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Jornal Olho nu - edição N°94 - setembro de 2008 - Ano IX

Polêmica posta a nu

Fotos de Nuno Ferreira

Fonte: Jornal do Centro

Obs.: Texto grafado como no original

 


Há sete anos a população de Travanca de Lagos acordou alvoraçada: ia andar gente toda nua a passear e a mergulhar numa piscina numa encosta de Andorinha. Hoje quase ninguém pensa assim

Há seis anos, os 1450 habitantes de Travanca de Lagos acordaram para uma realidade inédita no País: um parque de campismo para naturistas. A polêmica estava instalada desde 2001, quando um casal de holandeses escolheu uma encosta próximo da aldeia de Andorinha para construir a infra-estrutura. Hoje, quase todos se habituaram à ideia e aceitam que o projecto contribui para valorizar o concelho de Oliveira do Hospital.

As polémicas e as questões burocráticas atrasaram um ano a abertura do Parque de Campismo Naturista da Quinta das Oliveiras (http://www.quinta-das-oliveiras.com/pt) que a população rotulou de “Colina do Sol Portuguesa”, referindo-se a um famoso parque naturista brasileiro. No início, os moradores de Travanca de Lagos e os órgãos autárquicos – a Assembleia Municipal chegou a chumbar o projecto – não acolheram bem a ideia, mas voltaram atrás depois de Siets Bijker, de 60 anos, e a sua mulher, Jikke Wilschut, de 62, terem promovido uma campanha para explicar a filosofia naturista e nudista. A exibição televisiva de reportagens em Portugal sobre a “Colina do Sol” também ajudou à mudança das mentalidades e fez entender que a Quinta das Oliveiras era uma mais-valia em termos turísticos.

Agora, na aldeia de Andorinha – situada a 50 quilómetros e menos de uma hora de Viseu -, a população já se habituou à presença dos naturistas. Como diz Siets – e ao contrário do que aconteceu em 2002 – “90 por cento das pessoas acham bem e apenas 10 por cento dizem que é mau”. “Eu acho bem. Não podemos ser velhos do Restelo. A evolução é boa para qualquer localidade e é pena não haver mais”, refere Gualdim Ferreira, recordando que “no início houve alguma relutância, porque as pessoas não sabiam o que era. Só pensavam em droga e sexo. Agora está tudo tranquilo”.

Guardim Ferreira, de 72 anos, que nas décadas de 1950/60 praticou nudismo na praia da Adraga, em Sintra e teve algumas vezes de fugir com os amigos à frente das brigadas da Guarda Fiscal, considera que a Quinta das Oliveiras “é boa para a terra”, embora nunca lá tenha entrado. “Sou a favor. Sempre fui. E apenas não vou porque não estou preparada psicologicamente”, diz Teresinha, de 44 anos, enquanto serve ao balcão do Café Rio de Janeiro, no centro da povoação. “Quando abriu, as pessoas julgavam que era outra coisa e houve alguns problemas, mas agora já não”, adianta.

Ricardo Eduardo, de 27 anos, desempregado e o distribuidor de pão Alberto Costa, de 24 anos, também acham “bem” a existência do parque de campismo e consideram que “não foi prejudicial” para o concelho de Oliveira do Hospital. “Eles costumam vir aqui [ao café] e são bem recebidos pelo povo da terra”, dizem os jovens, embora lembrem que, no início, a ideia foi “rejeitada e houve muita polémica”.

Administração vai melhorar oferta com novos equipamentos

O parque de campismo e caravanismo, com 3,5 hectares e aberto desde Abril de 2002, tem ao dispor dos turistas equipamentos semelhantes aos existentes nos parques dos “têxteis” – como são designadas as pessoas que andam vestidas –, que Siets quer melhorar, para evitar a sazonalidade deste tipo de turismo, muito concentrado nos meses de Verão. Há uma recepção, com bar e biblioteca; balneários, estacionamento, parque infantil e roulotes para alugar. “A quinta está aberta todo o ano, mas no Inverno ninguém vem, porque faz muito frio e chove. Por isso, queremos construir uma sauna, para podermos ter clientes o ano inteiro e porque os holandeses gostam muito”, explica o imigrante, que investiu em Oliveira do Hospital depois de ficar desempregado devido ao encerramento da fábrica onde trabalhava.

 

 

 

 

ed. 336, 22 de Agosto de 2008

(enviado em 26/08/08 por Mauro Martins)


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