Outro
dia, estando num clube naturista, ouvi de uma mulher
a seguinte frase: “Aqui, eu esqueço que estou sem
roupas.” Coisa aparentemente trivial para quem se
considera naturista. Mas na realidade, a referida
frase encerra um auspicioso nível de desenvolvimento
nesta filosofia de vida.
Vivenciar a liberdade não é simplesmente poder se
desvencilhar de uma convenção social ou regra de
conduta, como por exemplo: andar vestido. Mas em
estar livre de fato! Não apenas em transpor um tabu,
romper com um costume, mas fazer isto sem o
sentimento de estar quebrando valores reais, que
traga peso de culpa ou algum desconforto para a
consciência.
Nem
sempre nascemos livres ou sabemos cultivar a
liberdade no decorrer da vida. Às vezes temos que
lutar contra certas tendências inatas ou contra
deformações originadas da educação errônea. Mas isto
faz parte do processo, crescer ou aperfeiçoar-se as
vezes dói. Temos que ter ousadia para dispormos da
liberdade, assim como devemos ter consciência para
experimentá-la. Liberdade e responsabilidade são
dois pratos de uma balança que se equilibram.
Liberdade com responsabilidade envolve, entre outras
coisas, respeito para consigo mesmo e para com os
outros. Isto nos leva a não incorrer em vícios ou
qualquer outra prática que cause alienação, como por
exemplo: o abuso de drogas ou a exploração sexual.
Quem
se realiza com o naturismo pelas razões certas
alcançou de fato um marco de libertação na
experiência humana. Vivenciar a liberdade não é
apenas despojar-se de limitações e imposições, mas
vestir-se de atitude positiva, de sabedoria, de
equidade. Permitir que a percepção da sensualidade
seja dirigida pela percepção da liberdade.
A
condição de não mais considerar a visão do corpo
impropriamente ou como um risco moral, demonstra
amadurecimento. A transposição da barreira ética e
estética que considera o corpo como algo impudico
denota uma conquista da psique. Não mais sentir
compulsões de caráter lascivo, ou sentimentos de
falta de dignidade pela percepção da nudez alheia,
isto é vivenciar a liberdade sob a sua forma mais
plena. Se esquecer das roupas como necessidade moral
é um indicativo de emancipação, coisa de gente bem
formada, que conseguiu colocar suas emoções sob o
domínio da razão, que conseguiu se desvencilhar do
cativeiro de suas percepções.
O
aprimoramento do caráter, colocando sob o domínio da
razão as percepções e os pensamentos está no cerne
das grandes religiões. Pela ótica do naturismo esta
condição se viabiliza pela familiaridade com a
nudez. Ao invés de coibir as tentações da carne pela
vedação do corpo, como propõe a ética moral mais
comum, pode-se educar a mente a ver com respeito e
serenidade o corpo e suas funções.
Ao se
dar o direito de estar nu com dignidade, a pessoa
adquire espontaneidade, leveza, segurança. E se
esquecer de que está nu, pode ser a coroação de uma
vida simples, espontânea e feliz.