') popwin.document.close() }

Jornal Olho nu - edição N°129 - agosto de 2011 - Ano XII

Anuncie aqui

Naturalmente (Agosto 2011)

por Paulo Pereira*

Img: IstoÉ

Silvio Tendler: Estamos assistindo, perplexos, à enorme conspiração contra a verdade, a História e a memória”

Vou direto ao ponto, citando o cineasta Silvio Tendler: “Estamos assistindo, perplexos, à enorme conspiração contra a verdade, a História e a memória”… Essa conspiração vem de longe, afinal, mas ganha, cada vez mais, ares fundamentalistas, ao arrepio da ciência. Junto minha voz de biólogo, e nudista-naturista, à de Tendler e insisto na pergunta que não quer, que não pode calar: quem tem medo da História?… Uma gama de sofismas renitentes e de invencionices dogmáticas (sobretudo religiosas) promove o que Carl Sagan denuncia como anticiência, como uma espécie de caça medieval às bruxas, com o velho e hipócrita pudor como essência. Vou aqui e agora renovar outra pergunta: quem já nasceu vestido?… A natureza não castiga, não julga nem veste ninguém! E ponto.

Nesta nossa conversa de agosto, de pleno inverno, talvez por isso mais reflexiva e meio silenciosa, enfatizo os bons questionamentos e o despojamento integral, prestigiando a História, inclusive como ciência, buscando a verdade nua de que Luz del Fuego nos falou, e cultivando a memória, a referência, para um bom conhecimento. A hora é agora! Julgo muito importante reafirmar com energia o que nos disse o famoso Kierkegaard: para aspirar à verdade, é preciso também tirar as roupas interiores, livrando-se dos pensamentos, dos conceitos, do egoísmo, e ficar suficientemente nu!… Simplicidade e sabedoria.

Exatamente dentro dessa perspectiva, desse despojamento integral, escrevi meu novo livro, completando a “Trilogia Naturista”, iniciada com “Corpos Nus” e “Naturalmente”. Em vez de um excesso de informações, um sólido conhecimento, mas com naturalidade e simplicidade, sempre. É mister saber caminhar de mãos vazias para a floresta… O bom refúgio está na paz interior, na nudez serena de corpo e alma, sem preocupação de julgar. O meu novo texto, “Sem Pedir Julgamentos” (Editora Livre-Expressão), quer ser uma proposta de reflexão desarmada, uma tentativa respaldada de conseguir uma vida melhor. É aconselhável, pois, ir ao encontro da realidade, evitando ilusões e fantasias, preconceitos e pretextos. Questionar, então, as rotinas e os modelos cansados parece ser um passo adequado, sobretudo, à mudança inteligente, ao crescimento interior.

Img: página do Dzogchen Center

Lama Surya Das: “No budismo, o conceito de ignorância refere-se ao velho problema da ilusão e da confusão…"

Volto a citar palavras do Lama Surya Das: “No budismo, o conceito de ignorância refere-se ao velho problema da ilusão e da confusão… Somos todos um tanto ignorantes da verdade, e estamos fora de contato com a realidade… Contamos histórias para nós mesmos, e vivemos em nossas fantasias… Temos uma tendência a resistir à mudança, particularmente nas áreas onde mais precisamos de transformações. Freud foi muito claro ao mostrar que a resistência à mudança para melhor é uma das características que define a neurose… Não abandonamos facilmente nossas rotinas, nossas zonas de conforto, por mais insatisfatórias que elas sejam”. Quando falamos, por exemplo, de uma revolução de valores, é preciso considerar que há, quase sempre, uma contra-revolução em marcha, uma verdade mascarada, uma espécie de meia-verdade, que atua, incansável. O ser humano é o primata paradoxal! Seria, então, interessante determinar objetivamente, no nosso dia-a-dia, se algo é realmente necessário, se tem evidência comprovada… Fazer alguma coisa não é fazer qualquer coisa! As teocracias, por exemplo, prendem, matam e estupram até mesmo em nome de Deus… Os fundamentalismos, os dogmas e os preconceitos não são bons conselheiros. O nosso maior interesse deve ser o autoconhecimento, evitando sistematicamente as polêmicas vazias, as brigas, as calúnias, os medos, os julgamentos e as coisas fúteis, não essenciais. É, pois, aconselhável, e até precioso, estar bem desperto, consciente, suficientemente nu…

Img: London Evening Standard

Theodore Zeldin: “Os que querem um propósito devem olhar mais além da fuga”

Mas há dificuldades, sobretudo, criadas pela censura, pelo patrulhamento e pelos medos e fantasmas que introjetamos e alimentamos. Theodore Zeldin, de Oxford, recorda que nossa imaginação é habitada por fantasmas, pois geralmente o passado nos assombra… Mas parece urgente enfocar a realidade usando óculos novos, desconsiderando mitos e fobias antigas. E, por certo, não adianta simplesmente fugir, pois a realidade (a verdade natural) se impõe, inevitável. Zeldin observa, perspicaz: “Os que querem um propósito devem olhar mais além da fuga”… É necessário não só olhar, mas perceber! Sem pretextos ou fantasmas.

Erich Fromm, enfatizo, nos demonstrou a importância de uma liberdade sem medo, certamente sem pretextos ou fantasmas… E sem dogmas, portarias, burocracias. Edson Medeiros, sociólogo e naturista, nos lembra sempre, que é essencial a busca de uma compreensão holística, integral, do ser humano, corpo e mente, nu com certeza. E, decidido e inspirado, nos ensina que o que realmente importa é que cada um de nós abra o coração para a vida e para o amor, numa apologia, inclusive, da liberdade plena, “da liberdade para um dia penetrar na vastidão interior do seu ser e ali encontrar a chave de mistérios inefáveis, a sua unicidade original”.

É hora de uma nudez sem véus, natural, amoral enquanto inata e despojada. É tempo de romper velhas amarras tomando um grande banho de verdades nuas, verdades naturais e sem porquê, como nos sugeriu Heloisa Seixas, num conto mínimo, no qual alguém, no meio da noite fria e leitosa, busca num banho de água fria, banho solitário, afastar uma febre envolvente, “uma febre de um tempo em que os corpos ardentes faziam a água ferver”… Corpos ardentes e águas frias, muito naturais, sem dogmas ou preconceitos.

Evitemos, pois, os enganos, as ilusões e os mitos vazios. É fundamental jamais subestimar o conhecimento e o que a história pode nos ensinar, estudando o passado, entendendo o presente e projetando, com realismo, o futuro.

*Biólogo, tradutor, autor dos livros

“Corpos Nus – Verdade Natural” e

“Naturalmente, Um Perfil Documentado” e

Ex-Presidente da Rio-Nat

(Associação Naturista do Rio de Janeiro)

 

(enviado em 22/07/11)


Olho nu - Copyright© 2000 / 2011
Todos os direitos reservados.