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Jornal Olho nu - edição N°123 - fevereiro de 2011 - Ano XI |
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A ilha esquecida no tempo por Pedro Ribeiro*
Neste dia 21 de fevereiro, se estivesse viva, a precursora do naturismo no Brasil, Dora Vivácqua, mais conhecida como a bailarina Luz del Fuego, estaria completando 94 anos de idade. Um de seus maiores feitos pró-Naturismo foi ter conseguido uma concessão de uso de uma ilha na baía de Guanabara, nomeada como Ilha do Sol, que se tornou a Meca dos naturistas brasileiros da década de 1950 e 1960.
A ilha reservada exclusivamente para a prática naturista recebeu, além dos naturistas nativos, figuras ilustres nacionais e internacionais do cinema e da política. O sonho de Luz acabou em 1967 quando foi assassinada por dois pescadores. Os motivos desse crime ainda não foram esclarecidos totalmente, mas na região onde se localiza a ilha, os pescadores atuais contam que ela foi a primeira pessoa que lutou ecologicamente pela região, denunciando a pesca predatória que ali era realizada através de explosões de bombas no mar. Os dois pescadores que a mataram teriam sido alvo de suas denúncias e daí o crime por vingança.
Tão tamanha importância do espaço físico Ilha do Sol tem para a história do naturismo brasileiro que a equipe do jornal OLHO NU resolveu visitar a ilha e tentar captar o espírito vivenciando por Luz.
Para se chegar até lá, se você não tiver um barco, é necessário alugar o serviço de um. A equipe contratou por R$ 80,00 o serviço do barqueiro Fábio Lacerda, 36 anos, ex-marinheiro, que foi nos contando algumas histórias que ele ouviu falar sobre Luz.
A equipe era composta por mim, Valério, João e Carolina. Acertamos com o Fábio que ele viesse nos pegar ao lado da estação das barcas de Paquetá, próximo ao Iate Clube. Fábio chegou com um bote a motor juntamente com seu inseparável e esperto cão Puppy, que viaja na proa da embarcação, como se fosse uma estátua viva, que vai abrindo caminho com seus uivos e latidos sobre a tranquilidade do mar da baía. Em cerca de dez minutos chegamos à Ilha do Sol. Aliás dia de Sol forte e temperatura alta, bem convidativo para um mergulho. Mas faltou coragem para cair naquelas águas muito poluídas.
As primeiras impressões revelaram o esperado. É uma pequena ilha rochosa, com enormes pedras que a cercam. Muita vegetação e ruínas. Mas ao nos aproximarmos mais a primeira surpresa. Havia um outro barco ancorado bem na entrada do pequeno píer natural. Fábio alertou então que normalmente barqueiros da região visitam a ilha para fazer piqueniques com suas famílias. Bem, o sinal de alerta já ligou. Então não seria possível experimentar o Naturismo ali.
De fato, ao atracarmos logo avistamos um grupo de cinco pessoas, sendo dois casais e uma criança bem pequena, mas que já andava e falava. Me apresentei a eles e perguntei se eles sabiam que ali era a Ilha do sol, sobre Luz de Fuego e sobre a prática do Naturismo, todos responderam positivamente, mas não deram qualquer sinal que não se importariam caso resolvêssemos ficar nus naquele que já tinha sido o templo do naturismo brasileiro há anos atrás. Estavam fazendo churrasco embaixo da sombra de um frondosa árvore.
Nós começamos a exploração da ilha e já constatando que o abandono e o descaso ali é regra. Muito lixo espalhado, garrafas plásticas de refrigerantes e água. Garrafas de vidro inteiras e quebradas tornando perigosa a falta de atenção por onde se pisa. Muitos urubus nas copas das árvores, levando a crer que haveria lixo orgânico em grande quantidade.
A construção principal, que foi casa de Luz, com quarto, sala e outros cômodos ainda está de pé, porém com o piso da sala arriscando a desabar. As paredes estão todas pichadas com nomes, frases, declarações e muitas outras coisas. Não existe qualquer vestígio de mobília sanitária. Deve ter sido tudo roubado.
A outra construção que foi o salão de festas está totalmente destruída. Sem teto e paredes quase sem vestígios de sua existência anterior. O mato e algumas árvores brotaram do piso rachado.
Fomos para o outro lado da ilha que fica em frente à cidade de São Gonçalo. Lá outra surpresa. Dois homens cortavam muitos galhos das pitangueiras abundantes. Um deles estava vestido com um roupa semelhante ao uniforme dos garis da Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro. Perguntei porque estavam fazendo aquilo e responderam que os galhos desta árvore são ótimos para fazer vassouras para varrer ruas de terra. A presença deles sepultou de vez nossa intenção de ficar nus.
A ilha tem cerca de 8 km² e somente dois pequenos lugares de onde se pode entrar na água em segurança, ou seja, sem esbarrar nas pedras. O restante de todo litoral é constituído de rochas algumas bem altas. Ficamos por mais uma hora na ilha até que percebemos que os dois que pegavam galhos de pitanqueira tinham ido embora. Então resolvemos fazer a foto naturista para registro. As família estava tomando banho de mar no outro lado. Carolina mesmo assim não se sentiu à vontade para tirar a roupa. Convidamos o barqueiro que nos levou a tirar uma foto conosco da forma naturista. Ele concordou.
Findo o ritual voltamos ao bote, com um misto de desilusão e esperança. A desilusão foi encontrar o local tão abandonado e deteriorado. A esperança é que surgiu um lampejo de, quem sabe, formamos ali um museu em homenagem a ela, com um pequeno parque bem cuidado e um centro cultural...
(realizado em 26 de janeiro de 2011)
Leia também nesta edição: NATPersonagem - Luz del Fuego
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