Nudez e Sensualidade:
Impressões e Realidades do Naturismo
por
Aguinaldo da Silva*
Na
mídia, em especial na Internet, 99,9% de tudo o que é veiculado
envolvendo nudez é conteúdo que pode ser considerado erótico ou
pornográfico. Isto acaba dando a impressão que é impossível desvincular
nudez de sexo. Justamente esta é a idéia da maioria das pessoas e
acredito que é nisto que reside a maior resistência das pessoas à
prática do Naturismo.
img: arquivo
JON |
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O fotógrafo
Norte-americano Spencer Tunick esteve em São Paulo no ano de
2002 para fazer um de seus trabalhos com nudez coletiva |
Outro dia, ao assistir um
vídeo de um trabalho do fotógrafo Spencer Tunick, pude fazer uma
constatação já percebida no meio naturista. As cenas mostravam um
agrupamento de pessoas nuas ao ar livre, numa área pública, não para uma
performance sexual, mas apenas para serem fotografadas. Mesmo que para
alguns a cena possa ser considerada sensual, na realidade a impressão
que tende a causar é outra.
Do grupo de participantes,
alguns expressavam um pouco de tensão pelo cenário inusitado, outros
estavam mais à vontade parecendo já acostumadas à nudez social, mas em
geral o sentimento parecia ser de liberdade. Pessoas querendo ver a si e
aos outros como são, livres do artifício das roupas e da impressão falsa
que a mesma dá.
img: arquivo
JON |
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O Parque do
Ibirapuera foi o palco no Brasil |
Ali não se criou um
ambiente oportuno para a prática da sedução, ou mesmo ao exibicionismo,
pois todos estavam simplesmente nus, sem adereços, enfeites, fetiches,
etc. Havia pessoas de várias idades e formas físicas diferentes, todos
juntos, compondo uma massa de corpos humanos. Mesmo que ali estivesse
uma beldade, era apenas mais uma pessoa na multidão.
Ao observar este evento
pude refletir sobre como surgem as impressões e as associações que
usamos para caracterizar sentimentos, valores e idéias. Por um momento,
as pessoas do episódio narrado transmitiram a idéia de que é necessário
muito pouco para ser feliz. Que criamos máscaras para nossas fantasias e
depois nos condicionamos a elas. Que a vida seria muito mais fácil e
simples se quiséssemos de fato.
img: arquivo
JON |
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O editor do
Jornal OLHO NU participou deste evento inesquecível |
Geralmente nos deixamos
levar pelo que está à primeira vista ou a impressão que formamos a
partir dos nossos conceitos ou preconceitos. Quando se fala em
nudismo/naturismo é comum se ouvir algo associando à indecência ou ao
erotismo. Uma falsa impressão que pode ser debelada apenas pela
experiência prática. Geralmente quem desconsidera o Naturismo como
estilo de vida nunca foi a uma área naturista. É a impressão rotulando,
criando conceitos à priori. Na minha infância, minha mãe sempre
dizia: “Meu filho, não despreze a sopa sem experimentá-la.” Geralmente
eu estava errado e a sopa estava boa, hoje sou um apreciador de sopa.
Este é um bom exemplo para ilustrar o que não se explica muito bem por
palavras.
É muito forte a influência
de um costume ou tendência popular sobre nossas escolhas. Especialmente
quando esta tendência é potencializada por um veículo de comunicação em
massa. Mas devemos encarar e deixar fluir as coisas como são. Se há a
tendência de pôr ou ver erotismo em tudo, devemos encarar isto como um
artifício, um vício da sociedade, e não a realidade dos fatos à luz do
bom senso e da racionalidade.
*Teólogo e escritor
aguinaldodasilva@yahoo.com.br
Veja a matéria sobre a sessão fotográfica realizada por Spencer Tunick
em São Paulo, publicada pelo jornal OLHO NU em maio de 2002