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Jornal Olho nu - edição N°128 - julho de 2011 - Ano XI |
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Naturalmente - Julho/ 2011 por Paulo Pereira* Na edição de junho, fiz referência a um episódio de nudez no mar gelado de Copacabana, e enfatizei a velha pergunta: a nudez incomoda tanto assim?… Penso, então, no nosso dia-a-dia apressado, superficial, e consulto meus alfarrábios, sempre. A antiga revistinha “Rio-É”, da extinta Rio-Nat, em seu número 33, 1994, página 3, destaca um artigo importante, simples e significativo, de Varja Hahn, sob o título de “O Zen Ocidental e o Naturismo”… Cito o autor: “Hoje a gente lê a palavra “zen” com certa freqüência, mas não era assim em 1953, quando me bacharelei em Filosofia… Só vim a tomar conhecimento do termo “zen” numa série de artigos do Prof. Carlos Pacheco sobre análise existencial, publicados em 1960 na Folha de São Paulo… Fiquei curioso… Um dia, dando uma olhada nas estantes de uma livraria, descobri um exemplar do livro “Introdução ao Zen-Budismo”, de D. Teitaro Suzuki, traduzido por Murillo Nunes de Azevedo.” Nesse mundo turbulento, parece precioso falar em meditação, em zen-budismo, em vida mais serena. Tenho salientado esse viés com alguma insistência. Nas páginas de “Rio-É”, segue a palavra de Varja Hahn: “Comprei o livro. Sentei-me à sombra, num banco de praça, e comecei a lê-lo. Nunca uma leitura me prendera tanto. A noite começava a cair, quando cheguei ao último capítulo… Não sabia que aquilo, que eu chamava de “insight de insights”, tinha o nome de “satori”. Mas o episódio que ligou o que eu, então, chamava de “minha aventura espiritual” ao naturismo ocorreu em 1955, em São Paulo… E, na época, ainda se podia beber da água da Represa de Guarapiranga se a gente sentisse sede enquanto nadava”. Os ensinamentos do budismo e as águas ainda puras da represa faziam o autor do artigo ficar mais à vontade, mais integrado, em comunhão com a natureza, com a verdade natural, certamente sem dogmas ou culpas. E, falando de “insights”, ele nos diz: “No Zen Ocidental, “insight” é a consciência clara das forças que interagem numa situação dada, e do modo de ação de cada uma delas… Ao terminar um de meus exercícios a nado, resolvi trocar de roupa, retirar o calção… No ponto onde eu deixara minhas roupas, havia apenas um casal, distante, sentado à beira da represa… Como ainda estava observando a disciplina mental de referir tudo à idéia de necessidade, perguntei-me se era realmente necessário esconder-me para trocar a roupa. Uma das coisas que achava mais difíceis, em certos casos, era determinar se algo era necessário ou não… E não me escondi: experimentei a nudez. O rapaz e a moça trocaram um sorriso e voltaram, calmos, o olhar para as águas da represa… Em síntese, a boa experiência à beira da represa fez-me igualmente lembrar da parábola bíblica sobre a autorização divina a Adão e Eva para comerem de todos os frutos das árvores do Paraíso, menos da árvore da ciência do bem e do mal… Sorri quando me ocorreu a idéia de que a prática, o despojamento, estava a demonstrar que minha moral não era uma moral com folha de parreira…” A moral do nudista é a moral natural, sem medos ou pecados, do jeito que a mãe natureza manda, e de acordo com os fundamentos da prática naturista oficial, sem preconceitos. A matéria aqui referida, da antiga “Rio-É”, é rica de ensinamentos. É importante cultivar as intenções puras e o despojamento, como sugere o budismo, evitando sempre a prevalência dos egoísmos, dos meros desejos e dos apegos. A maioria dos humanos tem a tendência de buscar complicações, especialmente para tudo que, na essência, é simples e despojado, como a prática nudista-naturista, por exemplo. A filosofia do nudismo-naturismo, como nos ensina Welby, é apenas natural, sem a preocupação do porquê. Ninguém nasce vestido… O Lama Surya Das, sábio, nos lembra que a chamada sabedoria supõe, inclusive, um treinamento, uma dedicação séria, um conhecimento respaldado. É preciso ver as coisas como elas são, e não como imaginamos, ou desejamos, que elas sejam… A nudez é simples e natural. Ponto. Evitemos meras subjetividades. Já S. Kierkegaard, a propósito, escreveu: “Para nadar, uma pessoa precisa tirar todas as suas roupas; para a aspirar à verdade é preciso se despir de uma maneira bem mais profunda, tirando as roupas interiores, livrando-se dos pensamentos, dos conceitos, do egoísmo, antes de estar suficientemente nu”. O praticante consciente do nudismo-naturismo, afinal, deve estar, pois, despojado, sem sincronias estranhas, sem culpas, sem medos, sem dogmas ou crendices; o nudista-naturista, enfatizo, deve estar suficientemente nu, do jeito que nasceu, naturalmente. Em tempo: Na próxima Bienal do Livro, em setembro, farei o lançamento do meu novo livro, que completa a minha “trilogia naturista”, pela Editora Livre-Expressão. Em agosto, darei maiores informações. Temos um encontro marcado. *Biólogo, tradutor, autor dos livros “Corpos Nus – Verdade Natural” e “Naturalmente, Um Perfil Documentado” e Ex-Presidente da Rio-Nat (Associação Naturista do Rio de Janeiro)
(enviado em 24/6/11) |
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