OS PERCALÇOS DA EVOLUÇÃO HUMANA
por
Aguinaldo C. da Silva*
Uma sociedade que se
vangloria por ter alcançado os mais altos níveis de desenvolvimento
científico, educacional e filosófico, que tem no humanismo o referencial
de seus valores sociais, propicia ainda fatos descabidos ou no mínimo
esquisitos.
Outro dia, um dos mais
acessados sites de notícias deste país, trazia em sua página principal
uma manchete assim: “Mulher nua é fotografada pelo Google Earth em uma
sacada de Hong Kong”. Recentemente a notícia de uma mulher nua resgatada
por bombeiros em um costão de mar correu o mundo. Ela estava a caminho
da praia e perdeu a trilha.
Ora, o que há de inusitado
nos fatos citados? Seria anormal, numa sociedade humana, a simples visão
de um corpo também humano? Não eram alienígenas nem seres humanos em
mutação. Mas se tratava de seres normais de nossa espécie que nada
fizeram de espantoso nem de admirável. Simplesmente estavam despojados
de uma cobertura têxtil.
Evoluímos nalguns
aspectos, mas parece que estamos involuindo em outros. Pois nenhuma
outra espécie exige que seus indivíduos andem cobertos continuamente.
Entre os índios não veríamos tal reação. Um índio jamais ficaria
escandalizado por avistar sua vizinha nua na varanda de sua casa. Muito
menos ficaria espantado ao saber que indivíduos de sua tribo foram à
praia nus.
Expor seu corpo à luz do
sol na visão de outros indivíduos da mesma espécie deveria ser um ato
plenamente normal, natural e comum, para quem se aceita humano, livre e
educado.
Que nossa civilização já
foi mais grotesca eu não tenho dúvidas. Basta lembrar do que já se fez
com os negros, índios e judeus, entre tantos outros atos desumanos e
cruéis presenciados neste mundo. Contudo, no processo de aperfeiçoamento
humano, estamos ainda longe do ideal, caminhamos a passos lentos e
curtos. Pensemos em como temos tratado as demais espécies animais. Na
crueldade dos abates para justificar nosso sustento ou simplesmente para
exibir suas peles em trajes luxuosos. Na exploração predatória dos
recursos naturais e em tantas outras agressões e injustiças aos mais
desfavorecidos de nossa sociedade.
Realmente falta muito em
consciência e sensibilidade para nos declararmos como uma sociedade
humanizada. O que mais se carece em nosso século é de reflexão! O
simples exercício do raciocínio já seria algo muito positivo. Mas isto é
sobremaneira difícil para boa parte de nossa sociedade. É mais fácil
seguir as convenções estabelecidas, os modismos, a superficialidade da
maioria. Pensar, ser consciente, é coisa para maluco! É mais fácil não
questionar e tomar uma atitude subserviente aos valores de nossa época,
buscar o mesquinho, aquilo que é tacanho ou leviano.
Mas para não parecer
pessimista, penso que o presente quadro pode ainda ser revertido pela
boa educação, por bons exemplos na sociedade, por gestos e atitudes
maduras. Quem sabe no futuro, a visão de um corpo humano não seja mais
chocante. Das matérias citadas no início, só choque a lembrança de que
um dia o ser humano não podia simplesmente estar nu. Vivamos para ver!
(enviado em 13/04/11)