Segundo
a narrativa bíblica do livro de Gênesis, o homem e sua mulher quando
estavam no paraíso viviam nus; e isto, aos olhos do Criador, era muito
bom (Gênesis 1:31). Não só a condição primordial do ser humano, bem como
tudo o que fazia parte daquele contexto foi considerado por Deus
perfeito ou muito bom. A partir da desobediência, sentiram desejo de
cobrir seus corpos, não porque tiveram vergonha de suas formas físicas,
mas para aplacar os sentimentos de indignidade e culpa, para cobrir a
nudez da alma.
A tentativa de auto-justificação se tornou algo comum na história
humana. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento aparece inúmeros
exemplos deste artifício. Mas como demonstrou o Criador lá no Éden,
todas estas tentativas seriam frustradas, pois só o Cordeiro de Deus que
um dia seria sacrificado, poderia cobrir verdadeiramente a alma humana.
Esta reflexão nos faz compreender o passado e o presente do homem; um
ser buscando melhorar, buscando alcançar a auto-justificação diante de
todos. Se esforça muito para alcançar merecimento, prestígio, status,
valor pessoal. Neste contexto as roupas cumprem o papel de impressionar
os outros e talvez a si próprio também. As folhas de figueira que nossos
pais usaram para tentar melhorar a imagem deles diante de Deus,
evoluíram para grifes sofisticadas. Hoje em nossa sociedade, a
apresentação pessoal está baseada no vestuário usado. Seja para entrar
em um templo ou para frequentar as rodas sociais tem que se estar
devidamente trajado.
O que deveríamos na realidade buscar é vestir o espírito com os dons que
nos faltam. O que vestimos em nosso corpo cria uma mera fantasia. A
dignidade humana não se prendia ao vestuário quando Deus considerava
tudo bom e perfeito. A dignidade humana se estabelece quando o indivíduo
está internamente curado ou plenamente equilibrado.
Presos em nossas convenções e formalidades, muitas vezes não conseguimos
ver a realidade do que realmente somos. Estas criam uma dignidade
ostentada, e tudo o que é ostentado geralmente é falso. O Criador nos
fez autênticos e puros. A corrida humana em busca da paz e da felicidade
tem se demonstrado extenuante. O caminho para o equilíbrio e a paz pode
estar mais perto do que pensamos, se passarmos a nos ver com mais
sinceridade e realismo. Não que todos os simbolismos humanos sejam maus,
mas a hipocrisia geralmente se abriga onde não há transparência. Onde os
rótulos assumem o valor da essência ou dão uma impressão falsa dela.