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Jornal Olho nu - edição N°91 - junho de 2008 - Ano VIII |
NATURALMENTE # 15
(fotos meramente
ilustrativas) Dedico-me um pouco à leitura serena de alguns textos, ao regressar de mais uma visita prazerosa à minha velha conhecida praia do Grumari (Abricó), onde costumo ir pelo menos desde 1964. Talvez para desespero de alguns pseudo-gurus, eu não caí de pára-quedas no Naturismo; eu venho realmente de longe... Tenho sempre procurado ser realmente simples, verdadeiro e até humilde como a Mãe Natureza sempre nos ensina. Minha nudez busca igualar, se possível em dignidade e espontaneidade, a do Tuxaua das matas virgens e da negra pantera esquiva. Sinto-me irmão de Aimberê e de Cunhambebe!...Por incrível que pareça, a minha antiguidade comprovada e a minha simplicidade nua costumam ocasionalmente incomodar alguns bons moços, sobretudo os ditos bem vestidos e os tragicômicos mal despidos. O importante é que sempre consigo ver a minha Grumari plena de luz e beleza,indiferente aos palpites tolos e às idiossincrasias dos humanos, que costumam julgar a tudo e a todos, como seres superiores. Mas a natureza, repito sempre sem cansar, não pede julgamentos!
Confesso até que fico meio entristecido diante de alguns modismos e casuísmos, para não dizer a palavra “oportunismos”, que, como sutil alergeno, causa pruridos incontidos. O velho dramaturgo Nelson Rodrigues (a nudez será sempre castigada) teria dito que a unanimidade é burra, mas há com certeza muitas controvérsias. O fato lamentável é que há um bando de ilustres indivíduos que procuram causar frequentemente algumas polêmicas vazias. São o que poderíamos chamar de pessoas-luas, ou pessoas que vivem no dito mundo da lua, sem efetivamente ter luz própria. Tais infelizes costumam ser os arautos evidentes dos inúmeros modismos e casuísmos, que costumam nos afligir a todos, especialmente neste nosso rico e grande país dos jeitinhos e das impunidades... O que seriam, então, esses mencionados casuísmos? Diz o meio esquecido dicionário, impropriamente chamado de pai dos burros que casuísmo é, inclusive, um argumento enganoso fundado em caso particular e não em princípio geral. A definição parece clara e se faz preciosa. Percebo nitidamente, em palavras escritas ou faladas, que alguns isolados espertinhos costumam usar, muitas vezes sofismando na tentativa de justificar suas manias, seus gostos, suas vaidades mal contidas e seus muitos disparates, uma série de equívocos. Mas isso, infelizmente, não é nenhum privilégio da sociedade majoritária, valendo igualmente para o nosso diversificado convívio nudista-naturista, particularmente no Brasil. Discute-se, de forma até cansativa e nauseante a famosa questão da “nudez opcional” e da “nudez obrigatória”... Dizer o quê? A nudez, pelas barbas do profeta, é apenas, e tão somente, natural! A nudez, repito, já foi chamada, com alguma razão, de nossa veste de nascença; ela,nudez, é nossa identidade física, nossa “cara” no mundo. Natural, vale recordar, vem do latim “naturale”, quer dizer: proveniente da natureza, espontâneo, que não foi criado diretamente pelo homem. Até falo disso no meu livro “Corpos Nus Verdade Natural”. O Nudismo Social Moderno, por exemplo, prestigia, desde suas origens no início do século XX, aquilo que normalmente entendemos por natural, vindo da natureza, despido de artifícios e preconceitos.
Percebe-se, pois, uma forte incoerência, e até mesmo uma heresia, quando alguns pseudo-sábios teimam em falar da tal nudez opcional. Os badalados casuístas costumam perder horas discutindo o sexo dos anjos, muitas vezes absorvendo disparates e novidades vindos de alguns deslumbrados. Tenho presenciado, na praia do Abricó inclusive, onde os amigos da A.N.A. procuram, impor ,não sem razões, a chamada obrigatoriedade da nudez total, vários exemplos deploráveis de semi-nudez oportunista, especialmente através da prática esdrúxula do festejado “bottom-less”, isto é, nudez somente da cintura para baixo. Isso é uma vergonha! Pergunto, meio perplexo: como podemos exigir a nudez total, até como pré-condição de entrada na praia do Abricó, e, ao mesmo tempo, fechar eventualmente os olhos para a tal prática descabida da semi-nudez? O Naturismo, de fato, sempre se afirmou pelos bons exemplos e pela simplicidade, muito longe dos modismos. Naturismo, eu tenho dito, não é oba-oba despido! Não podemos de forma alguma tolerar casuísmos nem dar ouvidos a alguns papagaios-de-pirata, especialistas em generalidades...
Naturismo não é nem nunca foi modismo. Oportunistas, sim senhor, são todos aqueles que fazem da prática nudista um mero pretexto. E esses oportunistas, registremos lucidamente, costumam ocorrer, de longa data, em todas as latitudes, do Brasil e do mundo. Os mencionados casuístas são seres generosos, pois englobam vários tipos, subtipos e matizes. Afinal, pensam eles, ciência e história para quê? O que vale para esses oportunistas é a velha curtição, os holofotes da evidência fácil e, se possível, muitos lucros. O que mais compromete a boa prática nudista não é só, nem principalmente, a eventual presença de algumas pessoas vestidas, mas muito mais o concreto mau exemplo de pseudo-naturistas.
É bom não esquecer que a nudez humana é, sobretudo, natural, pois todos nós nascemos nus. Como afirma o amigo Jorge Bandeira, em “Brasil Naturista” Nº 5 , os fundamentos do nudismo são a saúde e a alegria de viver, a liberdade sem interferir na liberdade alheia. Mas liberdade, acrescento eu aqui, pressupõe responsabilidade, quer dizer: respeito, sobretudo pelo outro, até pelo diferente, com muito equilíbrio. Sem rigorosa obediência aos princípios e fundamentos histórico-filosóficos do Naturismo, estaríamos criando meras invencionices sem estrutura, numa efetiva ameaça ao futuro do que entendemos oficialmente como Movimento Nudista-Naturista, segundo o estabelecido pela Federação Naturista Internacional.
Tomemos nota disso: antes de pedir ou de cobrar, é indispensável conhecer e dar o bom exemplo. Praticar o bottom-less ou top-less, ou colocar a bunda na janela, são meros transbordamentos. Mais do que nunca, é chegada a hora de somar sem enganar.
Paulo Pereira
Junho de 2008. *Biólogo, escritor, ex-presidente da Rio-NAT |
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