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Jornal Olho nu - edição N°103 - junho de 2009 - Ano IX |
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A nudez é mais uma de nossas liberdades, podemos continuar a nos mirarmos no espelho alemão?
O presidente da Federação Espanhola de Naturismo (FEN), Ismael Rodrigo, critica duramente o presidente da Federação Alemã (DFK), Kurt Fischer, por qualificar de psicopatas os excursionistas nudistas dos Alpes. De verdade o F de DFK significa Liberdade? É necessário abrir um debate na Internacional Naturista FNI-INF a raiz das desafortunadas declarações do Sr. Fischer, que não devem consentir-se.
Faz alguns meses líamos com agrado a notícia de que “Em algumas montanhas da Suíça, subir aos Alpes sem roupa é a última moda” (foto: The New York Times). No The New York Times se podia ler que “Em setembro, a polícia deteve um jovem excursionista. Mas tiveram que liberá-lo, porque na Suíça não há leis contra fazer excursões desnudos” e que “peritos em leis argumentam que proibir o nudismo em público seria inconstitucional”.
Faz pouco mais de 10 anos aterrisei no movimento Naturista espanhol e comecei a prestar mais atenção. Descobri que na Alemanha as pessoas se desnudavam nos Spas e inclusive também nos parques públicos das cidades! E dirigi meus olhares para a legislação espanhola. O tema se discutiu então no único foro na Internet sobre Naturismo em espanhol. Uma vez me certifiquei que a mera nudez não era delitivo, que começou então a associação de Madrid (ADN) uma campanha massiva nos meios de comunicação, baseada em uma demonstração de nossa nudez por duas horas na Puerta de Alcalá, ponto central de Madrid. Desde então minhas intervenções nos meios de comunicação e o ativismo dos sócios se contam aos milhares. As associações da FEN trabalham no mesmo sentido desde que se estampou em nossos estatutos a obrigação de divulgar o nudismo como uma mais de nossas liberdades. A web da FEN tem sido também peça chave na educação dos naturistas e de nossa sociedade. Podemos dizer, sem exagerar, que toda a sociedade espanhola tem sido informada de que a nudez é uma de nossas liberdades. Estas campanhas educativas continuam com ideias já conhecidas mundialmente, como “el día sin bañador” (Dia sem roupas de banho). Hoje por qualquer meio de comunicação se dá por assentada esta liberdade e se tem claro que não se trata de uma lacuna legal, ao contrário é um direto de fato e legal. Ninguém tem por que dizer-nos como nos vestirmos. Não existe o “direito a não ver o que a alguém não lhe agrada”. A liberdade dos demais termina onde começa a nossa.
Voltando ao caso da Suíça. Se examinarmos as legislações sobre a nudez em outros países, encontraremos que não são muito distintas da espanhola tal e como menciona The New York Times. A simples nudez não está penalizada se não está vinculada a delitos sexuais (ou não sexuais, acrescente-se para que se entenda o razoamento). Se uma pessoa nua comete um delito, deverá ser castigado pelo delito cometido; mas não pelo fato de estar nua, sem que deva ser um agravante a nudez. O caso seria similar a quando um imigrante comete um delito: os racistas aproveitam para condenar a todos eles.
Aonde quero chegar? Na Espanha não temos uma legislação claramente distinta à da Suíça e outros países europeus ou sulamericanos, e dado o princípio básico de que “na democracia tudo o que não está expressamente proibido está permitido”, a situação deveria ser a mesma. A diferença reside em que a FEN tem difundido esta liberdade e outras federações quiçá defenderam ou defendem um nudismo limitado a guetos: praias autorizadas e centros privados.
Ao presidente da Federação Alemã (DFK), Kurt Fischer, foi perguntado por um periódico Suíço sobre os nudistas dos Alpes (ver citação original).
Kurt, o presidente da Federação do país que tanto admirávamos os Naturistas espanhóis “descreve os excursionistas como neuróticos e psicopatas, e afirma que a liberdade da pessoa termina onde a liberdade dos demais se vê afetada […] Para ele há uma regra estrita: as atividades naturistas devem realizar-se nos Centros Naturistas[…] Fischer considera que as autoridades devem castigar com rigor a caminhada desnuda.” O artigo, ainda que sem citar nenhum líder, dá a entender que a União Naturista Suíça tampouco respalda a caminhada Naturista.
Creio que não é necessário dizer aqui que se eu ou algum dirigente do Naturismo espanhol fizessem declarações similares, não duraríamos no cargo nem um minuto. Também me chama a atenção o fato de que as declarações se façam sobre outro país que ademais teme federação própria e do qual, como é natural, se desconhecem suas leis. Entendo que todos os Naturistas federados espanhóis, que incluímos entre nossas atividades ordinárias associativas a caminhada nudista, também seríamos qualificados de neuróticos e psicopatas se um periódico espanhol lhe aplicasse a mesma pergunta.
Na Espanha há grupos de pessoas que promovem a nudez nas ruas das cidades. A Federação e suas associações não promovem este tipo de atividades, a não ser as que se realizam em ambientes naturais, tal e como reza a definição de Naturismo que todos aceitamos na FNI-INF “em harmonia com a natureza” (Art.2). Sem dúvida, quando somos perguntados pela imprensa sobre estas pessoas, as sentimos afins e nos situamos sempre do lado da liberdade, já que não há nada de mau na nudez humana. Jamais nos ocorreria qualificá-los de psicopatas, e se encontram problemas jurídicos, ali está a Federação e as associacões para defendê-los e personalizar-se na causa. Para desqualificá-los, para julgá-los e para pedir seu castigo, já existem outros: os movimentos integristas, os que compreendem mal sua religião, os que têm carências educativas, os intolerantes e no final das contas, “os donos da verdade”.
No Congresso Mundial do ano 2006 na Espanha me dirigi aos presentes com um discurso titulado “The Naturist Revolution: The Right to Be Nude. A Debate.” (www.naturismo.org/adn/ediciones/25y/1e.html). À vista das declarações públicas do presidente da DFK e da UNS-SNU, opino que este debate ainda não teve lugar e que já não pode ser protelado mais. O movimento Naturista agrupado na FNI-INF tem como missão perseguir a liberdade já que sabemos que o corpo humano desnudo não pode ser criminalizado ?, ou pelo contrário, deve estar sempre do lado dos que livremente exercemos esta liberdade básica e decidimos não nos vestir? Que pensaria o Sr. Fischer de um negro que renunciara a seus direitos legais com objetivo de não molestar aos brancos? A modificação do costume é um processo muito mais lento que a modificação da lei. Não é natural que seja de dentro do movimento naturista de onde se dificulte este avanço e incluso se facilite a volta atrás nas leis. Com amigos como estes não necessitamos inimigos.
Tudo parece indicar que algumas de nossas federações não questionam a repressão à nudez, tão somente pedem exceções para "praticar o nudismo". Aceitam os mesmos postulados repressivos do resto da sociedade! Chegou o momento de desmascarar os líderes de associações Naturistas que pretendem marcar onde sim e onde não, quando sim e quando não, o que é e o que não é Naturismo, “os donos da verdade naturista”.
Kurt assinala que “A liberdade da pessoa termina onde a liberdade dos demais se vê afetada” sem se dar conta de que esta liberdade deve ser recíproca: ninguém pode obrigar-nos a vestir-nos, porque nos não obrigamos a ninguém a desnudar-se. Somente mediante campanhas educativas se pode terminar com a criminalização da nudez. Estou convencido de que estas campanhas são a principal responsabilidade das federações e associações nudistas.
Gostaria que todas as Federações presentes no foro “INFworkgroup” deixassem clara qual é sua postura ante este debate. Incluso que a DFK se reafirme nas declarações realizadas ao periódico citado ou se desdiga delas, pois puderam ser só uma opinião pessoal de seu atual presidente. Também gostaria que a UNS-SNU fizesse o mesmo.
Ismael Rodrigo
(enviado em 04/04/09 ) |
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