O CORPO
NU É A MENSAGEM : REGINA JOSÉ GALINDO (Parte 2)
por Jorge Bandeira*
Cada vez mais, um sinal de
alerta e aviso permanece em minha mente: sem a arte nosso Naturismo terá
vida efêmera, servindo apenas para holidays de júbilo e encontros
ocasionais de naturistas eventuais e não permanentes. Essa constatação é
feita por mim ao me deparar com uma artista singular, ou pelo menos não
comum: Regina José Galindo. As performances de nudez total desta
guatemalteca são lindas e profundamente sugestivas do impacto que nossa
nudez pode causar aos transeuntes, ao cidadão, ao pensador, ao povo.
Performance com uma nudez
que é urgente, que desmascara as atitudes terríveis de ditaduras e
preconceitos. Em muitas delas o código de ética do naturismo
internacional é contemplado de forma brilhante, e isso é um serviço
magnífico que esta artista presta ao movimento naturista. Uma nudez de
combate, o inverso desta nudez ocasional de final de semana, que como
toda lógica das férias e dos passeios, passam tão rápido que pouco fica
em nossa memória. O que permanece, que tem vida mais durável nos cantos
profundos de nossas consciências, são atitudes de reflexão, de impacto
sensorial. A diversão é importante, claro, mas apenas isso é tão pouco
para as urgências naturistas que precisamos vencer. Ampliação de
naturistas, participantes ativos nos grupos e associações, jovens que
são peças raras em nosso movimento, ampliação dos núcleos familiares que
cada vez estão sumindo de nossos encontros.
Atividades de
sensibilização são este novo-velho eixo que devem vir à tona neste
século XXI para o Naturismo. Há momentos que esta ação direta deve
ocorrer, de forma imediata, nas frentes culturais, por exemplo: Teatro,
música, artes plásticas, poesia, dança, vídeo, fotografia, hiper-texto
naturista, etc. Escolha uma e deixe de lado, um pouco, os comes e bebes
dos encontros. Tenha um tempo para ensaiar. Veja abaixo o que um CORPO
NU de uma artista pode contribuir com nossa querida causa naturista, que
faz com que tenhamos uma esperança no futuro. Para não cair em
contradição com o que acabo de digitar neste universo binário da
informática, as imagens das performances em nudez total ou parcial de
Regina José Galingo serão acompanhadas de legendas poéticas, para uma
maior apreciação estética e crítica de vocês, nobres leitores, nus,
nuas, com vestes ou sem vestes.
PELE
– Ao caminhar nua pelas ruas mais erráticas deste corredor de
infinidades corporais, depilei cabelos e pelos dos mais especiais. Não
basta só tirar a roupa para que percebam que percebam que existo, e se
acham que de outro planeta sou, restaram-me os cílios para me terem em
suas retinas serenas. A minha nudez não mais os embaraça, um outro
código visual foi retirado de minha derme. Ninguém se aproxima, temem o
câncer gay, nestes termos mesmo, seus baús conservam códigos primordiais
de preconceitos. Nua prossigo meu caminhar em busca do tempo perdido,
longe demais de Marcel Proust.
PLÁSTICA – Eu sou este
pedaço de carne/eu peso muito/preciso emagrecer de forma urgente/meu
médico falou que minha conta bancária é suficiente para garantir minha
alegria/meu corpo é feito de televisão e de cinema/eu sou a máquina
excludente/eu vivo por minhas sobras/o lixo hospitalar me
agrada/satisfaz meu paladar.
PENA – Prisioneira e
violada pelo regime/política gosta de nudez/quem disse que não está
mentindo/nudez serve ao estado/quem disse que não está mentindo/minha
anistia não carrega etiquetas/eu sou a mulher nua que não está todos os
meses nas bancas/nua carrego minha sombra vestida de sangue e lágrimas.
BLIND – Nua para
ninguém/olhos que não me comem/eles precisam pegar no meu corpo nu/a
sensação completa jamais será alcançada/sou a estátua da amargura
nua/não jorra água de minha fonte/talvez/para minha perplexidade
maior/estes seres que me tocam entendam minha nudez em sua
essencialidade/arranquemos nossos olhos/voltemos a enxergar.
*Jorge Bandeira, escritor,
naturista.
Vice-presidente da
Federação Brasileira de Naturismo.
Manaus, 13 de novembro de
2010.
Vicaflag@hotmail.com
http://www.graunaam.com.br
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