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Jornal Olho nu - edição N°95 - outubro de 2008 - Ano IX

O congresso no Brasil foi um sonho realizado

por Pedro Ribeiro*

foto: Pedro Ribeiro

Uma grande infra-estrutura foi montada no estacionamento da praia de Tambaba para receber o Congresso internacional

Quando estivemos na Espanha, em 2006, torcendo para que os maiorais da Federação internacional escolhessem o candidato Brasil para sediar o XXXI congresso Internacional de Naturismo, não sabíamos que sua realização daria tanto prazer e... trabalho.

Graças ao empenho de Elias Pereira e André Herdy um ano antes da escolha, com suas viagens constantes à Europa, para manter contato e fazer um certo lobby, hoje eu não estaria aqui comentando o que foi considerado o maior congresso naturista já realizado em todos os tempos.

Depois da escolha, o trabalho hercúleo de manter a palavra e conseguir realmente levar a cabo um projeto de tal monta foi comandado por Paulo Campos, com um trabalho incansável e estressante. Mesmo com a falta de boa parte do patrocínio necessário o projeto foi levado adiante com muita garra e determinação.

foto: N. Valerio

O local de cerimônia de abertura foi uma grande tenda, um pavilhão montado com palco e auditório. Os naturistas esperavam ansiosamente pela abertura oficial

Até as vésperas do início Paulo não sabia se haveria dinheiro para pagar toda a mão de obra contratada, se haveria dinheiro para alugar salões e pagar músicos para as festas paralelas. O pior aconteceu. O dinheiro prometido pelos poderes públicos não saiu e então diversas atrações foram suprimidas: os bailes de abertura e encerramento, jantar oficial, passeios turísticos.

Essas atrações previamente divulgadas de forma ampla e não realizadas deixaram muitos visitantes frustrados. Mas estes fatos não tiraram os méritos dos trabalhos de Paulo nem tampouco do Congresso em si.

Só para explicar o que consiste o Congresso Internacional de Naturismo, trata-se da reunião dos dirigentes das federações dos países membros da INF, que burocraticamente e através de voto têm que decidir questões administrativas. Se tomarmos como base os dois congressos anteriores, o da Espanha e o da Croácia, veremos que o Congresso é tão somente a reunião, com algumas outras poucas atrações, muito pouco interesse dos naturistas em geral e um pequeno interesse da mídia não especializada pelo evento.

foto: N. Valerio

George Volac, presidente da INF, com seu intérprete, abriu oficialmente o XXXI Congresso Internacional de Naturismo

Aqui no Brasil tivemos grande interesse de participação dos naturistas locais vindos das diversas partes do país, além de uma grande cobertura da mídia brasileira, que diariamente transmitia nos diversos canais de TV, rádio e jornal as informações e curiosidades sobre o Congresso, em nível nacional.

Para o Naturismo brasileiro, esta cobertura por si só, já valeria o investimento. A visibilidade dada ao Movimento vai render bons frutos no futuro, com certeza.

Com o apoio da prefeitura do Conde, para o Congresso foi permitido a prática do naturismo desde o estacionamento da praia, onde foram construídos vários quiosques numa espécie de feira geral, com vendas e divulgação dos mais diversos produtos, como artesanato, comida, obras artísticas e até venda e aluguel de imóveis. Aqui também ficava o restaurante, os banheiros químicos e a grande tenda onde aconteceram a abertura oficial e as palestras e debates do "congresso paralelo".

Aliás o Congresso Paralelo, se assim podemos chamar, foi o grande diferencial deste congresso brasileiro para os outros que foram realizados até então nas outras trinta edições anteriores. A idéia já havia sido colocada em prática pela primeira vez aqui mesmo em Tambaba quando houve o Encontro Brasileiro de Naturismo em 2005. Desde então se procurou seguir este padrão nos eventos subseqüentes, o que deixou os encontros e congressos nacionais muito mais interessantes e participativos para o público em geral, mesmo que eles não tenham conseguido atrair grande quantidade de ouvintes.

foto: Pedro Ribeiro

Algumas atrações musicais encantaram a platéia na abertura do Congresso. Os artistas tocavam e cantavam vestidos para uma audiência nua.

Também na área de entrada, ao lado do estacionamento foi construído um pavilhão onde ocorreram as reuniões do congresso oficial, com a participação dos representantes dos 33 países membros da federação internacional.

Um dos pontos mais fracos da realização deste Congresso foi justamente a comunicação oficial. Não havia informações sobre o que estava acontecendo ou sobre o que iria acontecer, o programado, o cancelado, que atingissem a todos os presentes. Não havia um painel informativo. As informações eram repassadas "boca-a-boca", de modo que não atingiam todos os interessados. Isto começou a dar impressão de desorganização.

No entanto dentro do pavilhão dos debates oficiais tudo primou pela eficiência e conforto, deixando os membros da federação internacional admirados com nossa capacidade de organização. A tradução simultânea em quatro idiomas foi o ponto alto.

Digo que os deixou admirados porque no início deste ano quase que o congresso no Brasil foi cancelado pela INF, porque nossa capacidade de realização foi colocada em dúvida. Mas, superadas as crises, eis que o resultado aparece.

Outro ponto que deixou muitos naturistas frustrados foi a grande quantidade de pessoas vestidas nas áreas supostamente de nudismo obrigatório. A nudez teoricamente era obrigatória em toda a área do Congresso, desde o estacionamento até a última cerca de limite da praia de Tambaba. No entanto a fiscalização foi frouxa. A começar que ela não era obrigatória para os trabalhadores contratados, que não eram poucos. Mas muita gente, até mesmo naturistas membros das associações diversas vestiam-se ou demoravam para tirar as roupas, contribuindo para a impressão de bagunça.

foto: Pedro Ribeiro

Elias Pereira e Laurindo Correia, representantes do Brasil e de Portugal, respectivamente, participando dos debates e discussões oficiais no pavilhão do Congresso.

Até mesmo os maiores dirigentes da INF ficaram vestidos na cerimônia de abertura (nesta já se havia determinado  que a nudez não seria obrigatória), o que é estranho.

No entanto, essa mistura (havia ocasiões em que os nus eram uma minoria muito pequena na área do estacionamento) teve também seu lado positivo, que foi o de desmistificar a nudez para os trabalhadores dos estandes. A quase totalidade deles nunca havia colocado os pés em Tambaba. A convivência entre nus e vestidos acabou mostrando que a nudez não tem nada demais. Alguns resolveram até experimentar e forma para a areia da praia praticar o naturismo.

Na areia da praia a situação era bem melhor, mas mesmo assim, a quantidade de trabalhadores do bar/restaurante que funciona dentro da praia e do pessoal de apoio que fazia a fiscalização também incomodou por sua presença vestida. O pior é que nem se eles quisessem poderiam tirar as roupas, porque foi esta a determinação da organização do evento.

A cerimônia de abertura foi emocionante, mas começou com duas horas e meia de atraso, o que provocou alguns fatos inusitados. Cerca de vinte jovens haviam sido "contratados" para entrar com as bandeiras dos países membros da INF que estavam presentes. Eles viriam vestidos de índios brasileiros. Porém foram embora antes de chegar sua vez de se apresentarem, em protesto pelo atraso, deixando apenas um índio e uma índia fazendo o percurso do desfile, apenas coma bandeira do Brasil e mais nenhuma.

Apesar dos problemas o brilho e a emoção tomaram conta da cerimônia. Após a entrada do pavilhão nacional carregada pelo índio solitário, o hino nacional brasileiro a abriu oficialmente, tendo sido executado por uma profissional do canto. Depois queima de fogos e uma chuva de papel picado verde e amarelo tomou conta do local, deixando uma beleza plástica muito original.

Os discursos que não poderiam faltar, proferidos pelos componentes da mesa, representantes oficiais dos governos municipal e estadual, Elias Pereira, presidente da FBrN, Paulo campos, presidente da SONATA e o presidente da INF George Wollack, encerraram a primeira parte da cerimônia.

A apresentação de músicos e da orquestra de violões composta por jovens de João Pessoa encerraram as atividades oficiais de abertura do congresso e do primeiro dia.

fotos: Pedro Ribeiro

Jorge Bandeira abriu o ciclo de palestras no congresso paralelo

.Os estandes vendiam também arte. Neste o tema era a nudez em escultura e pinturas.

As palestras e debates que se sucederam nos demais dias tinham horários marcados para as 10 h da manhã e para as 2 h da tarde. As da tarde, no entanto, foram todas transferidas para iniciar às cinco, devido à claridade da tenda, que impedia a exibição de projeções.

o professor Jorge Bandeira, do Graúna, foi o primeiro palestrante da temporada com o tema "Novas  Tendências da Historiografia da Amazônia", um relato sobre as novas descobertas científicas sobre os habitantes daquela região, que põe por terra todo o conhecimento que se tinha até então. A apresentação em powerpoint está disponível aqui no OLHO NU para download. Clique aqui e veja a apresentação. (3100 kb)

A segunda palestra "Biodiversidade e Meio Ambiente" foi proferida pela professora e mestra do CEFET, Tânia Maria de Andrade.

Na quinta-feira, 11, mais três temas foram debatidos, com uma pequena inversão na ordem apresentada: "Direitos Humanos, Direitos dos Povos" pelo Dr. Alexandre Guedes, presidente regional da Comissão dos Direitos Humanos, pela manhã; "Biocibernética ginástica: metodologia alternativa de uma corporeidade de corrente da revolução do cérebro", ministrada pelo professor José Wagner de Oliveira e à tarde "Desnudar-se - uma questão de ética" pela professora e Dra. da UFPB  Loreley Garcia.

E no último dia de palestras, sexta-feira 12, pela manhã "As práticas sócio-ambientais das comunidades receptoras do turismo" - pelo professor e Mestre em Meio Ambiente Rogério Ferreira e encerrando com o professor José Nilton da Silva, da UFPB, com o tema "Naturismo, Educação e Filosofia de Vida".

Foram sete palestras do mais alto nível que atraíram poucos interessados. Os debates que se seguiram também foram muito proveitosos e deram um ar de sofisticação e de peso ao Congresso.

foto: Mário Perne

Exibição de Kite Surf, modalidade onde o surfista é alçado por um parapente ao sabor do vento, foi uma das atrações

Enquanto isso na praia rolavam também alguns eventos, como exibição de Kite Surf, com um único participante, campeonato de surf naturista e apresentação de grupos folclóricos.

Na sexta-feira apresentaram-se os dois grupos folclóricos na praia de Tambaba. Um pela manhã e outro à tarde. O da manhã foi o grupo Coco de Roda, originário da praia que fica no Quilombo de Gurugi. O Grupo, existente há 200 anos,  é dirigido por Lenita, uma senhora de 67 anos, moradora do Conde. A mestra pisou pela primeira vez em sua vida numa praia de naturismo. Porém no povoado de origem do grupo há uma comunidade indígena onde moradores praticam o nudismo, principalmente nos banhos de rio. Portanto para ela não foi nenhum choque. Mas ela mesma não faz.

A apresentação do grupo contagiou os naturistas presentes que também se envolveram na dança numa grande roda de confraternização e alegria entre os componentes vestidos com seus trajes típicos e os naturistas ao natural.

foto: Pedro Ribeiro

O Grupo folclórico Coco de Roda animou ainda mais a praia dos naturistas de Tambaba

À tarde outro grupo se apresentou. Era o premiado Grupo Folclórico da Paraíba, com trajes típicos do cangaço apresentaram uma coreografia bonita e muito bem ensaiada representando passagens da história de Lampião e Maria Bonita. Arrancou aplausos entusiasmados do público.

As festas oficiais programadas foram todas canceladas, restando festas feitas na improvisação nas diversas pousadas da cidade, que se alternavam como sede. Toda noite havia uma. Invariavelmente havia apresentação de um ou mais cantores geralmente acompanhado por violão, executando músicas dançantes. Somente no sábado é que uma banda de forró se apresentou.

As pousadas oficiais se dividiram naquelas onde se poderia praticar o naturismo e nas que não se poderia. A pousada Viking, que estava no primeiro caso, foi a residência oficial dos membros da INF e da maioria dos estrangeiros que vieram a Tambaba. Os funcionários foram treinados para serem discretos e não se sentiram constrangidos com as pessoas nuas, porque o ambiente era de naturalidade.

Os meios de comunicação fizeram ampla cobertura estando presente na praia todas as grandes redes de emissoras de TV do país. Havia momentos que cinco ou seis equipes trabalhavam ao mesmo tempo na praia. De maneira geral ninguém se incomodava, mas houve um ou outro estresse ocasionados por pessoas que não queriam ser filmadas.

foto: Pedro Ribeiro

Os bailes noturnos quase sempre foram sempre regados ao cantor e seu violão.

O apoio da segurança pública foi muito presente com grande quantidade de efetivos da polícia militar de estado da Paraíba, de diversos batalhões, o que se notava pelos diferentes tipos de uniformes que usavam. Contou também com apoio da corporação de guarda-vidas.

E, finalmente, os resultados dos objetivos do congresso que era a reunião das federadas membros da International Naturist Federation teve um saldo bastante positivo para o Brasil. Escolheram Elias Pereira, atual presidente da FBrN, como o assessor de Barbara Hadley para assuntos pertinentes à América do Sul. Também foi escolhida a próxima sede do Congresso internacional em 2010, a Itália, e a nova presidente da INF, Siegelid Ivo.

Os trabalhos dos congressistas foram divididos em grupos com o tema "Qual a atividade mais importante que as federações gostariam que a FNI fizesse?" e de debates : " A presença do Jovem na FNI"; "O Esporte na FNI" e "O Site da FNI".

Também foram discutidos e aprovados os relatórios das federadas a respeito dos estatutos da Federação Internacional, a respeito dos regulamentos e das finanças entre outros assuntos.

Também aqui se elegeram os novos presidente e vice-presidente-tesoureiro e dois auditores que dirigirão a INF pelos próximos quatro anos, além de um auditor substituto e um membro do fundo de desenvolvimento, com cargos de 2 anos cada um.

Desta forma o XXXI Congresso Internacional de Naturismo atingiu todos os seus objetivos e ainda mais, por ter colocado o Brasil e o naturismo na rota internacional. Que bons ventos soprem.

pedroribeiro@jornalolhonu.com


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