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Jornal Olho nu - edição N°124 - março de 2011 - Ano XI |
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Naturismo em praia na corda Bamba por Pedro Ribeiro* Na primeira assembleia ordinária da nova diretoria da FBrN durante este último CongreNAT, levantei uma questão que tem me afligido há muito tempo: como tratar os frequentadores das praias naturistas que não são naturistas e quebram o código de ética? Dei um exemplo concreto que havia ocorrido horas antes quando eu me dirigia para a praia do Pinho, saindo do Paraíso da Tartaruga, sede da Associação dos Amigos da Praia do Pinho (AAPP), onde estava hospedado juntamente com mais dois membros da Associação naturista de Abricó. O Paraíso da Tartaruga fica ao lado da Praia do Pinho. Há uma saída para a praia por cima das enormes pedras que a cercam, no lado esquerdo. Flagramos um rapaz se masturbando na trilha entre a pequena prainha e a praia propriamente dita, que não parou nem quando passamos a cerca de dois metros de seu pênis, o que me irritou e acabei o interpelando. Mas a reação dele em vez de envergonhar-se foi de enfrentamento e aí aumentei o tom. Ameacei com a chamada da polícia e ele agiu com desdém. Saliento que até chegarmos neste ponto passamos por outros homens em atitudes suspeitas, mas que disfarçavam quando nós nos aproximávamos. Éramos dois homens e uma mulher. Este caso é emblemático porque ele é igual em todas as praias de nudismo no Brasil. Muitas das pessoas não naturistas confundem Naturismo com libertinagem, com o tudo pode. Não é problema apenas da praia do Pinho. Por experiência própria, como presidente da Associação que gerencia a praia do Abricó no Rio de Janeiro, enfrento problemas como esse constantemente. Recebemos muitos visitantes não naturistas, que aparentemente vão se sujeitar às regras, pois retiram as roupas, mas, no entanto, se comportam como animais no cio. Não são somente homens sozinhos, também casais e em menor número, mulheres sozinhas. A praia do Abricó conta com infra-estrutura de apoio somente nos sábados, domingos e feriados ensolarados, nos demais dias a regra é do oba-oba. Há relatos escabrosos, com casais que transam na areia diante de uma grande pateia masculina que se masturba sobre seus corpos, ou casais que oferecem as mulheres para o sexo a outros homens, ali mesmo, com fila organizada. Além de sexo grupal entre homens e toda sorte de ilegalidade. A quantidade de camisinhas recolhidas aos sábados quando a associação faz a limpeza da praia é impressionante. Também as drogas não estão de fora. Porque acontece tudo isso? Porque o poder público é ausente e não atende os pedidos de apoio das associações de todo Brasil. Situações como estas levam as associações a organizarem seu próprio staff de apoio, que deveriam apenas fiscalizar e orientar, mas são obrigados a atuarem de forma incorreta como se fossem policiais. Quando interpela alguém e este reage, não adianta chamar a polícia pelo nacional 190, pois ela simplesmente não vai. Vi na praia do Pinho carros da polícia circulando por dentro do complexo, mas nenhum policial foi à areia nem caminhou pelas pedras, que são os lugares onde estão os maiores problemas. Na região da praia do Abricó há carros da polícia circulando, de um lugar que sequer dá para ver a areia. Quando interpelados e pedimos ajuda sabem o que falam? Não temos ordens para descer do carro (??!!!), chamem o 190! No verão do ano passado o Comandante do 31º Batalhão da Polícia Militar, Tenente Coronel Adilson Lourinho da Silva, esteve na estrada em frente à praia do Abricó e eu me apressei em falar com ele sobre nossas necessidades. Quando me apresentei como presidente da Associação Naturista de Abricó, antes de eu continuar, colocou para fora todo o preconceito que a sociedade carrega contra o naturismo, dizendo que aquilo lá era uma grande putaria, cheio de drogados e mulheres e homens em busca de sexo. Acusou também a associação de encobrir o uso de drogas dos frequentadores. Depois de ouvi-lo indignado, respondi que se isso tudo era verdade era por causa do não cumprimento do dever dele de colocar policiamento na praia como em qualquer outra praia do estado, que os constantes ofícios da associação pedindo isso deviam estar enfeitando alguma cristaleira ou servido de papel de rascunho. A discussão foi tensa. Cerca de uns dez minutos depois consegui arrancar-lhe o número de um celular, me dizendo que eu o chamasse caso tivéssemos algum problema com drogas (que era o que mais o preocupava). No mesmo dia mais tarde fiz uso do número. O tempo mudou e a praia ficou quase vazia. Flagrei um casal transando na areia que ainda teve a ousadia de me convidar para participar do ato. Indignado expliquei-lhe o que era naturismo e que a punição para tal ato era a retirada do infrator da área naturista. Fui brando e me arrependi. O casal se vestiu, andou até a barraca do vendedor e lá ficou bebendo e me ignorando. Pedi para o segurança interpelá-lo e o casal falou que era mentira minha. Aí eu decidi chamar o número. O Tenente coronel queria saber se era caso de drogas. Acabei dizendo que sim. Em dez minutos estavam dois policias querendo saber o que aconteceu, pela primeira vez em quase vinte anos de praia de nudismo. Mesmo assim o rapaz continuou sendo arrogante e acabou irritando o policial. Fomos todos para a delegacia onde queria apresentar queixa. Na delegacia, novamente o preconceito. O escrivão ou seja lá quem for disse que não ia registrar o caso porque atentado ao pudor só existe em vias públicas. E lá era mesmo uma praia de nudismo mesmo e que deveria ser proibida. O Naturismo foi salvo por outro escrivão que mostrou o código penal para o ignorante senhor, que constatou que o atentado ao pudor ocorre em locais públicos ou de acesso ao público. A ocorrência foi feita, mas me fez perder muitas horas na delegacia. E me deixou muito estressado. São inúmeros outros casos que flagramos, mas que não contamos com a ajuda que ocorreu neste caso. Como agir então? O que é pior para a imagem do Naturismo? Deixar as coisas ocorrerem "naturalmente", com as cenas de sexo e degradação se repetindo, consumidores de drogas que não estão nem aí para o mundo ou interpelamos e corrermos o risco de sermos acusados de milicianos quando reagimos a uma afronta? O naturismo é para as famílias ou não? Acredito que coisas semelhantes devem ter ocorrido em Tambaba, que levaram ao Ministério Público a sugerir um TAC ilegal de proibir a entrada de menores na praia. O poder público não cumpre sua parte, mas na hora da cobrança está lá no ato. Vale lembrar que a praia do Abricó foi decretada para a prática do naturismo em 1994, uma semana depois foi proibida até 2003. Neste período havia dois policias de plantão para evitar que as pessoas tirassem a roupa naquele pedacinho de paraíso. Hoje em dia, nós pedimos e eles dizem que não tem contingente suficiente para nos atender. Quando é o naturista associado que quebra a regra (o que é raro) o tratamento é fácil, pois basta aplicar a ele as sanções previstas no estatuto. Mas quando é um pelado apenas, o que fazer? Não tem qualquer compromisso com a praia, muito menos com o Naturismo. Se o local for fechado, não tem problema, ele vai fazer suas putarias em outro lugar, pois sempre vai aparecer alguém que defenda o seu direito de ir e vir. Há poucos dias na praia do Abricó, num sábado de sol, portanto com a associação presente, um frequentador fumava tranquilamente seu cigarro de maconha quando foi interpelado por uma fiscal. a reação dele foi de agressão verbal, falando coisas escabrosas para uma mulher, do tipo que ela estava ali procurando os membros viris dos machos, que ela estava é com muita vontade de dar e que estava frustrada, entre outros impropérios, mas ditos evidentemente não desta maneira "carinhosa" que descrevi acima. Como um cidadão que age desta maneira espera ser tratado? Mesmo assim a fiscal teve sangue frio, pois ela é mesmo segurança na sua vida particular, e conseguiu conduzi-lo para fora da praia sem maiores indiscrições. Momentos mais tarde ele retornou, foi interpelado mais uma vez pela fiscal. Ele alegou que ninguém tinha o direito de impedi-lo de entrar na praia e confessou que voltava para fumar mais uns. E quem iria impedi-lo? Revoltada a fiscal procurou o responsável pela associação do dia, e contou-lhe que estava acontecendo. Um outro frequentador da praia ouviu e se antecipou e decidiu ele mesmo expulsar o cidadão encrenqueiro com um pedaço de pau. Ficou apenas na ameaça, pois não houve agressão de fato, mas foi os suficiente para expulsá-lo e deixar diversas pessoas indignadas com a associação, achando que nós exageramos. O que fazer então nestes casos? Onde está o poder público? O que é pior pra a imagem do Naturismo, uma praia hedonista ou a luta para ter as regras do naturismo respeitadas? Regras estas, aliás, que não são diferentes das regras sociais e criminais que existem em todos os outros lugares públicos. Devemos fechar nossos olhos e achar que se masturbar em público é apenas uma forma de demonstrar emoção, como já ouvi pessoas dizerem. A diferença é que algumas pessoas levam a sérios as regras e leis, coisas que boa parte da população brasileira não preza. Esta é a questão. O naturismo nas praias está na corda bamba. Sua imagem pode ser abalada por qualquer lado desde que o poder público não atue como deveria. |
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