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Jornal Olho nu - edição N°133 - dezembro de 2011 - Ano XII |
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Por Paulo Pereira* É possível conciliar natureza e cultura, natureza e tecnologia, natureza e cidade? Integração inteligente, e respaldada na ciência, eis a grande questão. Enfatizemos, desde já, a importância de voltar, de considerar com ampla percepção, de pensar nas raízes, nas origens consagradas, sempre na busca do bom conhecimento. Tenho reafirmado, baseado na ciência datada, atualizada, que o ser humano não é mero produto do acaso mágico, citando, inclusive, Richard Dawkins, que nos lembra que Charles Darwin, por exemplo, demonstrou cabalmente como nós, humanos, surgimos, sem epifanias, pela seleção natural ligada ao sexo, ao longo do tempo, primos das chimpanzés... Os portugueses, quando chegaram ao Brasil, encontraram terras férteis, habitadas por uma gente saudável, valente, todo nua, que já aqui vivia por alguns milhares de anos, para susto de Agostinho e dos inquisidores medievais... Mas, antes mesmo disso, há indícios (e provas) de habitantes ainda mais velhos, precedentes, fato que nos é suscitado pelas descobertas dos chamados sambaquis. Na página “Ciência” de “O Globo”, 11/11/2011, há um artigo de Renato Grandelle, falando sobre os mistérios do povo da praia... Citemos, então, o referido Grandelle: _ “Lar dos primeiros habitantes conhecidos da costa brasileira, os sambaquis são tema de um novo projeto da Universidade de York, Inglaterra, financiado pela Comunidade Européia... Dos amontoados de conchas e artefatos dispersos pelo litoral, e abandonados há pelo menos 1500 anos, ainda seria possível concluir que área ocupava cada comunidade, como era a dieta de seus moradores e qual utilidade davam a suas famosas cerâmicas... A população dos sambaquis, já se sabe, ignorava a agricultura e dependia basicamente do que caçava e coletava”. As terras ditas brasileiras são sítio de antigos habitantes. Devemos procurar o conhecimento científico em lugar de mitos e fantasias, até porque a correta leitura do que nos mostra a natureza indomável é, pois, a melhor fonte de sabedoria. E Grandelle comenta : “Estima-se que os primeiros amontoados de conchas surgiram há 8 mil anos atrás. Não é a mais antiga ocupação humana das Américas, mas é onde foram encontradas as primeiras cerâmicas do nosso continente. Os sambaquis ainda eram usados como casas e urnas funerárias até 1500 ou 2000 anos atrás... O auge da sociedade dos sambaquis foi entre 4 mil e 2 mil anos atrás.” Sabemos, como foi dito, que nos sambaquis, morros de empilhamento, eram depositados restos de alimentos e objetos usados no preparo da comida, além dos corpos dos mortos; os sambaquis são testemunhas pré-históricas, especialmente no litoral fluminense. E, precisamente, ao longo desse litoral, sobretudo, é que a história igualmente registra a presença marcante dos índios guerreiros, os famosos Tupinambás, tantas vezes citados por mim, homens nus, homens naturais... Quando recordamos fatos históricos, científicos, fazemos certamente a introdução no sentido de confrontar, por exemplo, natureza e sociedade. E notadamente vamos melhor usufruir e preservar a natureza na medida do nosso melhor conhecimento, através sempre de um olhar perceptivo, respaldado na ciência e na tecnologia, visando integrações lúcidas, mas jamais uma utópica, e ignorante, volta às cavernas. Vida supõe assimetria, mutação, evolução, e não involução, retrocesso, primitivismo. Hoje, nós todos não sepultamos os nossos mortos em montes de empilhamento... Isso tudo posto, e refletido, nos permite tentar uma ponte para a prática nudista-naturista consciente. Reafirmo aqui que o nosso centenário naturismo é tão somente natural, distante de ideologias, de dogmas e de princípios político-partidários. A boa prática nudista-naturista deve, e pode, conciliar natureza e tecnologia, natureza e conhecimento, cidadania. Não esqueçamos, de passagem, que a prática nudista-naturista moderna, atual, está intimamente ligada ao lazer, ao turismo organizado. O naturista consciente, bem informado, culto, saberá sempre estar nu no seio da natureza, mas sem tentar utopias, radicalismos; o naturista de hoje, sobretudo, não precisa ser um troglodita, dormir ao relento, ou em ambientes primitivos ou perigosos, sujeitando-se a contatos danosos, ainda que eventuais, com animais peçonhentos... O naturista não precisa, nem deve, ser um “natureba” deslumbrado, que rejeita a técnica científica, que bate tambor em vez de usar o celular... O naturista não deixa nunca de ser um cidadão do mundo e, como tal, consulta o médico em lugar do curandeiro, utiliza o automóvel em vez do lombo do asno, escreve no computador e não nas pedras das cavernas... Ser naturista não é abrir mão da ciência, da tecnologia, até porque, reafirmo, a prática naturista não é um delírio, uma utopia, um transbordamento exótico. Paulo Pereira/Dezembro – 2011 Nota: O meu novo livro “Sem Pedir Julgamentos”, Editora Livre-Expressão, será simbolicamente lançado na Praia do Abricó em data a ser anunciada aqui, no Jornal Olho Nu. Um Feliz Ano Novo a todos! * Escritor, jornalista, biólogo,ex-presidente da Rio-NAT |
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