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Jornal Olho nu - edição N°141 - Agosto de 2012 - Ano XIII

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Naturalmente - Agosto de 2012

por Paulo Pereira*

 

A badalada Rio+20 passou, mas convém refletir ao escutar o seu eco meio inquietante. Como biólogo e naturista, índio branco, reafirmando o valor do insight sereno, permito-me algumas breves colocações. Nascido nu, sem saber falar ou andar, concebido pelo sexo natural e parido por mulher, como qualquer outro primata, por exemplo, o bicho-homem insiste em querer ser um semideus, um anjo decaído e eterno, um agente tecnológico meio automatizado, talvez inviável no tempo… A grande maioria parece esquecer que a Terra é antiga, muito mais antiga, e instável, do que se costuma, inadvertidamente, imaginar ou conceber. Igualmente, o ser humano não apareceu ontem apenas, nos últimos seis ou sete mil anos, como procuram fazer crer alguns crentes mal informados.

 

Cerâmica de 20 mil anos achada na China

Em sua edição de 29 de junho de 2012, na página “Ciência”, por exemplo, o jornal “O Globo” publica uma pequena, mas profundamente significativa matéria sob o título de “Cerâmica de 20 mil anos achada na China”, salientando que, segundo sérios estudos, a criação ou invenção da cerâmica mostra-se muito mais antiga do que se sabia… Diz, então, o referido texto: “O trabalho, divulgado na “Science”, integra um esforço recente para datar pilhas de cerâmica do Leste Asiático. O material teria mais de 15 mil anos e refuta teorias de que sua invenção teria apenas 10 mil anos, mesma época em que o homem deixou de ser caçador-coletor para se tornar agricultor… Segundo os pesquisadores chineses e americanos, o aparecimento da cerâmica ocorreu em plena Idade do Gelo, o que pode prover novas explicações sobre aquele período.” Eis mais uma evidência de que o longo processo evolutivo humano não ocorreu subitamente por mágica sobrenatural. A natureza mãe não dá saltos, não pede julgamentos nem está inteiramente sujeita aos caprichos e ações humanas. Anotemos isso aqui e agora.

 

Quando se fala exaustivamente em sustentabilidade e aquecimento global, muitas vezes usando o termo “ecologia” indiscriminadamente, quase um mero clichê, é mister melhor referência e mais correto conhecimento, até porque a ciência, repito sempre, não é feita de subjetividades, oportunismos nem, menos ainda, de catastrofismos, mas sim de muitas provas e contraprovas isentas.

 

As questões relativas à natureza e à evolução do homem, através dos séculos e milênios, precisam interessar a todos, e certamente aos amantes do natural e da comunhão com a natureza, também aos amigos naturistas autênticos, sem casuísmos. Preliminarmente, devemos separar os mitos, as generalizações e os modismos ou clichês dos fatos comprovados. Lembremos desde já que a Terra não é o centro do Sistema Solar e que não estamos mais vivendo os dias insanos da chamada Idade Média. Crendices e terrorismo ambientais, por exemplo, não são Ciência (com maiúscula)… Todos nós sabemos que o caminho do equilíbrio dos vários biomas e da melhor qualidade da vida humana é longo e controverso. Desenvolvimento e sustentabilidade, crescimento maior e degradação ambiental menor, tecnologia e conservação, industrialização e preservação, eis o desafio multifacetado que colocamos (por nossas ações) diante de nós, e a cada ano de forma mais exigente. Mas é importante o olhar perceptivo e desarmado, isento e sereno, atento e sábio, para não misturar o joio ao trigo, o ambientalismo (movimento social) com a ciência da Ecologia (Biologia), e sempre priorizando não apenas a informação, mas sim o conhecimento, menos ainda o catastrofismo ou as projeções afoitas, interessadas. O ser humano, primata, é realmente um poderoso agente agressor do meio ambiente, mas tem limitações fundamentais, essenciais, e nunca foi um deus todo poderoso, capaz de, sozinho, dominar toda a natureza, o cosmos, o planeta Terra, as energias da vida. O exagero e a impropriedade não são medidas adequadas à boa pesquisa científica. Inúmeros cientistas de saber renomado, serenos, tem alertado para os transbordamentos, as previsões apocalípticas. Ter e difundir uma correta conscientização ambiental é fato digno de louvor, mas a ilação não é ciência.

 

Além dos conhecidos estudos e trabalhos do Dr. Carlos Molion, por exemplo, o cientista Dr. Easterbrook contesta o exagero, o quase terrorismo ambiental da maioria, demonstrando, em resumo, que a Terra sempre passou, e continuará passando, por constantes ciclos de calor e frio, de metamorfoses, de construções e destruições, na ênfase energética das assimetrias, da evolução, do início e do fim… Na página “Ciência”, de “O Globo”, 28/6/2012, algumas matérias pedem atenção, como a questão das emissões de gases, os estudos relativos ao ancestral (ancestrais) do homem, e principalmente o problema (?) do aquecimento. A matéria assinada por César Balma assinala: “A Humanidade e suas crescentes emissões de CO2, dióxido de carbono, e outros gases do efeito estufa não tem nada a ver com o aquecimento global… Segundo Don Easterbrook, professor emérito de Geologia Glacial da Western Washington University, apontado como um dos principais cientistas que contestam o “consenso” em torno do tema, as pesquisas, com base em análises de amostras de gelo (Groelândia), indicam que a Terra passa por constantes ciclos de aquecimento e resfriamento, com duração aproximada de 30 anos cada; Easterbrook acrescenta que não acredita no propalado aquecimento global, sobretudo, porque não há dados físicos definitivos que comprovem que isso está acontecendo.” O referido cientista é enfático: “Tudo que os arautos das mudanças climáticas tem são modelos computacionais fundamentalmente errôneos”. Então, procurar preservar o meio ambiente é propósito elogiável e aconselhável, mas sem “oportunismos verdes”, sem politicagem, com respaldo, aí sim, acadêmico, rigoroso, e não barulho apocalíptico na mídia. O texto de “O Globo”, sintético, é claro: “De acordo com Easterbrook, o aquecimento das últimas décadas é fruto de um processo natural que já terminou, com evidências de que, desde o ano 2000, a Terra entrou numa fase (lenta) de resfriamento. Foram identificados pelo menos 40 ciclos de calor e frio nos últimos 500 anos e que, desde a última Idade do Gelo, há entre 10 e 15 mil anos, ocorreram pelo menos uma dúzia de episódios em que a elevação da temperatura do planeta foi de 15º C, mais de 15 vezes maior do que a alta atual, sendo que nenhum deles estaria diretamente associado a aumentos na concentração de dióxido de carbono na atmosfera”…

 

É sumariamente importante ressaltar aqui que ninguém está a favor da degradação ambiental nem dos exageros do homem, mas é bom reafirmar que a ciência não é modismo, onda social, interesse político-econômico, nem deve ser pretexto para equívocos, para a repetição cansativa de meros clichês catastrofistas. Ainda citando o texto de “O Globo”, julgo pertinente sublinhar o que disse Easterbrook, afirmando que o CO2 é incapaz de causar uma mudança climática significativa (acentuada, intensa, global) e não pode (não deve) ser usado para explicar o pequeno aumento da temperatura atual. A partir dos anos 1970, a temperatura começou a subir e, mesmo assim, apenas décimos de grau, o que não tem maior relevância estatística. Para o mencionado cientista, com apoio de muitos outros homens ilustres da Ciência, todas as emissões de CO2 da Humanidade, desde o início da chamada Revolução Industrial, mudaram em apenas 0,008% a composição da nossa atmosfera. Todos esses ciclos, então, estão associados a variações na temperatura da superfície dos oceanos, que é afetada pela cobertura de nuvens do planeta, que muda de acordo com oscilações, sobretudo, no campo magnético do Sol. Na média, segundo Easterbroook, considerando anos mais quentes e mais frios, o aumento falado não ocorre. Pessoalmente, concordo com Easterbrook, como biólogo, como amigo da natureza nua, pois acredito, sim, que o bicho-homem degrada estupidamente a natureza, mas, julgando-se um deus, considera-se poderoso o bastante para comandar o cosmos, o planeta, a vida. Tem razão Easterbrook quando destaca os exageros catastróficos, quando afirma que o discurso do dito aquecimento global grave é, sobretudo, uma estratégia de grupos interessados em obter dinheiro e poder, inclusive no sistema da ONU…

 

O bicho-homem, paradoxal, reúne-se para falar de ambientalismo e sustentabilidade, mas aproveita para badalar, para fazer política, para fechar negócios em parcerias internacionais no valor de bilhões, questões distintas da Ecologia tão vulgarizada.

 

Nas lidas do dia-a-dia, o homem, acima de tudo, revela sua crueldade sem igual (na comparação com os ditos irracionais), promovendo massacres, guerras, assassinatos, torturas, como recentemente nas ruas e cantos desse nosso grande país perplexo, quando dois irmãos abraçados, confundidos com gays, foram atacados, e um deles morto a pedradas. Sem falar ainda no caso do jovem gay de 15 anos, de Volta Redonda, barbaramente espancado, empalado, olhos furados, corpo atirado ao rio… Até quando?

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Rio de Janeiro, 2012

 

*Paulo Pereira

Escritor, tradutor, biólogo,

o naturista mais antigo do Brasil.


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