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Jornal Olho nu - edição N°96 - novembro de 2008 - Ano IX |
OS AMANTES por Néria Ernestina Mafra Tu queres ouvir uma história de amor? Numa ilha há muitos e muitos anos atrás vivia um povo ligado à Natureza. Falavam a língua dos animais, das pedras e dos vegetais. Todos viviam em harmonia; animais, vegetais e minerais. As árvores e as pedras se ofereciam para construir as casas e utensílios domésticos. Todos eram muito coloridos e alegres, e tocavam música com instrumentos de sons maravilhosos. Todos viviam nus, muito coloridos e só se protegiam do frio com o calor do fogo do dragão. Pintavam suas peles e cabelos com pigmentos obtidos das sementes das frutas e dos minerais da própria terra. Sempre havia festas em agradecimento à Natureza, que aconteciam numa praia de águas límpidas e cristalinas. Quando havia temporais ficavam felizes porque o ar e a terra estavam sendo purificados. Toda manhã nas areias daquela praia a Leste, cantavam, dançavam, se amavam, e comiam frutas e sementes para reverenciar e agradecer a Natureza.
Neste lugar havia um dragão. Ele era verde. Soltava fogo, que era usado para aquecimento no inverno e para cozinhar os alimentos. Protegia e brincava com as crianças, que escorregavam nas suas costas, ou se agarravam nas suas escamas. E também voava, o que a todos maravilhava.
Numa manhã, após um grande temporal, estava junto à praia um objeto
muito estranho. Seria outro dragão? Era um objeto enorme, feito de
pedaços de galhos amarrados com cipó. Por isso deram o nome de Galheta
àquele “barco” estranho. As pessoas da “Galheta” gritavam, gesticulavam, e os nativos não compreendiam o que se passava. Os velhos pediram silêncio e pelos sons e gestos viram que estavam perdidos. A tempestade os havia arrastado para aquele lugar e estavam encalhados. Não podiam seguir viagem. Imediatamente todos se mobilizaram. Cavalos, bois e cipós foram usados. Chamaram a maré, as ondas do mar e o vento. A maré subiu e o vento provocou uma onda grande e suave para que o barco novamente pudesse flutuar. Junto ao barco ajudando estava um casal apaixonado, Íris e Arcon. Eram muito amados, pois era o símbolo de amor e companheirismo. Quando o barco flutuou, começou afastar-se suavemente. O jovem Arcon encantado com a “Galheta” não viu que estava com os pés enredados nos cipós que haviam usado para puxar à “Galheta”. O barco foi se afastando e só então Iris percebeu que Arcon estava com seus pés enredados nos cipós. Desesperada gritava para a “Galheta” parar, mas os que estavam a bordo não compreenderam. Ele conseguiu se livrar, mas foi para o fundo do mar e o barco seguiu viagem. Os da praia não conheciam o mar e não sabiam como resgatar Arcon. Todos choraram muito. As pessoas, as plantas, as árvores, os animais e as pedras. O céu chorou tanto que caiu uma enorme tempestade. A maior de todas. Das lágrimas do céu surgiu uma grande lagoa. A terra tremeu tanto de tristeza e houve um terremoto, se formando uma montanha entre o mar e a lagoa. Mas todos permaneceram na praia esperando Arcon. Íris pediu aos peixes e às ondas que a levassem para o encontro de Arcon. Foi levada e lá ficou. Os peixes e as gaivotas levavam alimentos para o casal. A Natureza fez então uma homenagem, criou Os Amantes. As pedras à esquerda da praia da Galheta se transformaram e a partir de então se pode ver Arcon por traz abraçando Íris, e quando a maré baixa pode-se ver os seus cabelos verdes. Sempre está ali um casal de gaivotas. À direita, onde é a praia Mole, está o dragão, com a sua cabeça repousando no mar, na ponta do Gravatá, e sua cauda em direção á lagoa da Conceição. Hoje, quando chove numa tarde de verão pode-se ver uma luz saindo dos olhos do Dragão e dos olhos dos amantes, formando no céu um lindo e, brilhante Arco-Íris. Vá até lá, confira e verás que é verdade!!!
Florianópolis, janeiro de 2000/01 (enviado em 6/10/08) |