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Jornal Olho nu - edição N°135 - fevereiro de 2012 - Ano XII |
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NATURISMO E TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO por Evandro Telles*
Na orelha da capa do livro “Verdades que as Roupas Escondem”, lançado em 2009, escrevi: “Nesses novos valores incluímos a reintegração do homem como parte da natureza, que nunca foi tão destruída como está sendo nos últimos 50 anos. Tivemos essa postura agressiva por não nos vermos como parte da natureza, por não nos vermos como naturais.” No dia 11 de dezembro de 2011 foi publicada no jornal “A Gazeta” a entrevista com Leonardo Boff, defensor da Teologia da Libertação nos anos 70 e 80 dizendo: “O homem se acha acima da natureza. Esquece que faz parte dela. Daí vêm os desastres naturais.” Será que Naturismo tem algo a ver com a Teologia da Libertação?
Apesar da semelhança dos comentários, a Teologia nada tem de comum com Naturismo, muito menos com a Teologia da Libertação, que de certa forma traz implicações com lutas de classes sociais e assim encontra sintonia com a política. Naturismo faz semelhança com a natureza onde não existem diferenças sociais, o contexto implícito é completamente diferente, a nossa igualdade não se busca nas lutas de qualquer tipo e sim na harmonia e aceitação de si mesmo.
A Teologia tenta estudar e conhecer Deus nas palavras e isso é impossível porque o ser humano nem mesmo se conhece e por causa da sua arrogância e prepotência...Deus, vida, existência, amor não podem ser conhecidos, não podem ser definidos porque o nosso vocabulário é limitado pela mente, não existem palavras, só podem ser experienciados. Basta perguntar aos biólogos a definição de Vida ou aos poetas a definição de Amor não saberão responder. Até mesmo a Física quando mergulhada no mundo quântico não encontra palavras para explicar suas formulações (O Tao da Física de Fritjof Capra). Vivemos num mundo de incertezas.
Chuang Tzu, foi um famoso filósofo taoísta chinês diz: “Seja natural, e você florescerá.” A perfeição do Zen reside precisamente em viver a vida diária com naturalidade e espontaneidade. Mas isso é exatamente o que defende o Naturismo e, consequentemente, podemos estabelecer uma relação muito íntima com os místicos que aqui viveram. Por isso somos compreendidos por poucas pessoas, até rotulados como loucos.
Na Conferência proferida por Michel Caillaud, Presidente da Federation Française de Naturisme ele diz: Para alguns, o naturista é um iluminado, um membro de seitas adoradoras do sol, da natureza. Um panteísta. Ele chega a ser considerado um amável comedor de cenouras, um asceta à procura de pureza, mas também é CONSIDERADO UM SER ANORMAL e imoral, um exibicionista que se compraz a viver nu em coletividade, para satisfazer, não se sabe quais perversões sexuais. Para outros é um ginasta, um vegetariano que se exercita nu, como em Olímpia, ou mais simplesmente, hoje... um turista digno de interesse.(tradução livre do francês por Edson Medeiros).
O Naturista consciente questiona e busca suas verdades naturais e não precisa de nenhum dogma religioso para justificar a sua postura, a escolha de viver com naturalidade. A própria natureza o libera dessa condição. Não é necessário, diga de passagem, misturar ideologias e conceitos. Será que sou louco? Ou nós é que vivemos num mundo louco? Há milhares de pessoas ocupadas com a produção de armas 24 horas por dia em nome da paz. Eu que sou louco por mostrar que podemos viver harmoniosamente com todas as nossas diferenças?
Dizem que sou louco, por pensar assim, Se eu sou muito louco por eu ser feliz Mas louco é quem me diz E não é feliz, eu sou feliz Eu juro que é melhor não ser um normal,
(Ney Matogrosso)
O Naturismo cria condições para que o indivíduo se transforme. Tirar as roupas é o menor dos problemas, aparentemente é o maior. A questão fundamental é a consciência do ser, é a individualidade conectada com o todo, é o universo dentro de cada um de nós e nós dentro do universo. Não há como dividir, não há como conceitualizar essa transformação. É voltar a ser criança. Ao nascer, você estava nu. Não trouxe consigo nenhum balanço bancário tampouco, mas não estava com medo. Nós chegamos ao mundo completamente nus, mas entramos como um imperador. Nem mesmo um imperador é capaz de entrar no mundo como uma criança.
Dizem que Naturismo é voltar ao passado. Pode ser, é melhor voltar a ser uma criança feliz do que um adulto maluco. Pessoalmente presenciei esse retorno num dos nossos encontros. Os adultos se transformaram em pessoas muito melhores.
Evandro Telles 15/01/12 www.evandrotelles@blogspot.com
(enviado em 26/01/2012) |
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