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Jornal Olho nu - edição N°107 - outubro de 2009 - Ano X |
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A DESVALORIZAÇÃO INCONSCIENTEMENTE CONSENTIDA
por Evandro Telles* Por muitas vezes já me diverti olhando na TV as famosas vídeo-cacetadas, com o tempo parei para pensar um pouco e cheguei à conclusão que estava rindo de uma fatalidade de alguém, já que muitos até se machucavam com suas quedas. Inconscientemente estava dando valor às quedas espetaculares em detrimento ao ser humano que a sofria. Assim também é a questão dos animais em circos e rodeios, não nos importamos com os sofrimentos que lhes causamos, achamos muito bonitos até termos a consciência do que realmente estamos fazendo. Creio, inclusive, que muito artistas de músicas sertanejas terão até que mudar a tônica “Quem gosta de rodeios, não dá prá ficar parado, sou cowboy e boiadeiro, tem mulher prá todo lado”. Por falar em mulher prá todo lado, num dia destes uma mãe toda cheia de orgulho me apresentava seu filho como o terror das menininhas, e que no dia em que ele nasceu só tinha meninas no berçário e que estas teriam que se cuidar. Enfim, todos os comentários que, na realidade, desvalorizava a figura feminina que ainda não era percebido por ela. Dizia ela na verdade que a) Tinham muitas meninas para o seu único filho; b) Que ele poderia conquistar muitas senão todas as garotas do seu círculo de amizade; c) As meninas estavam disponíveis para o menino garanhão; d) Que ele poderia transar com todas elas se assim o quisesse. Todas as qualificações eram no sentido de conquista e afirmação da sexualidade do menino, e assim segue a educação pela sua infância e juventude. A própria mulher inconscientemente se subjugando aos desejos masculinos e se colocando numa posição de inferioridade afirmando as disponibilidades descritas acima. O papel da mulher nos dias atuais mudou, ela tem uma maior participação no orçamento familiar, participa ativamente em diversos setores econômicos e políticos do país e conquistaram o direito de atuarem em vários segmentos no mercado de trabalho que antes eram destinados somente aos homens. No entanto, ainda se acham numa posição de inferioridade quando o assunto refere-se à sua sexualidade.
O
naturismo permite a aproximação da igualdade entre ambos os sexos, ainda
não reconhecido pelo lado feminino, são tratadas com mais respeito
‘Coloque um corpo nu no meio naturista e um corpo nu no meio de
vestidos. Quem se comportará de maneira mais decorosa, o naturista ou o
vestido? Quem se comportará de maneira mais animalesca, o naturista ou o
vestido?”. Reconhecendo a importância da educação na formação de opinião e da consciência de diversas agressões que causamos à natureza, a Associação Amigos dos Animais do Espírito Santo (AMAES) realizou um curso de uma semana para treinamento de instrutores para proferirem palestras nas escolas, um projeto da World Society for the Protection of Animals (WSPA) com atuação em diversos países na Europa e na América Latina. E os naturistas como irão chegar nesta clientela (crianças e jovens)? Se os próprios pais, na maioria das vezes, não conhecem este estilo de vida e desconhecem os benefícios que poderíamos ter quando nos tornamos conscientes da nossa natureza defendida com respeito e vista de forma natural. No estágio cultural em que vivemos, acho pouco provável que tais palestras teriam algum apoio das comunidades escolares, acredito mais na viabilidade destas serem realizadas para alunos de faculdades que, em sua maioria, serão os futuros pais que poderiam transmitir aos seus filhos outros valores sociais. É preciso ensinar os adultos a pensarem como crianças e os tornarem conscientes da importância da auto-aceitação. A consciência da nossa própria natureza é um caminho aberto para realização da felicidade porque não será preciso esconder o que somos, teríamos uma sociedade menos agressiva, mais humana. No artigo “Naturismo e Fé” Pierre E.H. Demouliere conclui “É justo ser naturista e cristão. A fé esclarece o naturismo e naturismo fortifica a fé”. A reintegração do homem com a sua natureza, distanciada principalmente pelos falsos valores até hoje colocadas na sua formação, requer tempo, que é algo que não temos muito diante de tantas agressões que causamos à natureza por implantar um modelo econômico que pecou por não considerar a espiritualidade do ser humano, por não considerar o respeito como algo que teria que ser ensinado também nas escolas, por não considerar a nossa dependência com outros seres viventes como fator determinante da nossa própria sobrevivência. Num texto escrito pelo Ven. Dr K Sri Dhammananda sobre atitude Budhista quanto a vida animal diz de uma forma bem clara “A crueldade do homem em relação aos animais é uma outra expressão de sua ganância incontrolável. Hoje destruímos os animais e os privamos de seus direitos naturais para nossa conveniência. Mas já estamos começando a pagar o preço por esse ato egoísta e cruel. Nosso meio ambiente está ameaçado e se não tomarmos medidas severas para a sobrevivência de outras criaturas, nossa própria existência na terra pode não estar garantida.” Não aprendemos respeito com a nossa própria natureza, como iremos respeitar a natureza de outros seres viventes? O naturismo certamente poderia contribuir muito para uma nova postura dos valores sociais, só precisamos ser conscientes desta responsabilidade no lugar de consentir a desvalorização de nosso corpo como se fosse somente visto para prazeres sexuais. Sinceramente, sou mais do que isso. Evandro Telles em 05/09/09 (enviado em 5/08/09 por Joaquim Salles) |
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