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Jornal Olho nu - edição N°120 - novembro de 2010 - Ano XI

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A NUDEZ NA ARTE E NA VIDA     

Por Jorge Bandeira*

A nossa existência tem sido condicionada por normas e regras, e desde nossa formação elementar nos deparamos com situações que nos colocam à prova, em especial quando nossa nudez é posta em circulação além das quatro paredes em nossas casas e seus aposentos. Quebrar esta regra é a tarefa de um ser humano além de seu limite, um ser naturista, um solitário nesta sociedade têxtil.

A visão deste cognominado naturista é feita de um recurso capaz de inocentar o paradigma do pecado que é perpetrado de maneira capciosa por uma sociedade que insiste na culpabilidade dos que estão nus, inevitavelmente vítimas de chacotas e outras aleivosias, calúnias e adjetivos pejorativos, como por exemplo exibicionistas, tarados, recalcados, amorais, etc.

A nudez, que fique claro, é nesta visão simplista e preconceituosa, uma ação de transloucados, afeminados, machões tarados e uma fauna indescritível de psicopatas que deveriam ser banidos da face da terra. Não é um exagero, infelizmente não. O critério de normalidade nesta sociedade é feito um mundo de ponta-cabeça, tal qual um teatro do absurdo repetido diversas vezes, com cenas de incoerência e com mazelas disfarçadas de atos legais.

O atentado ao pudor é um crime tipificado, mas a dança erotizada de crianças e jovens em roupas minúsculas, balançando as nádegas e simulando sexo nas coreografias de axé ou pagode universitário pode ser apreciado por todos, sem nenhuma recriminação. O importante nesta hipocrisia é que a nudez não seja projetada aos olhos “puros” e imaculados dos espectadores, inocentes totais nesta vida tão normal e pacata.

Aos naturistas restou o medo, a dissimulação, e talvez por isso a maioria dos naturistas estão na “melhor idade”, gozando de seu naturismo em estado de aposentadoria, quando as perseguições e calúnias estão anuladas ou minimizadas pela situação de estar livre de sansões da legalidade jurídica e outras variantes de um contrato ainda vigente entre o trabalhador e o seu patrão.

Esta é a situação, e não adianta mudar de uma hora para outra este panorama triste em que nosso movimento naturista se encontra ao longo de sua história de avanços e recuos históricos. Assisti hoje, em frente ao famoso Teatro Amazonas a um exemplo disso que relatei acima, diante de um público atento, durante um festival de dança local, jovens na faixa etária de 12 a 15 anos dançavam provocativamente, com esfregações de genitálias, bundas, seios, o que era, a despeito da dança com vertente de axé music, uma esculhambação mesmo. Isso pode, pois todos estavam vestidos com aqueles figurinos ridículos, com a bunda balançando de um lado a outro, sem escrúpulos. Isso pode, sem problemas, ainda mais com as letras de um teor malicioso e os cabelos no estilo consagrado pelos jogadores de futebol, o moicano. Isso pode.

A nós, pobres naturistas, resta a clandestinidade ou o medo, e enquanto a Lei do Naturismo fica na gaveta, nossa nudez será refém desta situação humilhante.

*Fundador do Graúna, Grupo Amazônico União Naturista, vice-presidente da FBrN.

Manaus, 9 de agosto de 2010 – dia internacional dos povos indígenas.

(enviado em 26/09/10 por Jorge Bandeira)


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