MULHERES: BAIXA ADESÃO AO NATURISMO

por Paulo Werneck*

Tento, neste ensaio, uma explicação abrangente para este fato que precisa ser revertido, para que nosso movimento seja e continue irrigado pelas virtudes femininas.
 

É paradoxal que o país que criou e adotou o fio dental com ampla aceitação entre mulheres e homens, a tal ponto que a moda se difundiu pelo mundo, tenha tão poucas mulheres naturistas. Se é tão fácil descobrir as nádegas, por que é tão difícil o topless e a nudez completa?
 

O móvel do naturismo é o prazer e a liberdade que se experimenta com a queda do pudor, e quando a gente se livra dos incômodos limites e apertos impostos pelas roupas! Que obstáculo se interpõe entre as brasileiras e a nudez completa?
 

Penso, como psicanalista e observador, que a sociedade brasileira é muito permeada de desejos incestuosos que a aprisionam na dinâmica fálica-castrada, fantasia que considera a vagina como parte desqualificada do corpo feminino; daí a dificuldade das mulheres de a exibirem, o que não acontece com as nádegas, que, sendo saliências, são símbolos fálicos! Afinal, quem gosta de ser chamado de babaca ...?
 

Nossa sociedade é tão incestuosa que nosso palavrão máximo é “filho da puta”, e não nos permitimos, como os anglo-saxões, chamar alguém de “mother-fucker”, tão impensável é para nós o onipresente incesto!
 

Por outro lado, com o apagamento da figura paterna predominou a influência feminina que, vendo a vulva-vagina como prova de castração (no inconsciente e como fantasia, é claro!), passou às filhas o pudor obviamente que reforçado pelo obscurantismo religioso e impregna nossos legisladores e homens da lei.
 

Obscurantismo que, aliás, vem de nossa fundação, já que a primeira coisa que os jesuítas faziam com os índios quando aqui chegavam era encafuá-los em incômodas roupas.
 

Isto acontecia porque o desejo dps colonizadores pelos corpos nus era enorme, e assim os pecados arrefeciam! Entretanto, ficou a associação nu-desejo-pecado que predomina até hoje.
 

Há ainda os interesses da indústria da moda que tem de vender os biquinis e maiôs!
 

Nossas mulheres realmente corajosas que procuraram dar um exemplo de quebra de tabus como Luz del Fuego, Chiquinha Gonzaga, Brigite Bardot, Leila Diniz (para falar as mais conhecidas), são rotuladas pelas matriarcas e pelos pais possessivos como decaídas e prostitutas, não se constituindo exemplos viáveis para as jovens, pelo menos as da nossa geração.
 

A fixação no Édipo leva nossas mulheres a serem sensuais e a se colocarem como objetos dos gulosos olhares masculinos, que associam assim a nudez ao erotismo.
 

Nossas mulheres gostam de seduzir os homens com sua sensualidade que inclui a exibição parcial dos corpos, atraindo a atenção masculina. Ora, nada disto ocorre no naturismo, onde o que predomina é o sentimento de liberdade e de prazer, ficando o erotismo em plano secundário e praticamente inexistente, sendo o olhar masculino e a recepção feminina plasmados pela naturalidade, a tal ponto que são raros os casos de ereção masculina ou assédio feminino em nossas áreas e praias.
 

Somos uma sociedade em que predomina a sensualidade e o erotismo do imaginado, que desaparece no naturismo em que tudo é exposto!
 

Penso que o machismo do homem brasileiro, seus ciúmes possessivos, sua fantasia de que o corpo da mulher é de sua visão exclusiva, e não possa ser compartilhada por outros, contribui também, dada a passividade de muitas mulheres, para inibir a aderência destas ao naturismo!
 

Acho que quanto mais desvincularmos o naturismo da sexualidade, mais o incentivaremos entre nossas mulheres, mudando o conceito da Sociedade sobre nós!
 

Outra observação que desejo fazer é que as brasileiras colocaram como ideal de seus egos, ter o corpo perfeito igual às manequins e às atrizes que vêem na televisão e, como erroneamente pensam que no naturismo predomina o voyerismo e o exibicionismo, têm dificuldade em frequentar nossos ambientes.
 

Conhecemos várias amigas obesas que dizem que frequentarão o naturismo quando emagrecerem ... Isto é consequência da conjunção corpo-falo em que os corpos femininos são grandemente valorizados por sua beleza que entre nós é um equivalente da completude narcísica!
 

Enfim penso que nossas mulheres estão aprisionadas em todas estas inibições que as privam de frequentar nossos saudáveis hábitos naturistas com seus namorados, maridos e filhos, o que realmente é uma pena!
 

Uma experiência pessoal demonstra como em nossos país e na nossa geração se vincula a nudez ao erotismo. Conheci o naturismo através de revistas que na década de 50 meu primo trazia para casa. Delas me servia para aumentar a excitação e me masturbar, experiência que, acredito, passou a maioria desta geração.
 

Porém, como sempre gostei de ler, percebi que os dizeres da revista exaltavam o nu e o companheirismo entre os naturistas, nada tendo de pornográfico. Eram artigos de médicos, do Paulo Pereira (que hoje conheço) e outros. Nas fotos havia apenas nudez sem insinuação ou propósito de excitar.
 

Mas isto mostra a conexão que nossa sociedade faz entre uma coisa e outra. Infelizmente!

PAULO SÉRGIO VARGAS WERNECK

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