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Jornal Olho nu - edição N°128 - julho de 2011 - Ano XI |
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Da nudez aos panos, tudo é moda! Por Edson Terto da Silva* Da nudez dos nossos índios, na época do descobrimento comandado por Cabral e sua trupe de navegadores portugueses, até os dias de hoje em que, dizem, as roupas ditam estilo das pessoas, ainda não consegui chegar a uma conclusão sobre o que é estar ou não na chamada moda. Quem pode dizer que nossos antepassados, lá em 1.500, não tinham estilo ou não andavam na moda, embora estivessem nus? Ora, e as penas coloridas que enfeitavam mulheres e guerreiros, as miçangas, as pinturas para festas ou guerras e outras indumentárias utilizadas pelos habitantes do Novo Mundo? Afinal, para eles que às suas costas tinham só vastas florestas de variados tons de verdes e a frente o infinito mar de variados tons azuis, o Velho Mundo sequer existia. Imaginemos então o choque que os nativos tiveram ao verem desembarcar das caravelas pessoas tão diferentes, desde a cor bem mais branca e com os corpos cobertos com algo que sequer conheciam: panos. E cá entre nós, se existe mesmo o estar ou não na moda e entendo moda como estar confortável e sentindo-se bem, os navegantes portugueses estavam é por fora. Chegaram ao escaldante trópico certamente utilizando tecidos, ou restos deles, já que a viagem não deve ter sido fácil, que usavam na Europa, de clima mais frio e, como havia entre eles fidalgos ligados à nobreza real portuguesa, por certo alguns utilizavam peças e mais peças de roupas para demonstrarem status. E os religiosos então? O que devem ter passado diante da inocente nudez das mulheres de pele morena, encabuladas, mas de olhares curiosos para aqueles seres que surgiam do mar trazidos pelas embarcações de madeira? Bem ou mal, acredito eu em meus 25 anos de jornalismo e quase 50 anos de leigo em moda, que estava ali criada no Brasil, que ainda nem tinha nome, o primeiro choque da polêmica sobre quem estava na moda ou fora dela... os primitivos índios certamente acharam que eram os europeus, enquanto que os civilizados portugueses, por certo acharam o contrário. O passar dos anos mostrou que as culturas tanto podem se mesclar e ampliarem-se ou simplesmente uma pode anular a outra e é o que pensamos ter ocorrido com a maior parte dos nossos primeiros habitantes. Modas e costumes europeus começaram a ganhar mais espaço, enquanto os índios perdiam mais florestas e ganhavam mais roupas, pelo menos os que habitavam mais perto do litoral. Paradoxalmente, na atualidade, no litoral os civilizados andam cada vez mais nus e, exceto se o corpo for muito ruim, sem causar choque ou escandalizar, pelo menos a maioria. No Brasil, a introdução da moda européia ganhou variantes nas diversas regiões e de acordo com as épocas. Houve ainda a necessidade de se mesclar tais vestimentas com as dos africanos, muitos dos quais reis e nobres aprisionados em seus países de origem, que tiveram de trocar suas roupas nobres e ricas jóias por molambos, além de serem submetidos ao trabalho forçado e maus tratos físicos. E assim, no meu modesto entendimento, foi se formando a moda brasileira, ou moda de cada um, com influência mais forte africana na Bahia, mais francesa e holandesa em Pernambuco e outros estados do alto Nordeste, italiana,alemã e polonesa no Sul, japonesa, árabe e italiana em São Paulo , moda de sobrevivência, feita com couro, nos sertões mineiros e nordestinos. Ah, mas e o povo é igual na moda? Claro que não, a nova burguesia busca a última moda no estrangeiro e com o passar do tempo, moda para muitos no Brasil só existia se viesse da Europa ou dos Estados Unidos da América. E estou errado? Até movimentos de protestos, como a contracultura hippye passou a ser vendida em lojas de grife, comprar roupa em brechó, aparentemente algo para atender camadas menos providas de poder aquisitivo era chique para burguesia, desde que as velharias vendidas fossem assinadas por estilistas renomados. Cá entre nós, eu ficava mesmo na filosofia de um antigo compositor de rock baiano, que dizia que o homem tinha todos os direitos, inclusive o de vestir-se da maneira como quisesse e até de tomar banho de chapéu. Na faculdade e era anos 80, via colegas trocar o também estilo importado do jeans velho e desbotado das calças e jaquetas pelas calças xadrezes e camisas verde-limão ou laranjas do New Wave e aquilo era estar na moda, estar na turma. E eu, que achava que uniforme até podia ser legal para quem estivesse numa carreira militar ou em determinada escola, obviamente não me rendia aquela moda de ser mais um igual na multidão, que tinha que demonstrar aparências, vestir o que todos vestiam, ouvir as músicas que todos ouviam e dançar as mesmas danças. Isso era a moda? Meus amigos deixaram topetes nas épocas de Elvis e James Dean, usaram cabelos escovinhas na época em que canhões acabaram com a liberdade, deixaram os cabelos crescer quando surgiram os Beatles, usaram muito gel na época da Disc Music, passaram a pintar os cabelos para imitar alguns cantores, hoje alguns cortam moicano para imitar algum jogador e eu ? Bom, meus cabelos que foram longos quando eu quis, curtos quanto eu quis e que agora rarearam contra a minha vontade, continuam os mesmo, mas a minha voz mudou para não ser óbvio igual ao antigo comercial de Xampu. Quanto as roupas, se moda for seguir uma tendência de usar algo só porque todos estão usando, decididamente estou fora de moda e me volta a dúvida sobre quem estava por fora lá em 1.500, os índios nus ou os vestidos aventureiros e futuros conquistadores de terras que não lhes pertenciam? Fonte: http://www.webartigos.com *Edson Silva, 49 anos, é jornalista
(enviado em 16/06/11 por Peladistas Unidos) |
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