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Jornal Olho nu - edição N°122 - janeiro de 2011 - Ano XI |
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Amplo direito de defesa
Amigos,
Mais uma vez venho comunicar uma notícia triste: negaram nosso pedido de habeas corpus e meu pai continua preso.
Desta vez, as alegações do desembargador foram que “pela grande quantidade de fotos, há indícios de que o réu faz parte do crime organizado e divulga as fotos das crianças e adolescentes nuas na Internet, comercializando-as” e “como ainda está sendo investigado, sua soltura fica prejudicada, pois ele poderia ocultar alguma prova”. Disse ainda que “a sociedade está muito vulnerável a este tipo de crime” o que torna meu pai um sujeito de alta periculosidade.
Bom, fico
espantado quando leio tudo isso sobre o meu pai, uma pessoa que conheço
há 27 anos e que durante todo este tempo nunca observei tal
periculosidade. Aliás, meus amigos de infância também o conhecem. E seus
amigos. E sua família. E seus antigos funcionários. E seus antigos
colegas de Banco do Brasil. E seus vizinhos desde a época que ainda
morava em Minas Gerais. Será que toda essa gente também vê a “alta
periculosidade” existente no meu pai? Acho que até agora só o pessoal da
justiça enxerga isso. E garanto a vocês que nenhum deles conhece meu
pai.
1) 20 anos de naturismo e 500 fotos apreendidas (na sua maioria de famílias inteiras, inclusive a minha, com adultos, idosos e crianças), o que dá, fazendo uma conta rápida, uma média de 25 fotos por ano. Não me parece um número exagerado para um álbum pessoal. Do meu casamento pra cá (10 meses), devo ter cerca de 1.500 fotos armazenadas e mais umas 300 impressas. A diferença é que, ao contrário do meu pai, nas minhas fotos, estamos vestidos. Opção nossa. Será que se estivéssemos nus também estaríamos sendo acusados de alguma coisa? A nossa sociedade é desinformada, e confunde nudez com pornografia. E essa diferença é exatamente o que os naturistas tentam divulgar, mostrando a nudez como “uma forma pura de interagir com a natureza”, afinal nascemos nus e a maldade do homem é que nos faz cobrir o corpo (escutei isso do meu pai a vida inteira). Até agora não acharam nenhum site dedicado à pedofilia ou à pornografia com as fotos do meu pai. Acredito que nossa polícia científica seja muito eficiente e se existisse tais sites, esses já teriam sido descobertos, afinal vamos chegar a seis meses de investigação. Não sou conhecedor do Direito, mas acho, como leigo, que ninguém deve permanecer preso antes do julgamento só por causa de indícios, sem nada concreto. E, repito, cadê o dinheiro que meu pai ganhava com a venda dessas fotos? Estamos precisando para pagar os custos para tirá-lo da cadeia.
2) Há 3 meses, meu pai me procurou para dizer que suspeitava que estava sendo investigado, pois a polícia tinha chamado pessoas para depor. Fiquei preocupado, mas fui tranqüilizado por ele, que me disse que não tinha feito nada e não tinha nada a esconder. Diante disto, meu pai não fez absolutamente nada. Continuou morando no mesmo lugar, continuou freqüentando os mesmos locais, não apagou nenhuma foto do computador. Bom, qual o risco de ocultação de provas? Se é que elas existem, pois já vasculharam tudo sobre o meu pai, e o que acharam: um naturista chato, defensor dos seus ideais, protetor de seus filhos, estudante de engenharia, mão aberta com todos (talvez esse seja o fato de ser tão pobre, nunca vi um rico mão aberta). Mais uma vez pergunto: podem manter alguém preso sem julgamento apenas por “achismos”? Ou deve acontecer algo concreto para terem certeza de que o réu vai ocultar provas, coibir testemunhas e atrapalhar as investigações? Sou leigo, desculpem-me se estou pensando errado. Sempre me disseram que se a pessoa for ré primária, com residência e emprego fixos, não ficava presa até o julgamento. O que estou vendo é totalmente o contrário. Acho que me ensinaram errado.
Vamos entrar com mais um pedido, agora junto ao STJ. Espero que os excelentíssimos senhores ministros sejam mais coerentes com a lei e menos sensibilizados com a mídia. Enfim, que façam o papel deles.
Hoje é Natal. Não festejei com meu pai (que ceiou com água mineral e comida de cadeia, acompanhado do carcereiro de plantão, muito gente boa por sinal). Fica o ensinamento do aniversariante de hoje: devemos amar a todos sem distinção ou preconceitos, não devemos julgar ninguém por não agir do jeito que achamos convencional, todos somos iguais perante o Senhor.
Agradeço a força de todos, sem a mesma não estaríamos de pé.
Não desistiremos.
“Ele não julgará pelas aparências, e não decidirá pelo que ouvir dizer, mas julgará os fracos com equidade, fará justiça aos pobres da terra, ferirá o homem impetuoso com uma sentença de sua boca e com o sopro de seus lábios fará morrer os ímpios.” Isaias 11:3, 4.
João Pessoa, 25 de Dezembro de 2010. Nelci Rones de Sousa Júnior
Fonte: http://www.diariopb.com.br/carta-de-nelci-rones-junior/
(enviado em 26/12/10 por Jorge Barreto)
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