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Jornal Olho nu - edição N°131 - outubro de 2011 - Ano XII

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Paulo Pereira - a história viva

por Pedro Ribeiro*

Img: Pedro Ribeiro

Paulo Pereira concede entrevista exclusiva ao jornal OLHO NU

Paulo Pereira, 74 anos, não precisa nem de apresentação. Considerado um dos mais antigos naturistas vivos no Brasil, contemporâneo e amigo de Luz del Fuego, é um dos mais ativos estudiosos do naturismo brasileiro. Foi um dos comandantes da Fraternidade Naturista Internacional do Brasil na década de 1960, embrião do que veio a ser mais tarde a Federação Brasileira de Naturismo. Bacharel e licenciado em Biologia, tem na botânica sua principal paixão, sem deixar também de amar os animais, principalmente os gatos.

Casado há 50 anos, completados neste ano de 2011 com Ivete, a fiel companheira  durante todo esse período de trajetória histórica, têm duas filhas e seis netos que também frequentam as áreas quando possível. Uma família com três gerações de naturistas.

Autor de dois livros sobre Naturismo, Paulo está lançando neste mês de outubro a sua mais nova obra. Trata-se de uma coletânea de textos que tem uma temática central, que, segundo ele, completa a trilogia com os dois outros trabalhos. É sobre essa sua nova obra, todo seu conhecimento, experiência, trajetória e opinião sobre o Naturismo são os assuntos de que trata essa entrevista.

Img: reprodução

O novo livro de Paulo Pereira estará á venda nas livrarias a partir do final deste mês de outubro. A Capa é de autoria de sua filha Elizabeth Pereira

OLHO NU: Paulo, qual é o tema deste seu novo livro?

Paulo Pereira: Ele não tem um texto corrido. Ele é feito em partes, como se fosse uma coleção de artigos, com um temática central que os harmoniza. O título é "Sem pedir julgamentos - conforme a natureza". Não é só sobre Naturismo, mas completa a trilogia sobre o assunto. Ele tem um enfoque mais científico, mais de acordo com a biologia. É a discussão do comportamento humano, sobretudo nos dias de hoje. Falando na origem do homem, na questão da intolerância, da agressividade. O que o Naturismo pode fazer dentro desse quadro. Sempre encarei o Naturismo como um meio, um método para uma qualidade de vida melhor. 

O meu novo livro propõe uma busca serena pela liberdade plena, sem medos, sem dogmas, sem pretextos, sem ideologias; é importante alcançar e proceder a liberdade com simplicidade, com naturalidade.

O meu livro quer ser, sobretudo, um exercício de reflexão, um convite a uma libertação consciente, sem pressa e sem atalhos, visando um melhor conhecimento, um conhecimento respaldado no natural, na ciência objetiva, na firme convicção de que o ser humano é de fato irmão de tudo que vive neste planeta das águas que se chama Terra. É, pois importante viver conforme a natureza, a natureza nua!

O livro tem a proposta de realizar uma busca, sobretudo, pelo que eu chamo de liberdade sem medos, vale dizer, sem dogmas, sobretudo com simplicidade, com naturalidade. Uma visão que eu acho que é ao mesmo tempo tradicional, remetendo aos fundamentos histórico-filosóficos do Naturismo, mas também procura atender o que eu penso e como eu pratiquei esse naturismo até hoje, desde 1952, pelo menos. Isto é uma história muito comprida. Sempre o pratiquei à minha maneira, mas sempre com respaldo pelo que estava estabelecido pela Federação Internacional de Naturismo.

Img: Elizabeth Pereira

Paulo Pereira é amante das plantas e dos bichos.

ON: Como foi que surgiu o Naturismo para você?

PP: Eu morava num casarão muito grande na Tijuca, com um quintal enorme, ocupava quase um quarteirão inteiro da rua. Hoje cabem, dois ou três edifícios. Lá eu tinha um contato íntimo com a natureza por causa da imensidão do terreno e da quantidade de plantas ao redor. Quando eu aprendi a ler e comecei a me interessar pelos livros, tive uma sorte muito grande, descobri Monteiro Lobato, com duas obras que guardo até hoje como referência: "O Saci" e "Hans Staden". Lobato fez uma versão adaptada para a literatura juvenil dos escritos do aventureiro alemão que foi prisioneiro dos índios Tupinambá no século XVI. A história me fascinava por não ser uma fantasia. O relato me fez descobrir o índio, do homem branco nu no meio dos índios, a vida em meio à natureza. Era demais. O mistério da mata, o mistério do exótico, do fantástico e ao mesmo tempo a beleza do natural. O selvagem que não tinha, a rigor, as censuras do homem branco. Foi isso que me despertou para o nudismo e para o naturismo. A nudez através do índio. Uma nudez digna, natural, que não tem julgamento algum.

Img: reprodução

As revistas sobre Naturismo da década de 50 foram a iniciação de Paulo Pereira

Pelos meus 14 anos, início da década de 1950, um tio, irmão da minha mãe, começou a comentar sobre uma bailarina, que dançava com cobras no teatro e andava nua em uma ilha de sua propriedade, a Ilha do Sol. Era Luz del Fuego. Eu achei aquilo fantástico. E eu pensava: - então isso existe, não é só índio. Esse fascínio que me ligou à Dora. Eu fiquei super interessado e meu tio começou a me fornecer revistas para eu ver, eram "revistas de mulher nua", como se dizia na época, mas entre elas haviam revistas sobre Naturismo.

Essa mistura serviu também como minha iniciação sexual, na masturbação, mas deixou um fascínio pelas revistas naturistas, descobrindo que andar nu era verdade, que era possível. E eu comecei a me interessar e a experimentar. Ia às vezes com a família à praia, na Barra, que na época não tinha ninguém, e me distanciava e tirava a roupa. Com mais idade já podia pegar o carro da família e ia sozinho às praias ainda mais distantes, como Recreio e Grumari. Também ficava nu na varanda de casa para pegar sol e no quintal.

Mas o meu interesse pelo Naturismo era cada vez maior, desde muito jovem. Eu lia todas as edições da revista Saúde e Nudismo que foram publicadas entre 1952 e 1953.

ON: Essas revistas eram publicadas pela Luz del Fuego?

PP: Não. Eram publicadas por um grupo interessado em Naturismo, que divulgava coisas a respeito da Luz.

ON: Então já havia no Brasil outras pessoas praticando e divulgando o Naturismo?

Img: Pedro Ribeiro

A Ilha do Sol fazia parte do imaginário coletivo das pessoas das décadas de 50 e 60.

PP: Sim. Mas coincidentemente as coisas começaram a se organizar com a Luz, porque em 1949, época do pós-guerra, que veio com uma onda de libertação, um movimento em direção à democracia, de organização político-partidária, aqui no Brasil a coisa começou a explodir. É uma nova época no país com a deposição de Getúlio Vargas no final da Guerra, no bojo disso tudo a Luz, a Dora Vivacqua, fundou o Partido Naturalista Brasileiro. Em 1954 a Dora inaugura a Ilha do Sol, na baía de Guanabara, como sede do Clube Naturalista Brasileiro, também conhecido como Clube do Sol.

A Luz chamava o movimento de naturalismo porque ainda não havia essa denominação naturismo. A Federação Internacional somente foi criada em 1953, em Montalivet, na França.

ON: Você sempre praticava o nudismo e ia a lugares sozinho?

PP: Eu era filho único, então no começo era praticamente sozinho. Só quando comecei a namorar a Ivete, ainda rapazola, é que começamos a ir juntos para esses lugares. Eu falava sobre naturismo com ela e ela não entendia muito bem sobre o que se tratava.

Img: http://www.fkk-museum.de

Paulo foi correspondente da revista alemã Freeis leben. A edição em que foi publicada a matéria sobre Luz del Fuego, em 1966, não está disponível

Quando eu já namorava firme a Ivete que, através da revista Saúde e Nudismo, tomei conhecimento da existência das instituições naturistas em diversas partes do mundo e passei a assinar a revista alemã Freies Leben. Eu escrevi para a revista alemã tentando descobrir mais informações sobre a prática no Brasil, e eles me recomendaram entrar em contato com Daniel Nunes de Brito, em Brasília, que era ligado à Luz del Fuego, um dos fundadores do Clube do Sol.

Daniel era professor de inglês e rádio-amador, foi para Brasília ainda em construção, criando a primeira associação de caráter nacional chamada de Fraternidade Naturista Internacional do Brasil. Nome que achei meio esquisito, porque levava a crer que se tratava de uma instituição religiosa. Mas tava feito, vamos em frente. Fiz contato com ele. Falei do Rio de Janeiro, que por esta época eu já fazia nudismo em grupo de amigos em praias desertas ou áreas isoladas, querendo organizar e tornar mais oficial.

Juntamente com um amigo de Porto Alegre, o advogado Tarso de Antônio Heit, ficamos os três à frente do movimento nacional a favor do Naturismo, comandando a Fraternidade. Era 1960. Eu tinha 20 anos. Nesta época conheci também uma figura extraordinária, o General Osmar Paranhos, amigo pessoal de Luz.

Graças ao contato com a revista alemã, eu me tornei seu correspondente internacional e comecei a escrever diversos artigos e reportagens sobre o Naturismo no Brasil. Também fui correspondente para a revista dinamarquesa Sun and Health, na sua edição internacional em inglês.

Quando veio o Golpe Militar de 1964 falar sobre Naturismo passou a ser considerado subversivo e se corria o risco de ser preso. Isto dificultava muito.

ON: Como foi que você conheceu a Luz del Fuego?

PP: A revista Freies Leben encomendou uma matéria sobre Luz del Fuego para publicação. Eu vou à Ilha do Sol como correspondente oficial no Brasil da revista e aí a identificação foi imediata. A amizade explodiu com intensidade. Ela me chamava de alemãozinho. A Dora era uma pessoa muito mais intensa e extraordinária do que as pessoas costumam dizer. O texto foi publicado na revista Freies Leben número 127, na década de 60.

Img: reprodução

Luz del Fuego e seu fiel escudeiro Edgard, na Ilha do Sol

A minha primeira visita foi fantástica. Ela mandou o Edgar, o caseiro que vivia na Ilha, me buscar em Paquetá de barquinho a motor. Eu todo cheio de equipamento, uma máquina Rolleflex, papel para anotações, lanche porque eu não sabia o que eu ia comer.

Vejo a ilha do barco, acho-a pequena, umas pedras meio amareladas. A baía já era naquele tempo poluída. Chegamos no pequeno ancoradouro e veio aquele bando de cães nos receber. Eu tenho pavor de mordida de cachorro, embora goste muito de bichos. A Luz veio junto e disse: "seja bem vindo". E eu disse: "-Ô Luz, olha aqui, vou saltar como? Ficar nu na frente de mais de dez cachorros? Eu tô roubado". Ela respondeu: "-tirando a roupa, aí não tem nada". Eu realmente fiquei com medo. Mas levei a coisa na brincadeira. Tirei a roupa no barco e entrei pelado.

A Luz muito acolhedora, muito simpática. Neste dia não tinha mais ninguém na Ilha. Mais tarde apareceu um casal e um jornalista da Agência Nacional que veio a se tornar um grande amigo meu, o Terson santos.

Bem, entramos e já começamos a bater papo. Ela já me perguntando sobre minha representação da revista alemã e me contando as histórias. Falou também sobre a falta de recursos de que ela sempre se queixava, para manter a ilha, para promover o progresso do Naturismo no Brasil. Foi um dia marcante e nos tornamos grandes amigos. Ela me mostrou a ilha, as jiboias. Nesse tempo eu era jornalista, não era biólogo ainda, mas já tinha grande interesse.

Img: Elizabeth Pereira

Há alguns episódios engraçados desta primeira visita, como ao caminhar pela ilha, senti uma ardência forte no joelho, olhei, era uma planta que estava me raspando. Ela disse, -"cuidado, é uma urtiga!". Eu disse: -"mas como é que você ter um negócio desses por aqui, com a gente nua? Tira esse pé daqui" Ela riu muito. Depois passou um barco cheio de turistas, muitos japoneses, que começaram a gritar, todos com máquinas. Ela foi para cima da pedra e me chamou: -"vem cá, alemãozinho", para eles tirarem nossas fotos. Acredito que nossa foto tenha ido passear pela Europa e Japão, naquele tempo.

Em outra ocasião, marcamos, e eu levei a minha já esposa Ivete para ela conhecer e foi uma brincadeira muito grande, muito papo, me contava as novidades. Passavam apitando os barcos cheios de turistas. Ela chegava para cumprimentar os turistas: "vamos lá, Paulo, vamos lá!". Foi por causa da revista que ela me chamava de alemãozinho. A Luz cozinhava muito bem. Fez muita festa nesta ocasião e tornou uma grande amiga também da minha mulher.

Enviei as fotografias e o texto para a revista que foram publicadas na edição que eu já citei. Infelizmente eu não tenho mais um exemplar. Tenho tentado pesquisar mas não tenho obtido sucesso. O exemplar que eu tinha foi doado para o Edson Medeiros, no final dos anos 90, para organizar o CENA (Centro de Estudos Naturistas), estou até relatando este fato no novo livro, mas o Edson se desencantou um pouco com a vivência naturista no Rincão, passando o acervo dele para o Tsanaclis, que, por sua vez, vai para o Canadá se radicar com a família e o acervo se perde. Ninguém sabe onde é que está este meu artigo, que se intitula "Südamerika", em 1966.

Img: Elizabeth Pereira

O CENA faz parte do "Sem pedir julgamentos", onde eu falo sobre sua revitalização. Coisa que propus através do seu jornal, o OLHO NU. Reativar para não se perder mais artigos, como aconteceu com o meu.

Acredito que quem for a Alemanha poderia procurar este artigo nos arquivos da editora em Frankfurt, Rudolf Hofmann Verlag.

Fico até espantado com o preconceito que ainda existe contra a Luz del Fuego, até mesmo no meio naturista, que é uma coisa absolutamente irracional. Acho que é uma questão de miopia intelectual, pois partem de pessoas que nem conhecem sequer sua história. As pessoas dizem simplesmente que não gostam dela. Mas a História é e pronto. Não tem que gostar ou não gostar. Isso acaba sendo um tiro no pé, porque a raiz do Movimento naturista no Brasil é inconteste, quer queiram ou não os sacripantas que andam por aí.

É claro que esta visão deturpada da Luz melhorou muito de uns anos para cá. As pessoas não estão tão enlouquecidas, estão mais informadas. É até uma questão de humildade.

Como pessoa Luz era uma uma mulher extraordinária, culta, tinha curso de dança na Alemanha, brevê de piloto, lia Schöpenhauer, uma mulher à frente de seu tempo.

Minhas visitas à Ilha do Sol me fizeram conhecer muita gente fantástica, sobretudo o Terson, que passou a fazer Naturismo comigo, na Barra da Tijuca e em algumas ilhas. Ele tinha um problema, pois era diabético e acabou perdendo uma perna. Tomava banho de mar nu, sem perna. A gente ajudava porque a onda batia e levava ele. Uma mente fortíssima. Risonho, brincando, grande jornalista. Acredito que já tenha falecido. Figura que quero até render uma homenagem.

Img: Elizabeth Pereira

Luz, no entanto, reclamava muito da falta de verba para fazer as coisas. Reclamava dos associados que não contribuíam, aliás como é comum entre os brasileiros, querem desfrutar mas não querem contribuir. Fazem parte das associações mas não pagam suas mensalidades.

Eu sofri muito com a morte da Luz del Fuego. Eu a conheci durante dois anos apenas, mas foi uma amizade muito intensa. Para eu ir lá e para fazer o naturismo tinha que ser tudo mais ou menos às escondidas, por causa do regime político vigente. Eu fiquei muito deprimido, principalmente pelas condições de sua morte, um assassinato brutal. Uma coisa gratuita, um ladrão de fundo de baía. Um latrocínio.

Sua morte tem um viés muito interessante. Ela achava a velhice terrível, degradante. Ela usava o termo é uma "merda". Ela morreu com 50 anos. Então propriamente ela não viveu a velhice. Ela tinha aflição de ficar velha, de perder a vitalidade, a participação no dia a dia, ficar no ocaso, ser colocada à margem. Isso é uma cosia muito interessante.

Mas há um outro viés nisso, este terrível. Depois da morte da Luz, vários historiadores, não somente eu, percebem que há uma tentativa claríssima de apagar o que ela fez. Não somente por preconceito, mas até por uma questão social, já que ela era de uma família ilustre capixaba. Sua própria família tem contribuído um pouco para apagar sua história, dizem muitos estudiosos, porque ela era considerada a ovelha negra da família.

Img: http://expirados.blogspot.com

Cena do filme "Luz del Fuego" de David Neves

ON: Você acha que aquele filme do David Neves, sobre a Luz del Fuego, contribuiu negativamente para a imagem dela?

PP: Eu conheci o David Neves. Ele foi meu colega de turma do ginásio no Colégio São José. Não tive chance de conversar sobre o filme com ele, pois ele faleceu antes de que eu pudesse reencontrá-lo. Ele morava, por coincidência, no mesmo prédio onde morava o Sérgio de Oliveira, em Botafogo, perto do morro santa Marta. Não acho que o filme dele tenha retratado bem a vida dela. O filme é interessante, tem um sabor histórico e jornalístico. Ele faz um elogio rasgado pela impressão que ela provocou nele, que até eu reproduzo neste novo livro, no entanto o filme tem um enfoque muito mais erótico, mundano. O lado do nudismo, naturismo, não foi bem apreendido, ou não quis ser mostrado.

Não que eu seja puritano, não é nada disso, nem a Luz era puritana, mas há cenas que depõem contra o Naturismo, que nada têm a ver com o Naturismo em si.  Não vejo demônio nenhum na história, mas o melhor enfoque talvez não fosse esse. Eu diria isso ao David, pois tinha toda a intimidade para tal.

Repetindo uma colocação de Wisnton Churchil em seu livro sobre algumas pessoas que ele considerava celebridades, eu diria que a Dora era "uma pessoa fora da jurisdição comum do mundo". Pessoa fora do comum. Uma pessoa que o mundo não consegue apreender. E é por isso que ela incomoda. Imagina isso na década de quarenta e de cinquenta... Se ela chega hoje aqui, incomodaria, imagina naquela época. Agora, ela certamente não teve esse viés odioso religioso agressivo que tem atualmente no Brasil. Talvez tenha tido rejeição somente por parte da sociedade conservadora.

Img: Elizabeth Pereira

ON: Como era o movimento lá na Ilha do Sol, na época em você frequentava?

PP: Ah, variava muito. Tinha vezes que eu ficava sozinho, com a Luz e o Edgar, outras vezes chegavam dois ou três visitantes de barco, às vezes casais. Não sei dizer se eram ou não associados ou eram amigos. Mas ficavam nus, tomavam lanche, tomavam banho já ali na entrada, porque a água já era poluída.

ON: Como você fazia para arregimentar as pessoas para a prática do Naturismo, numa época em que a comunicação era mais difícil?

PP: Não só a comunicação era mais difícil do ponto de vista tecnológico, mas também pela censura vigente, até mesmo na década de 50. A sociedade era muito mais tradicional, mais família conservadora e era mais difícil falar certas coisas abertamente. No entanto a vida era muito menos violenta e tranquila, não havia gangues, o que facilitava os encontros em áreas desertas e remotas na época, como Grumari, Barra da Tijuca e Recreio dois Bandeirantes.

Img: Elizabeth Pereira

No final da década de 50 eu fazia lutas marciais na Academia Gracie, no Flamengo. Cheguei a alcançar três faixas. Naquele ambiente esportivo e jovem era mais fácil fazer comentários. Muitas vezes saíamos da academia combinando uma mergulho nu ali mesmo na praia do Flamengo. Então comecei a convidar estas pessoas para os encontros naturistas, nas praias desertas. A quantidade dos que participavam destes encontros variava muito, às vezes éramos apenas três casais e outras vezes chegávamos a vinte, trinta pessoas.

Depois do Golpe as coisas ficaram ainda mais difíceis. Foram vinte anos de censura, em que a divulgação deste tipo de material era considerado imoral e subversivo. Mas eu acho que as coisas demoraram mais a se abrir por causa do avanço das religiões que viam o pecado em tudo. É claro que isto não foi a única causa. E eu não sou contra religião de ninguém. Mas a partir do crescimento de muitas destas igrejas começou o ódio, começou o demônio, começou uma militância de rua, aquela coisa caolha, intolerante, causando brigas entre religiões, coisas que o Brasil nunca teve.

O Brasil quando foi "descoberto" se encontrou gente nua. A nudez é um dado primeiro da história do Brasil. Um país que não tinha preconceito. A primeira coisa que o português notou foi a nudez dos índios e se encantou. Tenho relatos que cito neste novo livro, a carta do Padre Manoel da Nóbrega, que revela a forma inquiridora que havia na época por parte dos religiosos jesuítas. Mas a coisa piorou hoje em dia por causa da militância das ruas. E é paradoxal, pois se tem hoje um conhecimento científico melhor, uma certa abertura para falar, no entanto a cobrança forjada por uma intolerância religiosa é pior, é mais agressiva. Hoje se tem muita informação, mas pouco conhecimento.

O nível geral é muito baixo. A cultura está desprestigiada. É assustador. Hoje se tem muitos grupos que lutam por seus direitos, no entanto a agressão é muito maior. Vide o que acontece com os gays. Vejo brutalidade que eu não via no meu tempo de garoto. Levar surras porque é gay. Mas isso vem da onde? Liga o rádio. Liga o AM. Um AM que era rico no Rio de Janeiro. Só tem líderes religiosos falando bobagens o dia todo, gritando, assassinando o português, pregando a intolerância, vendo o diabo em tudo que é lugar. E o que o Brasil ganhou com isso? Nada. Ganhou intolerância e preconceito contra religiões afro. Sai um monte de disparates.

ON: E como ficou o Naturismo no Brasil após a Luz del Fuego?

Img: arquivo JON

A praia da Reserva, na Barra da Tijuca, foi point naturista clandestino durante décadas.

PP: Bom, antes de sua morte já havia a Fraternidade, do Daniel. A gente era atuante. Haviam núcleos espalhados em Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre, inicialmente. Aqui no Rio a gente se reunia às vezes na Barra. Mas a gente queria organizar.

Em 1968 eu troquei o nome da Fraternidade Naturista Internacional do Brasil para ANB (Associação Naturista Brasileira). No ano seguinte eu a registrei na Federação Internacional de Naturismo. Eu falei com o Heit que achava que precisávamos tornar o nome mais moderno, mais fácil de entender, sem essa conotação religiosa. Fiz uma pesquisa e escolhi o nome.

Junto com a Fraternidade ela é a primeira associação de caráter nacional. é uma precursora da Federação Brasileira de Naturismo. Criamos um novo núcleo em Ubatuba. Seu estatuto foi registrado, submetido a INF e está reproduzido em meu livro.

O naturismo não parou após a morte de Dora. Não se podia fazer a coisa abertamente, porque a época era outra. Ao contrário, ele existia e as reuniões eram muito interessantes.

O que aconteceu depois foi o seguinte: eu tinha o tempo muito restrito e em 1971 fui fazer Biologia. Houve também o acirramento militar no Brasil que deixou a sociedade ainda mais fechada. O Daniel faleceu em 1977, e eu fiquei sozinho com o Heit. Como sou contra a essa coisa de hegemonia, em 1979 sugeri nós darmos uma parada. Mas a sigla continuava, o registro na INF continuava. Havia uma caixa postal para recebimento de correspondência que permaneceu. Neste período fiz novos amigos, com os quais fazia reuniões na casa de um ou de outro.

img: arquivo JON

Capa da primeira revista Manchete que tratou sobre o Nudismo na praia do Pinho.

Por volta de 1983/1984 chegou ao fim o movimento militar, e aí entramos no que eu chamo de Terceira Fase do Naturismo no Brasil. Não que ele estivesse parado antes, não tivesse existido pós-Luz, como alguns engraçadinhos dizem. Mas ele voltou a tomar vulto com a revista Manchete com o "seu" Tarles Batista. Não é que ele seja um pioneiro naturista, mas tem que ser entendido.

Ele lança a reportagem na revista sobre o Pinho, porque era interessante do ponto de vista jornalístico e pela "Abertura" que se instalava. Ele tinha ouvido falar que tinha gente nua. São duas ou três reportagens em edições diferentes da revista Manchete e depois na extinta Ele & Ela, que causam grande repercussão.

Pelo que sei, aí aparece o Celso Rossi, que se interessou pelas matérias publicadas resolve conhecer a praia do Pinho. Queria saber como é que é, e tentar fazer alguma coisa. No seu livro "A Redescoberta do Homem" ele conta como foi a criação da Federação Brasileira de Naturismo, com a presença de Hans Frilmman, que seria delegado da Federação Internacional. É para festejar. O Naturismo estava precisando de uma iniciativa dessa. Ninguém pode ignorar a história.

Considero a partir daí a terceira fase do Naturismo brasileiro. Celso Rossi fez coisas excelentes. Mas é preciso entender isso dentro de um contexto histórico. Eu acho ótimo que tenha surgido a FBN, formidável. Com isso veio a Rio-NAT com o Sérgio de Oliveira.

Conheci o Coronel do Exército Sérgio de Oliveira através de um amigo comum, que me apresentou a ele. Sérgio era conhecido como o "Coronel Boa-praça". Meu amigo me informou que ele reunia o pessoal naturista aqui no Rio e me convidou para ir lá no encontro. Telefonei primeiro, me apresentei e combinamos um encontro na praia da Reserva, na Barra da Tijuca, que era o point de nudismo na época, embora ilegal.

Img: Pedro Ribeiro

Sérgio de Oliveira e Paulo Pereira

Era um domingo. Ele foi com a falecida Rose, sua esposa. Conversamos sobre a Rio-NAT e sobre a Federação. Considero aí então a terceira fase do naturismo, que encontrou um terreno mais fácil para sua expansão, num ambiente político mais democrático, sem censura e com facilidades de comunicação.

No entanto, eu digo, o edifício começa pelo alicerce, não pelo telhado. Tem que haver união. Tem que somar. A grandeza do Movimento naturista no Brasil está na sua história, na sua riqueza e na sua diversidade, nas suas etapas, que são ricas e diferentes, com conotação diferente, com épocas diferentes e com pessoas diferentes. Eu tive a sorte de ter vivido essas épocas todas.

Eu vivi todas as fases intensamente. Tenho grandes amigos desta fase atual. Cheguei a ser vice-presidente e presidente da Rio-NAT. Eu e você estamos juntos com o jornal OLHO NU desde o começo. O Brasil Naturista. Escrevo artigos e escrevo livros. Por que eu escrevo? Porque acho importante saber a história, ter testemunhos. Aliás abri meu livro para várias pessoas de várias épocas, de várias facções, de vários níveis, porque meu objetivo é somar. Coisa que só pode engrandecer o Naturismo.

Img: FBrN

Paulo Pereira considera a participação do Brasil no Congresso Internacional de Naturismo, realizado em 2004, na Croácia, como o início da quarta etapa do Naturismo brasileiro.

Já entramos numa quarta etapa. Acredito que a participação do Brasil no Congresso Internacional realizado na Croácia, em 2004, tenha sido seu início. E depois o Congresso realizado em Tambaba. Já é um Naturismo mais consolidado. Mas eu digo para não se perderem tropeçando nas próprias pernas. Chegou-se até agora, e ficar então com questiúnculas, com show de vaidades, aí não dá.

ON: O que é Naturismo para você?

PP: Vamos deixar claro de uma vez por todas. Nudismo e Naturismo, que eu canso de dizer que são a mesma coisa, são apenas um comportamento naturalíssimo, ponto! Não tem que inventar mais nada, não tem adjetivo, não tem que colocar naturismo isso, naturismo aquilo. Não pode! Não pode misturar Naturismo com religião, com ideologia, com partido político. E outra coisa: o Naturismo não é uma volta à caverna. O Naturismo é lazer. E, se quiserem que dê dinheiro, ele tem que ser vendido como produto, senão vai ficar sempre com esse amadorismo. Fica um show de vaidades. Um xingando o outro, falando um monte de tolices. Fazendo setecentas reuniões para resolver nada. A reunião para resolver a reunião da reunião feita. E só fica nisso. Papel, biscoitinho, convescote, viagem pra lá e pra cá. Brasileiro adora papel e tomar lanche, mas resolve pouco.

O fato de desnudar-se é antigo. Antes da Bíblia. A mais famosa é a prática na Grécia Antiga, nas Olimpíadas. Naturismo é um eufemismo do nudismo. Nudismo não é botar a bunda na janela. Tem nada a ver. Isso é uma discrepância, pode até ser engraçado, mas não é nudismo. A afirmação "eu sou Naturista, não sou nudista" é uma piada, isso é falta do que fazer. Isso é coisa de quem não conhece a história.

Eu gostaria de ressaltar que a nudez não deve ser vista como tabu, nem como um mero produto, algo a ser vendido ou comprado... O nudismo-naturismo deve ser uma forma de despojamento, corpo e mente, sem pedir julgamentos!

ON: Há alguma coisa que você não aprecie no momento atual do naturismo brasileiro?

PP: Eu vou falar a você. Há algo que me incomoda muito. É um ranço que não consegue se dissolver. É a proibição da entrada de homens desacompanhados de mulheres na maioria das áreas naturistas brasileiras. Eu acho isso muito sério. Eu quero mais uma vez sublinhar essa história. Sei que não é novidade. Sei que no mundo inteiro existe coisas parecidas. A desculpa é a de procurar equilibrar o número de homens com o de mulheres. Ok. Não vamos ignorar que há nuances. Existe em vários países do mundo, mas, aí vem o mas, a persistência disso é falta de conhecimento e que é muito subjetiva, muito pessoal. Gente, Naturismo é nudismo social moderno!

Outra coisa que se usa hoje em dia é associar o Naturismo à Ecologia. Ecologia está na moda, mas é uma grande balela e é crime o que se faz. Crime porque ninguém pode se declarar ecologista sem ter estudado e se formado. É necessário fazer biologia ou engenharia florestal e depois mestrado ou doutorado em ecologia para ser considerado um ecologista. Não é só por que se cuida do ambiente que torna o indivíduo em ecologista. Se assim fosse seria veterinário quem cuida de seus cachorrinhos e gatos, ou então por que eu conheço alguma erva medicinal que me transforma em médico. Eu denuncio isto ao Conselho Federal de Biologia. Isto é caso de polícia. Ou se tem formação acadêmica ou se é palpiteiro. E está cheio disso.

Eu não posso admitir isso dentro do Naturismo. O fato da definição de Agde, em 1974, dizer que há preocupação com o meio ambiente, não transforma ninguém em ecologista. Pode-se ser amigo da natureza, um conservacionista, mas ecologista não dá. Se declarar ecologista é exercício ilegal da profissão. É falsidade ideológica, tanto quanto alguém se declarar médico sem ter se formado.

Mas não se pode também é associar o Naturismo a uma outra corrente filosófica, não se pode adjetivar o Naturismo. Não se pode dizer Naturismo ecologista, nem Naturismo ateísta, nem tampouco Naturismo cristão. Isto é uma heresia. É claro que se pode ser um ateu naturista ou um cristão naturista. Ok. "A filosofia do nudismo é somente natural." e ponto. O Naturismo não precisa de nada disso. Do que ele precisa é acabar com o tabu da nudez. Isso feito, acabou. Não precisa de mais nada.

O Nudista é aquele que faz da prática da nudez social uma forma de se integrar ao outro e ao meio ambiente. Só. Acabou. Fim. Duas palavras: simplicidade e naturalidade.

Eu vejo muito convescote, muita conversa, muita reunião para não resolver nada. Há congresso demais e assunto de menos.

Nesta era de informática, cujo nome já diz, vem de informação, não de conhecimento, tem que ter muito cuidado para não ficar delirando na maionese, nem inventar histórias. O dia inteiro atrás de um computador, um brigando com o outro, um xinga o outro, um sabe mais que o outro.

Essa coisa maluca de fazer cerquinha para separar casais e homens desacompanhados é o fim. De um lado solteiro, do outro desquitado, do outro beatos, do outro homossexuais... Isso descaracteriza o Movimento. Não tem fundamento isso. Essa não é a ideia de Ungewitter, não é! Ele cometeu até outros pecados, aquela ideia de eugenia, de raça pura. Isso era outra época.

É aquilo que eu falo: vaidade, personalismo, subjetividades exacerbadas, falta de conhecimento são defeitos que vejo no Naturismo atual. É paradoxal. Eu que cheguei nesta idade, cansei disso. Isto é uma politicagem que não vai levar a nada.

Quando surgiu a terceira etapa do naturismo em meados da década de 80, se viam coisas assim, como se o Naturismo tivesse sido criado naquela hora. Foram apresentadas novas regras, por pura invenção. Esse é o pior caminho. É necessário ter referência, respaldo. É preciso procurar o que já foi feito a respeito daquele Movimento.

ON: Como seria no seu ideal uma área pública de Naturismo, uma praia, por exemplo?

PP: É utópico. Eu confesso que é muito difícil. Teoricamente seria o que chamamos a senso largo de free beach, ou seja, praia livre. Uma praia que você pode estar despido, porque é livre. Isto se for aceito de forma consensual. Agora, se no Brasil nós tivéssemos uma legislação que permitisse a praia restrita, destinada exclusivamente ao Naturismo, isto é uma outra questão.

O melhor do ponto de vista do Naturismo, seria a praia livre, isto é, da nudez melhor aceita. Seria como ocorre na Alemanha, hoje em dia, que as pessoas podem ficar totalmente nuas nos parques para tomar sol, sem ninguém dizer nada, convivendo com crianças, pessoas andando a cavalo, andando de bicicleta, correndo, enfim, este é o ideal. A nudez aceita com cidadania.

Eu considero isto meio distante não sei se isto vai acontecer por aqui. A realidade brasileira é outra. Não sou advogado, não sei se a legislação permite. O que eu sei é que as praias são áreas da Marinha e portanto públicas, então não podem ter essa conotação de área naturista, mas que naquele pedaço pode-se estar nu. Esta é a questão. No entanto a prática é difícil porque há o voyeur, o inconveniente, o maluco, enfim... Mas tem o poder público para tomar conta, para prestigiar este espaço? Não. Fazer o quê?

Confesso que eu não fico à vontade. A mim me causa desconforto, porque é uma coisa que não está abalizada, que você não sabe o que é. A praia é pública, não é naturista. Ela tem a permissão da nudez. Ela não pode ter um status de praia naturista, porque o Brasil não aceita isso na Constituição. É uma concessão. Então o ideal é aquilo que eu digo sempre: o melhor é que a nudez fosse mais bem aceita, que ela deixe de ser tabu. Como? Não sei.

De outro lado, o Naturismo não deve ser visto como algo protegido, estrito, que se faz em guetos. O naturista tem que perceber que a nudez é de nascença e deve tomar cuidado para que esta "proteção" não se torne a essência do Naturismo. Para que não se veja o Naturismo somente em guetos, proibido, secreto. Não sei se é utopia, mas é a minha utopia. É aquilo que eu levo desde o índio, a nudez digna. É a nudez do Naturismo como ele nasceu.

Infelizmente no Naturismo brasileiro há muita chuva de verão. O que a chuva de verão faz? Ela é forte, intempestiva, inconveniente, causa problemas, dura pouco, vai embora e deixa um estrago. Não há continuidade. Não há compromisso com a filosofia do Naturismo. Muitos estão a pretextos, mais válidos, menos válidos, não importa. Mas eu denuncio isso, porque Naturismo não é pretexto.

Onde estão os naturistas das extintas Rio-NAT e ACN? Será que morreram todos? Será que os que frequentam o Abricó hoje, são os mesmo de seis anos atrás? Tem que ter coerência. O pior é que muitas das pessoas "desaparecidas" quando estiveram ou estão em evidência são os arautos da verdade. Sabem tudo. O termo é "cagam regra". Eles sabem tudo, sabem definições sobre naturismo, dão aulas e depois deixam um buraco, um monte de lixo atrás, que não se sabe o que se vai fazer com aquilo.

ON: Como foi sua experiência quando você presidente da extinta Rio-NAT?

PP: Eu fui presidente por apenas dois meses. Eu não aguentei por que eu não sou ama-seca de adulto, de marmanjo. Não tenho preparo físico para aturar maluquices dentro do clube. Não vou dizer o nome do santo mas vou contar uma passagem: algumas moças, mulheres de 18, 19 anos, ficavam de calcinha, de topless, e uma pessoa da direção falava pra mim que não se podia falar muito senão elas iriam embora... E continuou com ar solene: "outra coisa, sabe, Paulo, o negócio é o seguinte, é que o topless já hoje é aceito no Naturismo". Eu respondi: "Pelo amor de Deus, não diga isso porque a Luz deve estar se jogando toda dentro da sepultura." O naturista pode estar até de topless, mas o topless não faz parte do Naturismo.

Esse casuísmo, esse oportunismo rasteiro é que anda por aí. É o que prejudica.

ON: Paulo, para encerrar, você chegou a ter algum tipo de contato direto com índios?

PP: Eu tive dois tipos de contato fantásticos. Mas não forma diretos. Um foi através do Noel Nutels, o grande médico sanitarista, diretor do SPI, antigo Serviço de Proteção ao Índio, hoje FUNAI. Eu já era estudante de Biologia na Santa Úrsula e fiz contato com ele na sua casa. Nutels era conhecido como o homem cor de rosa, grande médico, fantástico, amigo do índio, que me levou a um contato rápido com Darcy Ribeiro, grande antropólogo e sociólogo, que tem um trabalho belíssimo chamado Diários Índios, que conta sua experiência com os índios.

ON: Muito obrigado, Paulo, por este presente que você está dando aos leitores do jornal OLHO NU: seu testemunho.

PP: Eu é quem agradeço a oportunidade. Um grande abraço a todos.

Entrevista concedida em 5 de setembro de 2011.

*Editor do jornal OLHO NU.

pedroribeiro@jornalolhonu.com


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