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Jornal Olho nu - edição N°108 - novembro de 2009 - Ano X |
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AS MIL E UMA FACES DO OLHAR
por Evandro Telles* Feche os olhos, vou me trocar. Existe o receio de sermos vistos tal qual somos, isto acontece com a grande maioria das pessoas por quê? Tem artistas de teatro que já se despiram diante da platéia para representarem um determinado papel e sentem constrangidas a irem numa área naturista, por quê? A resposta é uma só, o medo do olhar. Ver e ser visto faz parte de nossa natureza. O corpo humano não tem nada de obsceno para ser coberto, uma mulher pode olhar para as mãos de um homem e pensar nas carícias sensuais que poderiam ser realizadas com seus dedos, então vamos todos andar com luvas. Na cidade de Cachoeiro de Itapemirim existe uma pedra chamada Itabira que parece um pênis, vamos cobrir a pedra também. Vamos cobrir tudo que possa ser imaginado nas mentes poluídas e doentias, então é melhor cobrir a cabeça toda. Podemos olhar com carinho, com amor, com amizade, com raiva, com ódio, com tristeza, com alegria, com pena, com deboche, com humildade, com simplicidade, com sensualidade, com intenção ao flerte, com dor, com repulsa, com desejo, com ciúmes, com inveja, enfim, mil e uma faces do olhar. Mas quando o assunto é nudez muitas pessoas só imaginam o olhar obsceno, da malícia, da promiscuidade, da pornografia, porque é isso que se tem em suas mentes influenciadas, dirigidas e condicionadas a pensarem assim, não foram educadas a olhar sob uma nova perspectiva, o mundo se fechou num redoma de valores falsificados que não conseguem sair muito facilmente. Como já disse Paulo Pereira em seu livro Corpos Nus, “Naturismo não é um oba oba”, tem que ser estudado, aprendido, vivenciado. É um olhar dirigido com naturalidade, com respeito pelas diferenças, com uma nova perspectiva de vida. É o peixe saindo de seu aquário e vendo que existem outros mundos diferentes, mais evoluídos. É preciso que os Naturistas divulguem o lado responsável deste estilo de vida, o que neste caso inclui reportagens sérias e comprometidas com o lado social e humano, o que muitas vezes não acontecem, alguns repórteres emitem opiniões pessoais com deboches deixando transparecer a sua cultura inexistente e a falta de sensibilidade em reconhecer o verdadeiro papel de um naturista. Por outro lado, muitos naturistas deixam de estudar sobre o assunto relevando o conhecimento para um segundo plano, seja por falta de tempo ou mesmo pela falta do hábito da leitura, isto provoca um distanciamento dos que não vivenciam, não são encontrados argumentos que promovam a importância de ser um naturista. Creio, inclusive, para os que ingressam neste estilo de vida deveriam fazer um curso com antecedência expondo aos iniciantes um programa dos benefícios, das responsabilidades, das condutas, enfim, uma preparação em que fossem expostos assuntos culturais e em diversos campos de conhecimento tais como a sociologia, psicologia, antropologia, médica, educação física e também da amplitude do que representa a palavra respeito. Enquanto estivermos com as mãos fechadas perguntando às pessoas o que é que temos dentro delas, sempre irá permanecer uma curiosidade do olhar, assim é com as nossas roupas, é preciso quebrar tabus, é preciso demonstrar que sexo e nudez são coisas distintas, mas tal raciocínio somente poderá ser demonstrado por aqueles culturalmente preparados. Os nossos olhares expressam na maioria dos casos os nossos sentimentos, como aqueles risos sem graça quando são vistos corpos nus, que nem sei o porquê do riso, como também aquele grito de espanto, que também nem sei por que se grita. Só encontro a justificativa da hipocrisia, é o olhar hipócrita. Escondemos nossas verdadeiras roupas por causa de um baixo sentimento de culpa por causar constrangimento a outras pessoas ou por causa dos baixos valores sociais que se enchem de orgulho quando outros corpos são vistos. Por isso falamos: “é uma baixaria só”.
A
Natureza não se curva, ela se vinga. Quando sucumbidos por olhares
maliciosos, desejosos de serem possuídos ou por pensamentos de mentes
doentias, criamos também uma sociedade mais desrespeitosa e agressiva.
Há agressões aos animais, à terra, à água e ao ar e agora precisamos
mudar isso até mesmo por uma questão de sobrevivência. Só que agora está
mais difícil porque a maioria das pessoas, por falta de conhecimento,
não conseguem enxergar que grande parte dos valores sociais até aqui
colocados não privilegia o corpo humano como algo que teria que ser
visto e respeitado de forma diferenciada, a busca foi para a riqueza das
nações e estamos pagando um preço por isso, o povo está doente, os
hospitais estão lotados, não há médicos suficientes para atender a
demanda e uma carga tributária elevada para curar os A medicina tem evoluído, não resta dúvida alguma, mas enquanto os médicos não enxergarem que a porta de entrada da maioria dos distúrbios corporais está no nosso olhar/sentimento então será uma guerra sem fim. A Louise L. Hay autora do livro “Você Pode Curar Sua Vida” cita que os maiores problemas corporais estão ligados ao amor a si próprio e a aceitação de si mesmo. Nem é preciso falar que a aceitação a si mesmo requer o desligamento por completo dos padrões de beleza e de muitos outros valores sociais que já foram citados por mim e por diversos autores em outros artigos. Os naturistas podem ajudar a Louise, não cruzando os braços, não se anulando e escondendo, é mostrando uma outra face do nosso olhar. Evandro Telles
8/08/2009 |
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