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Jornal Olho nu - edição N°123 - fevereiro de 2011 - Ano XI

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Toda nudez será castigada? “Entre a Emancipação, a Naturalização e a Banalização da Nudez Feminina”.

 

por Dra Claudia Bonfim*

 

A nudez feminina sempre foi alimento para o imaginário masculino, porém interessante pensarmos como em dada época a nudez do corpo feminino representava um fetiche altamente instigador do desejo masculino. O que me inquieta não é a naturalização do nu, mas a banalização não apenas da nudez, mas do corpo e da sexualidade feminina. A naturalização implicaria em respeito, assim como ocorre entre naturistas e entre nativos.. Viver naturalmente que está muito longe do conceito de viver de maneira banal.

 

Se por um lado a nudez feminina traz consigo a redescoberta do corpo, por outra tem representado uma banalização e coisificação do corpo feminino como objeto a ser consumido, e com um estereótipo, um padrão ideal socialmente determinado de beleza, reduzindo a beleza de uma mulher meramente ao seu corpo.

 

Nossa inquietação se dá pelo fato do corpo deixar de ser visto com admiração e encantamento e passar ser visto como apenas objeto sexual (coisificação do corpo). Questionamos se isto, em vez de caracterizar uma emancipação da sexualidade feminina, teria se tornado, por conta da visão moralista ou machista da sociedade, uma vulgarização do corpo feminino. Pois, se a sensualidade deu lugar à vulgaridade, se o olhar de desejo e encantamento, passou a ser apenas de um olhar banal sobre um objeto sexual. Isto, fruto de uma sexualidade mercantilizada pela sociedade capitalista consumista.

 

Essas questões nos levam a pensar se tamanha exposição do corpo caracteriza-se como um momento de libertação da sexualidade feminina e a superação da visão dogmática moralista patriarcal, ou se nos dias de hoje, esta simbolizaria a vulgarização e banalização da nudez, do corpo (coisificado), e, consequentente, a perda da sensualidade, do erotismo, substituído por uma banalização, pela pornografia e pela vulgarização que transforma o corpo em mero objeto sexual consolidando a visão capitalista e mercantilista do sexo.

 

Sobre a sexualidade feminina, é possível verificarmos historicamente que apresenta avanços e contradições. Mesmo em pleno séc. XXI, ainda vivemos numa sociedade que não conseguiu encontrar o equilíbrio para uma vivência saudável e plena da sexualidade. Vivemos numa sociedade sexualmente em crise, ainda pautada em dogmas, tabus e preconceitos e falsos moralismos, e por outro lado uma sociedade que usou o hedonismo para tornar o sexo um produto de mercado, uma sexualidade de pura libertinagem, sem limites éticos e estéticos e sem respeito e cuidado com o próprio corpo.

 

 

Mesmo após tantos avanços e debates a mulher ainda é alvo de violência familiar desde a infância, e seu desenvolvimento sexual e podado, negado, reprimido ou abusado, e mesmo na adolescência e depois em adulta, continua sofrer violências sexuais, emocionais, afetivas, intelectuais, sociais, econômicas, físicas etc. Precisamos avançar para conseguir viver plena e saudavelmente nossa sexualidade. Estamos entre a libertinagem e a liberdade, precisando encontrar o ponto de equilíbrio, mas sabemos que muitas mulheres condicionadas pela visão dogmática e reprodutiva da sexualidade não tenham em pleno século XXI se permitido conhecer e viver sua sexualidade de maneira plena e saudável.
Então toda nudez será castigada?

 

NÃO. O verdadeiro nu artístico (não o das playboys da vida), mas a arte do nu como forma de mostrar a expressão da verdadeira arte e da beleza humana, da evolução e emancipação da mulher, eu admiro e respeito.

 

Eu, por exemplo, gostaria de ter nascido índia, porque o corpo é naturalmente belo, nascemos nus e somos vestidos com indumentárias e vestidos de tabus, preconceitos e olhos maldosos, portanto essa nudez fabricada, mercantil, a nudez vulgar que está longe de ser sensual, que transforma o ser humano num objeto, que transforma o erotismo em pornografia, é algo que como mulher e educadora sexual eu tenho sim que repudiar!

 

Que nos seja sim permitido ter o corpo e a alma desnudos, mas respeitados. Que possamos nos desnudar especialmente das garras da sociedade capitalista mercantil.

 

Que seja permitido nos despir de toda maldade, dos tabus, preconceitos e dogmas.

Que nos seja permitido ver além das máscaras e photoshops!

Que possamos nos encantar e apreciar a verdadeira nudez do corpo e da alma!

 

Ao meu ver, não quadro mais belo que aquele em dois corpos nus despidos de todo condicionamento e maldade, se entregam e amam intensa, plena e verdadeiramente.

 

(enviado em 12/01/10 por Peladistas Unidos)


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