mais
insensível e competitivo. Neste ponto o autor destaca a vida inglesa
dentro dos moldes vitorianos, com a realeza e sua ostentação de luxo e
vestimentas espetaculares como causadoras desta falsa visão de que “as
roupas transformam o ser e os que os rodeiam”.
Na parte dedicada ao ponto de vista moral Welby detalha com muita
propriedade a importância dos exercícios em grupo ao natural, onde podemos
ver uma foto de 40 nudistas praticando ginástica ao ar livre. No capítulo
que trata do ponto de vista da saúde Welby relata os benefícios
incontestáveis da foto-terapia e das secreções das glândulas hormonais que
são estimuladas de maneira salutar pela prática do nudismo, além de
destacar os resultados comparativos para o corpo e a mente, com uma
reflexão sobre a nova vertente da Psicanálise, a quem o prolífico escritor
dedica mais um capítulo. Para Welby muitos dos complexos psicológicos
poderiam ser facilmente tratados com a ajuda da nudez coletiva, do
Naturismo, termo que poucas vezes utiliza na sua trilogia, preferindo
Nudismo, até então de maior amplitude na ciência e na imprensa. Os
sintomas de baixa estima de algumas pessoas, segundo Welby, são
conseqüências da não aceitação de seu corpo e de seu valor como ser
humano, e isso seria facilmente banido da vida dos que recebessem os
valores propagados nas áreas de nudismo, onde todos os corpos e mentes são
respeitados dentro de suas individualidades.
No penúltimo capítulo, Welby disserta sobre o ponto de vista da estética e
suas implicações no nudismo. A criação dos “corpos perfeitos” para este
autor é uma idéia que terá um suporte preciso: a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918). As curvas femininas terão um papel importante em jornais e
filmes da crescente indústria cinematográfica. Seria uma espécie de
retomada da concepção greco-romana, porém com um claro propósito de vender
uma idéia e atrair não só os brios dos jovens soldados que seriam
inapelavelmente “contaminados” por esta visão dos corpos em profusão, e
que faria das mulheres escravas desta perfeição, aliás, jamais alcançada
por mortal algum.
Prossegue Welby com sua reflexão, chegando até a Segunda Guerra Mundial
(ele revisava e ampliava a cada nova edição os seus escritos!), destacando
o papel das “pin-ups”, que ele considera como “robôs feitos de carne
humana”, tal a artificialidade daqueles corpos e de seus propósitos
consumistas. Como conclusão desta importante obra de 90 páginas, William
Welby analisa que existe uma conversão de valores que foi perpetrado para
aqueles que optaram pelo nudismo em suas vidas, uma conversão obsoleta,
que considera os nudistas como pessoas imorais e decadentes. Welby rechaça
veementemente este tipo de observação. Para ele, o melhor seria
considerarmos o nudismo como um movimento, como outro qualquer, possuidor
de suas peculiaridades e praticado por pessoas inteligentes, íntegras,
respeitáveis, e que, como um movimento de grupo, estaria também sujeito a
todos os problemas de qualquer associação dentro de uma estrutura social.
Welby aprofunda suas teses prepositivas sobre o nudismo nos outros volumes
da trilogia, “The Naked Truth About Nudism” (A Verdade Nua Sobre o
Nudismo) e “It’s Only Natural: the philosophy of nudism”(Isto é Somente o
Natural: a filosofia do nudismo), obras que ajudaram a consolidar o
nudismo como um movimento importante no século XX, das quais abordaremos
nos artigos vindouros.
*Jorge Bandeira é historiador e dramaturgo, naturista do Graúna - Am.
Manaus, 30 de novembro de 2007.
(enviado em 22/01/08)
(fotos meramente
ilustrativas)
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