Polêmica
posta a nu
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Fotos de Nuno Ferreira
Fonte:
Jornal do Centro
Obs.: Texto grafado como
no original
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Há
sete anos a população de Travanca de Lagos acordou alvoraçada: ia
andar gente toda nua a passear e a mergulhar numa piscina numa
encosta de Andorinha. Hoje quase ninguém pensa assim |
Há seis anos, os 1450
habitantes de Travanca de Lagos acordaram para uma realidade inédita no
País: um parque de campismo para naturistas. A polêmica estava instalada
desde 2001, quando um casal de holandeses escolheu uma encosta próximo da
aldeia de Andorinha para construir a infra-estrutura. Hoje, quase todos se
habituaram à ideia e aceitam que o projecto contribui para valorizar o
concelho de Oliveira do Hospital.
As polémicas e as questões burocráticas atrasaram um ano a abertura do
Parque de Campismo Naturista da Quinta das Oliveiras (http://www.quinta-das-oliveiras.com/pt)
que a população rotulou de “Colina do Sol Portuguesa”, referindo-se a um
famoso parque naturista brasileiro. No início, os moradores de Travanca de
Lagos e os órgãos autárquicos – a Assembleia Municipal chegou a chumbar o
projecto – não acolheram bem a ideia, mas voltaram atrás depois de Siets
Bijker, de 60 anos, e a sua mulher, Jikke Wilschut, de 62, terem promovido
uma campanha para explicar a filosofia naturista e nudista. A exibição
televisiva de reportagens em Portugal sobre a “Colina do Sol” também
ajudou à mudança das mentalidades e fez entender que a Quinta das
Oliveiras era uma mais-valia em termos turísticos.
Agora, na aldeia de Andorinha – situada a 50 quilómetros e menos de uma
hora de Viseu -, a população já se habituou à presença dos naturistas.
Como diz Siets – e ao contrário do que aconteceu em 2002 – “90 por cento
das pessoas acham bem e apenas 10 por cento dizem que é mau”. “Eu acho
bem. Não podemos ser velhos do Restelo. A evolução é boa para qualquer
localidade e é pena não haver mais”, refere Gualdim Ferreira, recordando
que “no início houve alguma relutância, porque as pessoas não sabiam o que
era. Só pensavam em droga e sexo. Agora está tudo tranquilo”.
Guardim Ferreira, de 72 anos, que nas décadas de 1950/60 praticou nudismo
na praia da Adraga, em Sintra e teve algumas vezes de fugir com os amigos
à frente das brigadas da Guarda Fiscal, considera que a Quinta das
Oliveiras “é boa para a terra”, embora nunca lá tenha entrado. “Sou a
favor. Sempre fui. E apenas não vou porque não estou preparada
psicologicamente”, diz Teresinha, de 44 anos, enquanto serve ao balcão do
Café Rio de Janeiro, no centro da povoação. “Quando abriu, as pessoas
julgavam que era outra coisa e houve alguns problemas, mas agora já não”,
adianta.
Ricardo Eduardo, de 27 anos, desempregado e o distribuidor de pão Alberto
Costa, de 24 anos, também acham “bem” a existência do parque de campismo e
consideram que “não foi prejudicial” para o concelho de Oliveira do
Hospital. “Eles costumam vir aqui [ao café] e são bem recebidos pelo povo
da terra”, dizem os jovens, embora lembrem que, no início, a ideia foi
“rejeitada e houve muita polémica”.
Administração vai melhorar oferta com novos equipamentos
O parque de campismo e caravanismo, com 3,5 hectares e aberto desde Abril
de 2002, tem ao dispor dos turistas equipamentos semelhantes aos
existentes nos parques dos “têxteis” – como são designadas as pessoas que
andam vestidas –, que Siets quer melhorar, para evitar a sazonalidade
deste tipo de turismo, muito concentrado nos meses de Verão. Há uma
recepção, com bar e biblioteca; balneários, estacionamento, parque
infantil e roulotes para alugar. “A quinta está aberta todo o ano, mas no
Inverno ninguém vem, porque faz muito frio e chove. Por isso, queremos
construir uma sauna, para podermos ter clientes o ano inteiro e porque os
holandeses gostam muito”, explica o imigrante, que investiu em Oliveira do
Hospital depois de ficar desempregado devido ao encerramento da fábrica
onde trabalhava.

ed. 336, 22 de Agosto de 2008
(enviado em 26/08/08 por
Mauro Martins) |