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Jornal Olho nu - edição N°113 - abril de 2010 - Ano X |
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A NUDEZ CONTINUA A FAZER HISTÓRIA por Adauto Felisário Munhoz*
Há um grande equivoco entre as pessoas associarem o pecado de Adão e Eva com o sexo e a nudez. Sem um certo conhecimento de teologia existem aqueles que fazem comparações do fruto da maçã com os genitais da Eva. Isso revela falta de conhecimento, pois a Bíblia fala num fruto e não menciona maçã, porque Deus fez pênis e vagina em ambos para procriarem. Deus diz: “...mas não comam do fruto da ciência do bem e do mal”. (Cf Gn2,17). Quando Adão se desculpa dizendo que se escondeu de Deus por estar nu (cf Gn3,10), não é a nudez do corpo a que a teologia bíblica se refere, mas porque caíram na tentação do mal. Seduzidos pelo demônio comeram do fruto com a presunção de se tornarem “deuses”, vendo que isto não aconteceu chegaram na terrível realidade da desobediência. Foi o primeiro “Não” do homem ao seu Criador.
Pelo visto a nudez era encarada de forma natural pelo povo do Antigo Testamento, pois o próprio profeta Isaias tirou suas vestimentas e durante três anos pregou inteiramente nu e sem nenhum problema de censura com o povo que o escutava. (Cf Is 20,2-3) Num outro texto ele incentiva as mulheres a ficarem nuas como forma de manifestação. ( Cf. Is 32,11 ).
Os órgãos genitais não eram vistos como algo sujo, indecente e vulgar como hoje a sociedade moderna vê, porque vivemos uma era do genitalismo desvairado onde predomina o erótico e o pornográfico, pois o juramento feito entre dois homens era colocando as mãos sobre os genitais um do outro, incluindo não só o pênis mas também os testículos. (Cf Gn 24, 2-3-9) e num texto seguinte (Gn 47,29) mostra que juramentos e promessas também eram feitos com as mãos sobre os genitais como foi o caso do Jacó com seu filho José. Também o profeta Miquéias fala em gritar, andar descalço e ficar nu. (Cf Mi, l,8).
Parece mesmo que ficar nu era uma forma de se desvestir de tudo até da própria hipocrisia e entrar em estado de graça. Tudo nos mostra a crer que a nudez era mesmo vista e considerada como algo sublime, pois o rei Saul a caminho para Naiot foi agraciado com o espírito de Deus, e então tirando as suas vestes ficando inteiramente nu, profetizou diante de Samuel. E depois continuando inteiramente despido como a natureza o fez, ficou prostrado por terra em êxtase e reflexão durante o dia todo e a noite inteira. E ninguém o censurou por estar nu, até pelo contrário, houve quem perguntasse se depois disto Saul não estaria inscrito entre os grandes profetas. (Cf I Sam 19,24). Ainda hoje essa experiência é edificante pois há quem goste de rezar e meditar em plena nudez por se encontrar desvestido de tudo diante de Deus.
Também durante a prisão de Jesus no Horto das Oliveiras de acordo com a tradição era o próprio evangelista São Marcos, o jovem que estava vestido apenas com um pano de linho envolto ao corpo e foge indo embora totalmente nu. É provável que fosse comum dormir ou andar nu dentro de casa porque e pelo visto a nudez não era vista da forma suja ou pornográfica conforme apregoa a doutrina maniqueísta que perdura até os dias de hoje. (Cf Mc 14, 51-52).
Um episódio famoso é o de São Pedro estar pescando nu quando o Mestre aparece na praia após a ressurreição. (Cf Jo 21,7). Outro caso de nudez é o famoso banho ao ar livre de Betsabéia a belíssima esposa do soldado Urias que causou encantos ao Rei Davi. (2 Sm 11, 2).
Não resta uma única sombra de dúvida sequer de que São Francisco de Assis tenha sido o ser humano de maior sensibilidade no tocante a natureza. Ele a amava, sentia-a, comungava com ela e extasiava-se com as obras do Criador. Compenetrou-se tanto que conseguiu comunicar-se com ela, como foi o famoso episódio do lobo de Gúbio, um animal feroz que ele conseguiu domesticar com suas palavras e o animal o entendeu. Este mesmo São Francisco pediu a seus frades na hora de sua morte que o despissem pois queria morrer nu sobre a Mãe Terra nua. No filme FRANCESCO uma das obras mais bonitas sobre o santo de Assis vemos ele e seus primeiros companheiros brincarem e tomarem banho nus nos riachos e cachoeiras, nus e sem malicia ou maldade alguma numa total integração com a natureza movidos por um grande amor a Deus e ao próximo. Imoral e sujo é tudo aquilo que excita os devassos e maliciosos.
O próprio São Tomás Morus em seu famoso livro “Utopia” fala que nesta cidade ninguém se casa sem antes, tanto o homem como a mulher, observarem e analisarem o corpo um do outro inteiramente nu em todos os detalhes, pois que ninguém é obrigado a casar as escuras, vindo a descobrir imperfeições físicas depois de casado. (Cf Capitulo “Dos Escravos”).
No decálogo não existe nenhum mandamento que diz: “Não andarás nu”, ou “Terás vergonha de tua nudez”.
Santo Agostinho apesar de ser maniqueísta diz: “Não devemos ter vergonha daquilo que Deus não teve vergonha de criar”. Já São Paulo Apóstolo diz que para os puros, tudo é puro. Nas praias e colônias naturistas é exatamente onde se vê e se vive o maior respeito entre as pessoas. Nem é pecado admirar uma pessoa nua, afinal essa é a obra prima de Deus. O fato das pessoas admirarem o corpo nu uma das outras não significa exatamente uma perversão sexual, é uma identificação física dos seres humanos. Anormal seria pensar o contrário, repudiando o outro ser humano com asco, seria uma repulsa contra si próprio e contra seu próprio corpo e uma afronta contra o Criador. O machismo latino não permite principalmente ao homem admitir essa idéia de achar outro homem bonito, pois segundo a hipocrisia da sociedade, comprometeria sua masculinidade o que não deixa de ser um equivoco parvo. No entanto a Bíblia afirma que não houve em todo o reino de Israel um homem tão belo e perfeito como Absalão, filho do rei Davi, escultural das plantas dos pés ao vértice da cabeça. (2 Sm 14, 25-27).
No seu célebre quadro intitulado “Sagrada Família” também chamado de “Tondo Doni”, pintado entre 1503 a 1504, Miguel Ângelo nesta belíssima iconografia coloca em primeiro plano a Virgem Maria com São José e depois o Menino Jesus inteiramente nu. Já no fundo do quadro em segundo plano estão presentes cinco jovens nus com os genitais à mostra. Eles são rapazes humanos e meio anjos representando a pureza. Porque não há nada mais perfeito para simbolizar a pureza humana do que a própria nudez. Podemos afirmar que se trata mesmo de um “Ícone naturista”.
O naturismo, desvestido de toda hipocrisia coloca os seres humanos de forma igual. Louis Charles Royer em seu livro, “Ilha dos Nudistas” testemunha sua cura de obcecado sexual através do naturismo. Não se pode ignorar que o mundo está genitalizado e como dizia um pensador cristão dos anos setenta em um de seus livros: “Parece que a grande parte das pessoas não possue mais cérebro, cerebelo e massa encefálica dentro da cabeça, mas em lugar destes órgãos estão um pênis e uma vagina nadando no meio do esperma”.
Muitos valores da vida foram substituídos pela devassidão lasciva, ocultos dentro de uma falsa moral ética e hipócrita. E isso é confundido com a pureza, a beleza e a liberdade do naturismo que nada mais é do que, o encontro do ser humano consigo mesmo, com a Mãe Natureza e com o próximo. Nossos irmãos índios sabem disso melhor do que ninguém.
Não se pode confundir NATURISMO com NUDISMO. Naturismo é a nudez natural e pura como a de nossos indígenas, chegando a ser pueril, já o nudismo visa a depravação e o deboche insinuante da pornografia que humilha e degrada o ser humano. Com toda certeza quem viveu uma só vez a experiência do naturismo jamais será a mesma pessoa. O naturismo não é só uma experiência do encontro consigo mesmo, mas também com o próximo e com a vida em plenitude. Ajuda a evoluir, respeitar e valorizar o outro como ser humano e filhos do mesmo Criador. Todo naturista é ecologista, não existe naturismo sem ecologia.
A nudez em si é pura, bonita e salutar. O que torna a nudez feia é o pensamento sujo de certas pessoas equivocadas que tem problemas de repreensão em relação a moral e com a sua própria lascividade. Todos nos nascemos nus e no fundo, bem lá no íntimo de cada ser humano há este anseio de liberdade. Nossos índios vivem nus a séculos e entre eles há um clima de respeito e naturalidade. O próprio Hans Staden, personagem histórico, teve a experiência de viver totalmente nu por um bom tempo, junto a nudez de nossos indígenas no litoral paulista. Grotesco, cômica e agressivas são algumas cenas do filme “BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR” (At Play In The Fields of The Lord), onde a mulher do pastor protestante norte-americano considera imoral a nudez de nossas índias e tenta vestir nelas calcinhas e sutiãs. Perverter o que é natural para o antinatural é que é profundamente imoral e ridículo.
*Adauto Felisário Munhoz, é autor também do texto "A nudez na História" que já foi publicado em vários sites naturistas. É paulista do interior, quarentão, produtor fonográfico e naturista desde criança pois seus pais lhe deram a liberdade para isso. |
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