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Jornal Olho nu - edição N°128 - julho de 2011 - Ano XI |
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Nudez Ritual Fonte: Doreen Valiente, “Enciclopédia da Bruxaria” O fato de algumas bruxas da atualidade acreditarem na antiga ideia da nudez ritual é uma das coisas que agentes sensacionalistas sentem prazer em divulgar. De vez em quando nós temos a chance de sermos surpreendidos com alguns artigos do jornal de domingo com vívidas descrições de “orgias de nudez para adoração do demônio” e outras coisas parecidas, que supostamente acontecem na Grã-Bretanha dos dias de hoje. No entanto, os covens mais antigos, que evitam publicidade inoportuna, de maneira geral não fazem grande insistência quanto à nudez ritual, embora eles não vejam nada de absurdo em sua prática. Para alguns ritos, em uma noite de verão bastante quente, ou em lugares fechados, próximo ao fogo, é um prazer estar sem as roupas. Para outros ritos, em lugares ao ar livre na escuridão do Halloween, ou à meia-noite da Lua Cheia em alguma floresta solitária, é muito mais razoável estar muito bem agasalhado. A ideia da nudez como parte de um rito mágico ou religioso é encontrada por todo o mundo antigo. Nas famosas pinturas da Vila dos Mistérios, em Pompéia, a jovem garota que está sendo iniciada aparece vestida e com o rosto coberto por um véu, mas, ao fim da cerimônia de iniciação, ela é mostrada dançando nua, em um estado de êxtase religioso. Ela abandona todas as suas preocupações terrenas, todas as distinções de classe; ela é agora uma pessoa una com a natureza e com a vitalidade do universo. É essa liberdade e beleza que constituem o êxtase religioso para os pagãos. Temos, no Antigo Testamento, em especial Samuel I, XIX-24, que os profetas antigos ou videntes de Israel profetizavam em um estado de nudez ritual. Nisso, eles eram como os Gimnosofistas, ou os Homens Sábios Nus da Grécia Antiga (do grego gymnos, nu, e sophos, sábio). Talvez, por essa razão, a idéia chegou até os romanos e gregos de que a nudez ritual era favorável para a realização de ritos mágicos. O que tinha começado como um costume religioso acabou tornando-se algo mágico. Charles Godfrey Leland, em seu “Magia Cigana”, observou as frequentes aparições da nudez ritual nos feitiços das Bruxas e no folclore em geral. Ele ressalta a semelhança entre as danças nuas selvagens dos antigos Sabás, como foram descritas por Pierre de Lancre, e os festivais dos ciganos, e ele nos faz lembrar que os ciganos vêm do Oriente, onde era comum acontecerem danças eróticas de mulheres em homenagem aos Deuses Bruxas e ciganos há muito tempo apresentam esse tipo de semelhança. Maimônides conta-nos que as jovens mulheres da Pérsia Antiga costumavam dançar na madrugada em homenagem ao Sol, nuas e cantando músicas; nós temos o relato dados por Plínio em sua “História Natural” sobre como as mulheres da antiga Grã-Bretanha também realizavam ritos religiosos sem roupas. Plínio considerava a Pérsia o lar dos Magi, o lar da magia, mas ele diz que os rituais eram tão bem realizados na antiga Grã-Bretanha que nós podemos ter ensinado magia aos persas, em vez do contrário. O costume da nudez ritual era certamente comum em ambos os lugares. Relíquias da antiga crença no poder mágico da nudez podem às vezes ser encontradas no folclore. Por exemplo, existe uma ideia antiga de que uma mulher pode ser curada de esterilidade se caminhar nua por seu jardim de verduras na Véspera do Midsummer, uma data que, devemos nos lembrar, é a do Sabá das Bruxas. Thomas Wright, em seu ensaio que acompanha a obra de Payne Knight, “Discourse on the Worship of Priapo”, tem uma interessante passagem com relação a esse assunto. Nós acreditamos que em uma das primeiras edições da Mãe Brunch, donzelas que desejavam saber se seus amantes eram constantes ou não recebiam instruções para saírem exatamente à meia-noite na Véspera de São João, tirar suas roupas, ficando totalmente nuas e, nessa condição, caminhar em direção em uma planta ou um arbusto, o nome do qual era dado, e ao redor dela elas deveriam formar um círculo e dançar, repetindo ao mesmo tempo algumas palavras que aprendiam com suas instrutoras. Ao terminar a cerimônia, elas deveriam juntar folhas da planta em redor da qual tinham dançado, que deveriam levar pra casa e colocar sob seus travesseiros, e o que desejavam saber seria revelado a elas em seus sonhos. Nós já vimos em alguns estudos medievais sobre instruções para colher as plantas de modo que tivessem virtudes especiais, e se exigia que isso fosse realizado por jovens garotas em um estado semelhante de completa nudez. Em “Aradia: O Evangelho das Bruxas”, os seguidores de Diana recebiam a ordem de estarem nus em seus ritos, em sinal de que se sentiam totalmente livres. Por essa razão, muitos covens de Bruxas de hoje insistem em realizar seus ritos nus. Entretanto, existe uma grande diferença entre os climas da Itália ou do Oriente, e o clima das Ilhas Britânicas, como outras Bruxas indicam. Exigir a nudez ritual todas as vezes para as cerimônias das Bruxas na Grã-Bretanha hoje é simplesmente algo não-prático. Além disso, muitas das Bruxas mais velhas sentem que toda a publicidade sobre danças de Bruxas nuas atrai um tipo de interesse errôneo sobre o que a tradição de fato significa, ou que deve significar como a Arte dos Sábios. As pessoas que estão à procura apenas de um pouco de excitação sexual procuram pela tradição, sem nenhum compromisso ou crença sérios. Muita ênfase, elas acreditam, foi colocada nessa característica da Velha Religião. Elas acham que, junto com a outra velha prática do flagelo ritual, a nudez ritual é algo que pode muito bem ser deixado no passado, sem qualquer detrimento para o culto das Bruxas. reação do público quanto à ideia das Bruxas dançando nuas é uma crítica das Bruxas ou uma crítica da mentalidade popular, depois de quase 2000 anos de civilização cristã?” O verdadeiro espírito da Bruxaria não tem nada em comum com as banais fantasias sexuais de escritores de filmes e da imprensa marrom (jornais de fofocas e cenas de escândalo). Tampouco ele é como o ocultismo superintelectualizado tanto do Ociedente como do Oriente, que exige muitas palavras longas para se expressar. O verdadeiro segredo não pode ser expresso em palavras. Eles são muito mais questões de sentimento e de intuição, do que do intelecto. A alegria e a hilariedade de dançar nu é uma maneira de aproximar-se desse espírito. No entanto, atuais “expositores” da Bruxaria não são os primeiros a se sentirem excitados com a idéia de Bruxas nuas. Uma série de artistas do passado teve o prazer de desenhar Bruxas como jovens mulheres voluptuosas, nuas e impudentes. Um importante artista desse gênero foi Hans Baldung Grun, e foi um de seus desenhos que deu a Albrecht Dürer a idéia para a famosa pintura de Dürer, “The Four Witches”. (Gravura no início desta matéria) Esse maravilhoso trabalho de arte, datado de 1497, mostra quatro mulheres de seios fartos tirando suas roupas para um rito de Bruxas. O propósito da figura, nem sempre compreendido, é este: as mulheres tiraram todas as suas roupas com exceção de seus toucados, e esses toucados, todos diferentes, mostram as várias classes da sociedade das quais elas vêm. Há a senhora mais alta [no sentido de alta sociedade], com uma touca mais elaborada com um material delicado sobre a sua cabeça. Há a cortesã, com seus cabelos soltos e esvoaçantes, presos somente por uma grinalda de folhas. Há a respeitável esposa de um morador da cidade, com um toucado liso e surrado, que cobre todo o seu cabelo de forma modesta. Por último, mostra a mulher camponesa, com apenas a ponta final de seu xale ou véu sobre a cabeça. O artista está dizendo que todas elas são irmãs na Bruxaria, e que as Bruxas vêm de todas as classes da sociedade. Quando elas estão nuas, encontram-se como iguais, e as distinções sociais são esquecidas. (enviado em 16/06/11 por Peladistas Unidos) |
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