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Jornal Olho nu - edição N°128 - julho de 2011 - Ano XI

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Nudez e Moralidade

Por Aguinaldo C. da Silva*

 Uma das questões que vem à tona quando se aborda o tema Naturismo é a questão moral. Não seria algo lascivo, dispor da nudez desveladamente entre sexos opostos? Afinal, qual é o teor de desejo e de volúpia gerados no ambiente de nudez social?

É importante considerar que esta resposta passa pelos olhos do observador ou daquele que analisa a questão. Aos olhos do observador, me refiro a forma como cada indivíduo interpreta o mundo e se relaciona com suas emoções. Para interpretar a realidade, geralmente fizemos associações em torno dos nossos sentimentos e valores. Cada grupo social, em todas as épocas e lugares, criou símbolos para representar situações, sentimentos e valores.

Encontramos um bom exemplo disto na forma como certos povos classificam a beleza física e a sensualidade. As mulheres de algumas tribos na África e na Ásia alongam o pescoço para se sentirem mais atraentes. Com o mesmo propósito alguns nativos da Etiópia deformam os lábios acoplando nestes uma espécie de tablete de barro. Este costume se verifica em vários povos nativos.

Em outras épocas e culturas havia representações diferentes das que temos hoje em nossa cultura para expressar a sensualidade. No antigo Egito, mostrar os cabelos era algo considerado libidinoso. Para os antigos egípcios ver as mulheres com os cabelos soltos tinha conotação erótica, e as mulheres se limitavam a fazer isto em particular, apenas nos momentos que antecediam a prática sexual.(1)

 Qualificar a nudez como moral ou imoral depende, dentre outros aspectos, do contexto cultural envolvido. No passado, na ilha de Samoa, era costume das mulheres cobrirem-se apenas da cintura para baixo. Quando os missionários americanos lá chegaram e começaram a distribuir camisas para as mulheres, isto trouxe certo constrangimento, pois a prática de cobrir o torso era comum para as mulheres de má reputação.

Com relação à nudez pública, nossa civilização associou como algo obsceno ou de caráter extremamente vexatório. Não irei discorrer aqui sobre os elementos que contribuíram para isto, mas apenas dizer que neste processo pesou muito mais certas noções dogmáticas de comportamento que a clara racionalidade humana.

É importante lembrar de que a sensualidade está muito mais ligada a atitudes e formas de comportamento do que nas figuras e objetos em si. Não é a visão do corpo em si, que desperta o desejo, mas no que sugestiona tal visão. São detalhes da expressão corporal, trejeitos, posturas que revelam certas intenções.

No ambiente de nudez social a sedução está mais ligada a aspectos da personalidade, pois a fantasia da curiosidade pelo corpo do outro já se desfez.
O fetichismo está muito mais presente no ambiente em que as roupas imperam. Ao cobrirmos apenas a genitália ou as partes consideradas erógenas, acaba se potencializando o desejo em torno do que se busca esconder

Muitos que desconhecem a filosofia naturista acham que ao ver outra pessoa em total nudez serão dominados pelo desejo erótico, ocasionando-se e a perda da conduta moral. Talvez isto seja verdadeiro para aqueles que desenvolvem a sexualidade pelo prisma da lascívia. Mas o parâmetro não deve ser estabelecido pelo desequilíbrio, mas pelo que melhor qualifica o ser humano e o desenvolve.

A análise madura mostra que a causa da atração não está somente num corpo belo ou bem proporcionado, mas também numa personalidade atraente e cativante. Se ambos os aspectos fazem parte da atração e do amor romântico, é no segundo que se consolida uma relação rica e duradoura. Neste sentido o naturismo é educador, por desprezar a sensualidade extremada.

Talvez o que torna o Naturismo difícil de ser aceito atualmente é sua posição de equilíbrio, ou seja, não pendendo nem para a promiscuidade sexual nem para a repressão ao corpo. Uma tendência de nossa sociedade, nos últimos tempos, é de seguir os extremos. Uma posição de equilíbrio pode soar estranho para aqueles que estão acostumados a posições extremadas, baseadas em análises tendenciosas ou superficiais.

(1) SEXO NO MUNDO ANTIGO. History Channel.

Apresentado em 14/02/2011 às 21:00hs.

*Aguinaldo C. da Silva
Teólogo e escritor
aguinaldodasilva@yahoo.com.br

(enviado em 15/06/11)


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