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Jornal Olho nu - edição N°117 - agosto de 2010 - Ano XI

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PERFEITOS EM SUA NUDEZ

por Aguinaldo da Silva*

Segundo a narrativa bíblica do livro de Gênesis, o homem e sua mulher quando estavam no paraíso viviam nus; e isto, aos olhos do Criador, era muito bom (Gênesis 1:31). Não só a condição primordial do ser humano, bem como tudo o que fazia parte daquele contexto foi considerado por Deus perfeito ou muito bom. A partir da desobediência, sentiram desejo de cobrir seus corpos, não porque tiveram vergonha de suas formas físicas, mas para aplacar os sentimentos de indignidade e culpa, para cobrir a nudez da alma.

A tentativa de auto-justificação se tornou algo comum na história humana. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento aparece inúmeros exemplos deste artifício. Mas como demonstrou o Criador lá no Éden, todas estas tentativas seriam frustradas, pois só o Cordeiro de Deus que um dia seria sacrificado, poderia cobrir verdadeiramente a alma humana.

Esta reflexão nos faz compreender o passado e o presente do homem; um ser buscando melhorar, buscando alcançar a auto-justificação diante de todos. Se esforça muito para alcançar merecimento, prestígio, status, valor pessoal. Neste contexto as roupas cumprem o papel de impressionar os outros e talvez a si próprio também. As folhas de figueira que nossos pais usaram para tentar melhorar a imagem deles diante de Deus, evoluíram para grifes sofisticadas. Hoje em nossa sociedade, a apresentação pessoal está baseada no vestuário usado. Seja para entrar em um templo ou para frequentar as rodas sociais tem que se estar devidamente trajado.

O que deveríamos na realidade buscar é vestir o espírito com os dons que nos faltam. O que vestimos em nosso corpo cria uma mera fantasia. A dignidade humana não se prendia ao vestuário quando Deus considerava tudo bom e perfeito. A dignidade humana se estabelece quando o indivíduo está internamente curado ou plenamente equilibrado.

Presos em nossas convenções e formalidades, muitas vezes não conseguimos ver a realidade do que realmente somos. Estas criam uma dignidade ostentada, e tudo o que é ostentado geralmente é falso. O Criador nos fez autênticos e puros. A corrida humana em busca da paz e da felicidade tem se demonstrado extenuante. O caminho para o equilíbrio e a paz pode estar mais perto do que pensamos, se passarmos a nos ver com mais sinceridade e realismo. Não que todos os simbolismos humanos sejam maus, mas a hipocrisia geralmente se abriga onde não há transparência. Onde os rótulos assumem o valor da essência ou dão uma impressão falsa dela.

*Aguinaldo da Silva

Teólogo e escritor


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