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Jornal Olho nu - edição N°93 - agosto de 2008 - Ano IX |
O SHOWBIZZ
E A NUDEZ INFANTIL por Fellipe Barroso* Na edição nº 92 do Jornal Olho Nu foi apresentada a primeira parte desta reflexão sobre o uso da nudez infantil no showbizz. Partindo da censura a uma foto para a Revista Vanity Fair que Annie Leibovitz fez de Miley Cyrus (Estrela do Seriado Hannah Montana, da Disney), procurou-se mostrar que no meio musical outros fatos semelhantes e mais polêmicos já haviam acontecido. Comparando os exemplos apresentados, desde o final da década de 1960 até quase a atualidade, pode-se pensar um pouco sobre o que se considerar artístico, ou a lamentável pornografia infantil. Nesta segunda etapa, a nossa viagem vai percorrer o mundo da fotografia, com algumas pinceladas de cinema. É claro que este tipo de campo é muito rico, porém fez-se uma seleção de alguns casos mais conhecidos pelo mundo, principalmente por não serem tão antigos, e outros que dizem respeito ao Brasil. Comecemos então em maio deste ano, quando foi inaugurada a exposição “Controvérsias - Uma História Ética e Jurídica da Fotografia”, no Musée de l’Elysée (Museu do Eliseu) de Lausanne, Suíça, a qual reuniu aquelas que foram consideradas as 80 fotografias mais polêmicas da história. Durante um mês o público visitante do museu pôde conferir as imagens de casos que tiveram sérios problemas com órgãos de justiça, religiosos, e até a própria sociedade. Uma das fotos em questão, de autoria de Gary Gross, chamava-se “uma mulher num corpo de menina”, em que mostrava uma desconhecida Brooke Shields, no alto de seus 10 anos de idade, nua (E carregadamente maquiada) ao lado de uma banheira. Brooke protagonizaria outros escândalos enquanto pequena, atuando em situações fortes, como prostituição infantil (Pretty Baby, 1978) ou ser encontrada sem as roupas no banco traseiro de um carro (“Just you and me, Kid” – 1979). Mas foi na pele da jovem Emmeline, em “A Lagoa Azul” (1980) que ela despontou para o estrelato, seja pelo encantamento de uns, como pelo repúdio de outros. Este último filme conta a história de duas crianças, Richard (Christopher Atkins, na época com 18 anos) e Emmeline (Shields, com 15 anos) que perdem a família num naufrágio, e passam a viver sozinhas numa ilha deserta do Oceano Pacífico. Eles crescem, e acabam por descobrir uma vida sem maldades, principalmente no lado amoroso. Sozinhos, vivem seus cotidianos quase como (e muitas vezes exatamente como) vieram ao mundo, o que, somado ao espetáculo visual proporcionado pelas belezas naturais do cenário, arrancou a emoção de muitos espectadores. Por outro lado, houve quem considerasse tais cenas de nudez parcial ou completa como exploração da imagem da atriz. Voltando ao Musée de l’Elysée e à exposição “Controvérsias...”, outro item que compõe o apanhado da mostra tem a assinatura de Jock Sturges, fotógrafo conhecido por seu trabalho com jovens garotas nuas. Muitos críticos, por este motivo, acusam-no de pornografia, mas ele detém o apoio de diversas comunidades artísticas e naturistas. Robert Mapplethorpe é outro artista que sofre as mesmas acusações. Mais conhecido pelas suas fotos de sadomasoquismo homossexual, também explorou (até mais do que Sturges) o nu infantil, tentando mostrar em seu trabalho uma visão purista do corpo humano. Morto em 1989, aos 42 anos, por causa da AIDS, teve parte de seu trabalho cassado, proibido, e retirado das bibliotecas e centros culturais. Mais recentemente, em 2001, Violeta Gómez planejou uma exposição no Museo de Siyasa, em Cieza, Espanha, cujo nome era “Alice in Loveland”, inspirada na obra de Lewis Carroll (Autor de “Alice no país das maravilhas”). Tudo consistia numa série de fotografias de meninas, entre 7 e 10 anos de idade, nuas. Os responsáveis pelas crianças, bem como as autoridades pertinentes haviam sido avisadas previamente, até mesmo para possibilitar a realização das fotos. Depois de vinte dias, no entanto, a mostra foi fechada e as obras confiscadas. Todo o restante do material de Violeta, como negativos, pinturas, fitas de vídeo e slides, também foi apreendido pela polícia mais tarde. Com o encerramento do caso em 2004, a artista recebeu suas coisas de volta. Infelizmente parte das obras que compunham a exposição, bem como outros itens do resto de seu acervo, sumiram. Por falar em Lewis Carroll, o matemático e escritor inglês, autor de uma das maiores obras da literatura infantil, também conservava uma paixão por fotografia e pintura usando meninas como modelos. Uma de suas frases mais famosas (e polêmicas) exemplifica o hobbie: “Gosto de crianças (exceto meninos)". De fato, selar uma amizade com alguma jovem garota era sempre um dia aclamado em seus escritos. Ao mesmo tempo, se tivesse oportunidade, pintava-as ou as retratava nuas, sempre com o conhecimento de seus pais. Antes de morrer, pediu que as obras fossem destruídas de maneira a evitar problemas para as jovens que posaram. Mesmo assim, alguns trabalhos “sobreviveram”, e podem ser encontrados até na Internet. O Brasil não poderia ficar de fora destas questões! Um caso em especial chama bastante atenção, e veio à tona em 1994, quando a Revista Veja do dia 19 de outubro daquele ano publicou fotos da apresentadora Angélica, aos 9 anos de idade, correndo muito à vontade pela areias da Praia do Éden, no Guarujá, litoral paulista. Projeto do fotógrafo Sérgio Duarte, as fotos, clicadas em um dia, comporiam um livro inspirado no filme “A lagoa azul” (Sim, o mesmo já citado anteriormente!). Na época, Angélica era apenas uma modelo mirim. Por falta de patrocínio, o livro nunca chegou a ser publicado. Em 1994, o material vazou pela imprensa. Como a protagonista da história já era famosa, o clima de polêmica se instalou. Sérgio autorizou a matéria na Veja, com o intuito de justificar o caráter não-erótico das fotos, opinião esta compartilhada pela própria Angélica: “Quem nunca viu uma criança de 9 anos nua, brincando na praia?”, perguntou a loura em trecho da reportagem. Ainda assim, as acusações sobre o possível conteúdo erótico do material recaíram não apenas sobre o fotógrafo, mas também sobre a apresentadora e seus pais, que permitiram o feito. Um pouco antes desta reportagem de Veja, entretanto, em 1991, outro fotógrafo brasileiro, Fabio Cabral, lançava o livro “Anjos Proibidos”, que trazia meninas entre 10 e 17 anos, semi-nuas, em poses sensuais. Censurado no país, o título foi editado no exterior, e pode ser comprado pela Internet ao custo de 160,00 dólares! Caro, e mesmo com as fotos são declaradamente eróticas, continua à venda... Falando em livros, o inglês David Hamilton lançou alguns que continham várias séries de adolescentes nuas e semi-nuas. A granulação e as cores suaves, predominantes em suas obras, ficaram marcadas como um estilo que passou a ser denominado hamiltoniano. Talvez por esta leveza, seu trabalho continua “legalizado”, e seus livros podem ser encontrados em muitas livrarias no país. Voltando aos dias atuais, outra exposição teve problemas ao mostrar nus infantis, conforme mostrado na edição nº 92 do Jornal Olho Nu. Proibido de expor suas fotografias no próprio país, o australiano Bill Henson, autor das obras expostas, recebeu o apoio de muitos artistas famosos, dentre os quais a atriz Kate Blanchet. Felizmente, no dia 6 de junho, por decisão da justiça local, a mostra foi reaberta. Na terceira e última parte desta “história”, é hora de colocar os pesos na balança. O que, afinal de contas, está certo ou errado nisso tudo? O que é a pedofilia? Por que hoje em dia ela é tão freqüente? Como diferentes segmentos da sociedade pelo mundo encaram a nudez infantil nestes tempos de exacerbada exploração sexual de menores (auxiliada pela grande rede mundial de computadores)? Fiquem com mais estas questões para pensar e refletir. Até o próximo mês! Para saber mais: - Vídeo do filme “A lagoa Azul”: http://www.weshow.com/br/p/26193/a_lagoa_azul_ingl
- Robert Mapplethorpe no Museu (Guggenhein): http://www.guggenheimcollection.org/site/artist_work_md_97A_5.html
(enviado em 4/08/08) |