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Jornal Olho nu - edição N°126 - maio de 2011 - Ano XI |
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ANDRÉA, MINHA FILHA. A Praia do Pinho é um doce recanto do litoral catarinense. Neste verão, finalmente, deixei a selva de pedra paulistana e segui os ditames do corpo – fui conhecer Camboriú, capital sul-americana do naturismo. Após algumas horas de viagem lá cheguei. A cidade estava repleta de turistas, os hotéis superlotados, as praias encobertas por um mar de guarda-sóis multicoloridos. Tudo muito bonito, mas a minha intenção não era usufruir os bons restaurantes da cidade, os barzinhos da moda ou me acotovelar em busca de espaço na orla marítima. Levava-me ali um desejo quase secreto – visitar a praia do Pinho, Meca dos naturistas brasileiros. Já acompanhava o movimento naturista há alguns anos e, em casa, eu e minha mulher nunca tivemos receios ou inibições de ficarmos nus frente aos filhos. Eles também partilhavam deste nosso modo de vida. Nem todos, pois minha filha, tendo ingressado na puberdade, começou a evitar o despir-se na minha frente, desde um incidente desagradável, ocorrido anos atrás. Foi assim: tínhamos chegado da praia – morávamos então no litoral – e Andréa (este é o seu nome) correu ao banheiro para tomar uma ducha. A porta ficou aberta, como de costume. Logo depois chegou uma coleguinha perguntando por ela. Disse-lhe que a minha filha estava tomando banho, mas que podia ir ao banheiro. Prontamente dirigiu-se para lá. Minutos após, como necessitasse pegar alguma coisa no local, com naturalidade empurrei a porta semi cerrada. Nunca presenciei tamanho espanto! A garota, que estava sentada em uma banqueta, deu um pulo e se postou ereta, com os olhos arregalados a me olhar. Penso que peguei o pincel de barba ou a escova de dentes e saí. Nas minhas costas ouvi sonoras gargalhadas a não mais parar: – Teu pai, teu pai te viu pelada!! Desde então minha filha evitou mostrar-se nua na minha frente. Respeitei o seu desejo, mas confesso que, no fundo, me magoava bastante, pois sempre busquei educar meus filhos livres de preconceitos e tabus. Enfatizava que não havia razão para nos envergonharmos do corpo nu, que Deus não nos criou de paletó e gravata. A oportunidade de conhecer o Pinho surgiu quando Andréa ingressou na Faculdade de Medicina e eu tive que acompanhá-la ao Sul. Disse-lhe então que, na volta, pretendia conhecer esse centro naturista. Ela não se mostrou refratária à ideia, mas notei-a um tanto apreensiva. Ali chegamos nas vésperas do carnaval. Eram 8 horas. A praia já mostrava movimento. Fomos recepcionados, logo na chegada, por João e Rejane, um simpático casal baiano, que nos explicou as regras e normas a serem seguidas. Regra nº 01: Como a praia do Pinho é uma praia naturista vocês devem estar trajados adequadamente, ou seja, apenas com o corpo que Deus lhes deu. E por aí foi... A conversa rolou gostosa e franca. Parecíamos velhos amigos. João falava da beleza do lugar, dos pressupostos filosóficos que norteiam a prática naturista, de Trancoso – onde se pratica naturismo, na Bahia. Rejane entabulava descontraída conversa com a Andréa, que tudo ouvia entre surpresa e maravilhada. Na linha divisória do setor para sócios e casais outras pessoas uniram-se a nós e o círculo de amizade se estendeu. Foi então que, para surpresa e alegria minha, vi renascer toda aquela espontaneidade que julgava perdida em minha filha. Vestida de luz, levada pelo vento, vi-a caminhar altiva pela praia, subir as pedreiras, sorrir, envolver-se com as ondas. Sem timidez. Formosura plena. No Paraíso da Tartaruga conhecemos o Celso Rossi, presidente da FBN e nos tornamos associados da AAPP. Descíamos as pedreiras quando ela me disse: -- Como é bom conhecer pessoas como você!
Edson Medeiros – São José
dos Campos /SP SOU NATURISTA, ENFIM! Eu e meu pai estávamos voltando do Rio Grande do Sul, em direção a São Paulo, quando ele decidiu conhecer Camboriú. Sabendo que iríamos para lá, tinha certeza que ele não deixaria de ir à Praia do Pinho. Pensei comigo: Não vou criar obstáculos, impedir que ele realize o que há muito quer – conhecer pessoas que, com espontaneidade ‘curtam’ a natureza. Apesar de um certo receio agüentei a barra e o acompanhei. Realmente eu evitava que em nossa casa alguém me surpreendesse nua. Não gostava. Ficava um tanto inibida. Assim é que, às vezes, brincando me chamavam de “bundinha de ouro”. Não era moralismo. Eu nada tinha contra as pessoas que ‘curtiam’ o naturismo mas, mesmo dando valor a quem desta maneira pensasse, era muito difícil conseguir vencer as repressões desta sociedade instalada dentro de mim. Nem sei explicar. Foi uma coisa mágica. Vendo as pessoas que ali estavam vivendo a nudez de um modo tão natural, sem artificialidades e ostentação, consegui, até para surpresa minha, me desfazer dos fios com os quais a sociedade me aprisionava. De marionete passei a me sentir pessoa livre. Foi uma experiência maravilhosa. Gostei muito do lugar e das pessoas que lá estavam, mas gostei ainda mais de poder ver o brilho dos olhos do meu pai, demonstrando a felicidade de ter uma filha naturista, a qual assume COM MUITO ORGULHO! Andréa – São José dos Campos/SP In: “Pinho É”, n° 10, pág. 32. Março / Abril – 1990. (enviado em 19/04/11 por Evandro Telles) |
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