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Jornal Olho nu - edição N°108 - novembro de 2009 - Ano X

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Hedonismo e sociedade de consumo

por Laércio da Silva*
publicado originalmente no

jornal Diário da Manhã

em 22/08/09

 Recentemente um grande portal brasileiro na internet divulgou em seu suplemento de turismo uma visita a Ilha de Mikonos, na Grécia. No texto destaca a praia nudista e faz referência ao hedonismo como definição para o local terminando em envolver o naturismo como “moeda corrente”. Acredito que por puro desconhecimento da fonte jornalística, a matéria deixa no ar a seguinte pergunta: naturismo e hedonismo andam juntos?

Como diria Jack, o estripador: vamos por “partes”! O hedonismo (do grego hedone que significa prazer) é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirmava ser o prazer, sobretudo o intelectual, o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, na época pós-socrática, e um dos maiores defensores da doutrina foi Aristipo de Cirene, que acreditava que tudo se resolveria no sentimento estrito do prazer. O hedonismo moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número de pessoas, tomando outro contorno.

O hedonismo moderno, entendido por alguns, baseia-se no prazer a qualquer custo mesmo transgredindo normas de conduta aceitas pela sociedade. Para o hedonista, a satisfação deve ser entendida como a busca pela felicidade através do prazer, mesmo que ultrapasse as fronteiras e os limites do convívio coletivo, podendo estas serem quebradas a qualquer momento. A sociedade de consumo criada para mover o capitalismo é um exemplo real disso na idade moderna. Segundo Leonardo Boff, esse mesmo capitalismo criou mecanismos para “socializar o sonho” que as massas dificilmente conseguirão alcançar em um mecanismo de incentivo altamente desenvolvido que exclui as populações menos favorecidas nos moldes da exploração do homem pelo homem. As relações mercadológicas se baseiam no hedonismo para produzir prazeres coletivos através do consumo e da insatisfação eterna, como o prazer de comprar e comprar mesmo que isso não lhe seja útil. O prazer se resume na felicidade de adquirir bens, mesmo que esses não sejam necessários a sua sobrevivência, causando uma paranoia atormentadora no ser humano contemporâneo, como se fosse uma questão de vida ou morte.

O fato é que crimes sexuais e homicídios são praticados em nome da fome de consumo e prazer dentro de uma sociedade que patrocina o hedonismo para girar a roda de consumo que não deve parar de alimentar as grandes corporações. Quem já não ouviu falar de um crime praticado para roubar um tênis ou um óculos sem maior valor, a não ser sua “grife de marca”? Dos vários crimes sexuais doentios? Nesse caso, o hedonismo reverte as pessoas a condição de animais irracionais que na sanha de verem satisfeitos seus desejos, são capazes de praticar crimes, transgredindo as leis da vida em sociedade e o processo civilizatório

É óbvio que para o praticante naturista existe grande prazer em ficar nu em contato com a natureza dentro de regras rígidas de convívio social e respeito ao meio ambiente adotadas mundialmente pela Federação Internacional de Naturismo – INF, e sua afiliada a Federação Brasileira de Naturismo, a FBrN, respeitando a legislação, a cultura e os costumes de cada país. O Código de Ética Naturista é a lei comportamental que rege o naturismo brasileiro, contendo várias regras de convívio social, utilizando-se do nudismo para o melhor contato natural, promovendo a igualdade e a fraternidade entre as pessoas. O naturismo condena qualquer atitude hedonista libidinosa ou que venha contra as leis e o convívio harmonioso entre as pessoas, promovendo valores universais e resgatando o prazer em total responsabilidade e respeito para com o próximo e o meio ambiente.

*Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo – Goiasnat

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