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Jornal Olho nu - edição N°123 - fevereiro de 2011 - Ano XI |
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Caminhos cruzados: A Arte, a Nudez e a Pornografia
publicado em
artes e ideias por
Rejane Borges em 6 jan 2011 O corpo humano causa fascínio e é exaltado como algo naturalmente belo. Como instinto, a nudez sempre foi e será o meio pelo qual o homem busca uma conexão com o seu próprio ser e com a criação.
O poeta e pintor inglês
William Blake afirmou que “a arte jamais poderia existir sem expor a
beleza da nudez.” Desde os primórdios dos tempos a nudez pertence à
arte, estando presente nos ateliês de artistas clássicos e
contemporâneos, assim como está presente em todas as outras vertentes
artísticas. O corpo humano é visto como uma obra de arte. E como tal é
contemplado. Afinal, é uma notável composição de músculos, uma máquina
que reage e funciona à base de emoções. Que sangra, que expressa. Que
causa prazer para quem sente e vê, de uma desconcertante (im)perfeição.
Todos sabemos o que é algo pornográfico, não é necessário dizer. A arte pode ser pornográfica, sem dúvida. Mas nem toda pornografia pode ser arte. É, no entanto, delicado determinar o que é ou não arte. Cada um vê a beleza de modo muito particular. Por isso, uma questão mais importante forma-se: é uma boa arte? Por vezes uma mente imatura, ou puritana, execra toda e qualquer manifestação da nudez, sem levar em consideração que não se trata apenas da estética, mas sim do conceito que encarna naquela obra. É preciso enxergar além do que se vê. Isso deixa claro que, em determinadas ocasiões, é uma questão puramente de moralismo, porquanto ofender-se com uma imagem pornográfica é mais conveniente, desqualificando-a como arte.
É estranho que algumas
pessoas se escandalizem com a exposição dos órgãos genitais, alegando
que é algo grotesco e que alude puramente a luxúria, mas não se importam
em admirar uma imagem sensual. Ora, a simples sensualidade é tão obscena
quanto a pornografia, pois revela o que não está ali, desperta a
imaginação, usa a nudez como pano de fundo para uma idéia mais sutil,
mas que seduz e convence. Pablo Picasso disse ser “a arte algo perigoso,
pois é reveladora”. E não é somente uma arte pornográfica que revela.
A famosa escultura de Davi – de Michelangelo – é a mais óbvia e explícita exposição do corpo humano. É pornografia ou é arte? A pergunta soa estúpida, não? A questão é que Davi é uma das mais belas obras a exaltar o corpo humano. É tecnicamente bem feito, é hiper-realista, é inebriante. Uma obra espetacular incontestável do Renascimento que fala conosco por meio da nudez e muito além da nudez. Se for uma boa arte, o que chamará a atenção não será apenas o corpo exposto e sim uma série de impressões e conceitos inerentes a ela. É o que acontece com o bom observador.
O escritor britânico Joseph Conrad disse sabiamente que “o autor escreve apenas metade de um livro. A outra metade fica por conta do leitor”. Creio que tal idéia pode ser aplicada à arte. O observador é uma extensão daquilo que observa, pois é dele a interpretação, independente da intenção do artista. São os conhecimentos e as inferências feitas pelo observador que vão responder a pergunta que realmente deve ser feita: é uma boa arte?
(enviado em 7/01/10 por Peladistas Unidos) |
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