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Jornal Olho nu - edição N°113 - abril de 2010 - Ano X |
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Naturalmente - abril 2010 por Paulo Pereira*
Parece mesmo que o bicho-homem, em geral, não se dá conta de que é, sobretudo, finito... Na Terra, ou na terra, prevalece a transitoriedade. Tudo se transforma, tudo passa. Com sabedoria, Maupassant observou que a vida é um reino de metamorfoses. E, por falar em metamorfoses, lembremos que, para apreciar as borboletas, é necessário suportar, e preservar, as lagartas... A vida, em síntese, é um conjunto de escolhas, que busca caminhos, mas que, com freqüência, até se perde em atalhos. Especialmente quando se trata do bicho-homem, primata paradoxal, que nasce nu, mas às vezes quer fazer da nudez uma capa santa ou um mero item de supermercado.
Eis a questão: para ser naturista, basta tirar as roupas? A nudez, nosso traje natural, de nascença, pode, de alguma forma (ou por qualquer pretexto) ser imposta? O naturismo, já centenário, aceita adequadamente adjetivações? O naturismo pode ser um pretexto? O naturismo, é sabido, tem conseguido afirmação por sua naturalidade, por sua universalidade, por sua fraternidade, por sua não-violência, por sua dignidade despojada. Então, que se busque o diálogo inteligente em lugar do conflito e da vaidade.
Alguém bem humorado me disse recentemente que, se o bom senso fosse vendido, seu valor de mercado certamente estaria em alta, em que pese a pouca procura... A vida é equilíbrio e não uma vasta e estúpida dissonância. Marco Lucchesi, escritor premiado e consistente, que não é encontrado por aí, numa feira-livre qualquer, recorda os textos de Novalis, o poeta da Flor Azul, o revelador da “substância”, aquele que traz a imagem sublime da vida absoluta... Embora as fantasias eventualmente façam parte do cotidiano, sobretudo do cenário hipócrita, a vida não é mera fantasia. E o notável Lucchesi indaga (e eu humildemente sublinho sua indagação transcendente): “No mundo em que vivi até hoje quem jamais se afligiu por flores?”... Reflitamos.
Acariciando, pois, as flores, volto a Lucchesi: “A flor azul é o símbolo do enigma da coisa, do pleno desenvolvimento e explicitação de tudo aquilo que neste mundo só existe como possibilidade e germe, encapsulado na ganga amorfa da materialidade. Somos apenas a semente, o broto de uma floração maravilhosa que divisamos no amanhã, entre brumas, na região indefinida do sonho. Longinquidade infinita do mundo das flores”.
Seria preciso, e oportuno, que cada ser humano fosse uma boa semente: a semente da sabedoria, da prevalência dos valores naturais, sem falsos pudores, com muita serenidade e paz. O verdadeiro naturismo deve ser edificado pelo respeito, pelo auto-respeito e pelo respeito pelo outro, numa comunhão desarmada, e nua como a natureza manda.
Abril/2010
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