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Jornal Olho nu - edição N°114 - maio de 2010 - Ano X |
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Atire a primeira pedra por Siro Darlan
O Desembargador Siro Darlan, juiz titular da 1ª Vara da Infância e
Juventude da Comarca do Rio de Janeiro e conselheiro do CEDCA -
Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (RJ) - e
diretor adjunto de Cidadania e Direitos Humanos na área da Infância
e Juventude da Associação dos Magistrados Brasileiros,
Convidado para um debate na Rede TV para manifestar minha opinião sobre um ensaio fotográfico onde uma mãe aparecia com seu filho adolescente, ambos de calça jeans e nus da cintura para cima, porém sem aparecer os seios de sua mãe, causou-me perplexidade ao ver como duas modelos que haviam posado nuas em revistas masculinas condenavam sua colega.
Mais que as críticas das duas modelos, causaram embaraço ouvir as precipitadas conclusões apresentadas por algumas psicólogas que foram capazes de analisar uma simples fotografia como sinais de complexo de Édipo e outras conclusões dignas da hipocrisia como é tratado esse assunto em parte de nossa sociedade.
Se, por um lado, como é natural em um país de clima tropical, somos capazes de usar sumários biquínis e sungas nas praias e nas manifestações culturais das escolas de samba sem dar a essa forma de vestir ou despir o corpo de qualquer conotação erótica, por outro lado tratamos o tema do sexo como um tabu, e isso tem causado danos irreparáveis a crianças e adolescentes, que só tem acesso a esse assunto por vias transversas.
A gravidez precoce, as doenças sexualmente transmissíveis têm sido algumas consequências da falta de tratamento educativo da sexualidade. A falta de informação tem levado jovens a práticas desviantes e crianças à vitimização como é o caso da pedofilia e outras formas de exploração sexual.
Seria diferente se escolas e famílias abordassem a sexualidade como natural, a ser objeto de processo educativo e não tratado como pecado que tem levado muitos ao divã dos analistas e outros aos bancos dos réus.
Essa lição é muito antiga, pois já na Lei de Moisés estava criminalizado o adultério, e, quando os fariseus quiseram tentar Jesus apresentando-lhe uma adúltera para ser apedrejada conforme previsto na Lei de Moisés, o Mestre desafiou que atirasse a primeira pedra aquele que não tivesse pecado. Como todos se retiraram com "o rabinho entre as pernas", Jesus voltou-se para a mulher e disse: se ninguém te condenou, também não te condeno.
Esse episódio emoldura bem a hipocrisia com que o assunto tem sido tratado. Condena-se a adúltera como se o adultério fosse ato unipessoal. Porque não condenavam também o homem adúltero? E, porque transformar o sexo num pecado quando Deus, ao criar a Terra, determinou que a multiplicação das espécies se fizesse através da prática sexual?
Sobre o debate ocorrido na TV, a modelo, depois vim a saber, é mãe presente na vida de seu filho, cuida do jovem com muito carinho e amor. O jovem, por seu turno, é tido como educado, estudioso e respeitoso para com a mãe, que o inicia na carreira de modelo.
Portanto, o que é preciso indagar é se aqueles ou aquelas que lhe estavam a atirar pedras não tinham lá seus pecados por inveja, por frustração,ou pelo "prazer" de atirar pedras nos outros.
(enviado em 5/05/10 por Pedro Ribeiro) |
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