Naturalmente
- Agosto de 2012
A
badalada Rio+20 passou, mas convém refletir ao
escutar o seu eco meio inquietante. Como biólogo e
naturista, índio branco, reafirmando o valor do
insight sereno, permito-me algumas breves
colocações. Nascido nu, sem saber falar ou andar,
concebido pelo sexo natural e parido por mulher,
como qualquer outro primata, por exemplo, o
bicho-homem insiste em querer ser um semideus, um
anjo decaído e eterno, um agente tecnológico meio
automatizado, talvez inviável no tempo… A grande
maioria parece esquecer que a Terra é antiga, muito
mais antiga, e instável, do que se costuma,
inadvertidamente, imaginar ou conceber. Igualmente,
o ser humano não apareceu ontem apenas, nos últimos
seis ou sete mil anos, como procuram fazer crer
alguns crentes mal informados.
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Cerâmica de 20 mil anos achada na China |
Em sua
edição de 29 de junho de 2012, na página “Ciência”,
por exemplo, o jornal “O Globo” publica uma pequena,
mas profundamente significativa matéria sob o título
de “Cerâmica de 20 mil anos achada na China”,
salientando que, segundo sérios estudos, a criação
ou invenção da cerâmica mostra-se muito mais antiga
do que se sabia… Diz, então, o referido texto: “O
trabalho, divulgado na “Science”, integra um esforço
recente para datar pilhas de cerâmica do Leste
Asiático. O material teria mais de 15 mil anos e
refuta teorias de que sua invenção teria apenas 10
mil anos, mesma época em que o homem deixou de ser
caçador-coletor para se tornar agricultor… Segundo
os pesquisadores chineses e americanos, o
aparecimento da cerâmica ocorreu em plena Idade do
Gelo, o que pode prover novas explicações sobre
aquele período.” Eis mais uma evidência de que o
longo processo evolutivo humano não ocorreu
subitamente por mágica sobrenatural. A natureza mãe
não dá saltos, não pede julgamentos nem está
inteiramente sujeita aos caprichos e ações humanas.
Anotemos isso aqui e agora.
Quando
se fala exaustivamente em sustentabilidade e
aquecimento global, muitas vezes usando o termo
“ecologia” indiscriminadamente, quase um mero
clichê, é mister melhor referência e mais correto
conhecimento, até porque a ciência, repito sempre,
não é feita de subjetividades, oportunismos nem,
menos ainda, de catastrofismos, mas sim de muitas
provas e contraprovas isentas.
As
questões relativas à natureza e à evolução do homem,
através dos séculos e milênios, precisam interessar
a todos, e certamente aos amantes do natural e da
comunhão com a natureza, também aos amigos
naturistas autênticos, sem casuísmos.
Preliminarmente, devemos separar os mitos, as
generalizações e os modismos ou clichês dos fatos
comprovados. Lembremos desde já que a Terra não é o
centro do Sistema Solar e que não estamos mais
vivendo os dias insanos da chamada Idade Média.
Crendices e terrorismo ambientais, por exemplo, não
são Ciência (com maiúscula)… Todos nós sabemos que o
caminho do equilíbrio dos vários biomas e da melhor
qualidade da vida humana é longo e controverso.
Desenvolvimento e sustentabilidade, crescimento
maior e degradação ambiental menor, tecnologia e
conservação, industrialização e preservação, eis o
desafio multifacetado que colocamos (por nossas
ações) diante de nós, e a cada ano de forma mais
exigente. Mas é importante o olhar perceptivo e
desarmado, isento e sereno, atento e sábio, para não
misturar o joio ao trigo, o ambientalismo (movimento
social) com a ciência da Ecologia (Biologia), e
sempre priorizando não apenas a informação, mas sim
o conhecimento, menos ainda o catastrofismo ou as
projeções afoitas, interessadas. O ser humano,
primata, é realmente um poderoso agente agressor do
meio ambiente, mas tem limitações fundamentais,
essenciais, e nunca foi um deus todo poderoso, capaz
de, sozinho, dominar toda a natureza, o cosmos, o
planeta Terra, as energias da vida. O exagero e a
impropriedade não são medidas adequadas à boa
pesquisa científica. Inúmeros cientistas de saber
renomado, serenos, tem alertado para os
transbordamentos, as previsões apocalípticas. Ter e
difundir uma correta conscientização ambiental é
fato digno de louvor, mas a ilação não é ciência.
Além
dos conhecidos estudos e trabalhos do Dr. Carlos
Molion, por exemplo, o cientista Dr. Easterbrook
contesta o exagero, o quase terrorismo ambiental da
maioria, demonstrando, em resumo, que a Terra sempre
passou, e continuará passando, por constantes ciclos
de calor e frio, de metamorfoses, de construções e
destruições, na ênfase energética das assimetrias,
da evolução, do início e do fim… Na página
“Ciência”, de “O Globo”, 28/6/2012, algumas matérias
pedem atenção, como a questão das emissões de gases,
os estudos relativos ao ancestral (ancestrais) do
homem, e principalmente o problema (?) do
aquecimento. A matéria assinada por César Balma
assinala: “A Humanidade e suas crescentes emissões
de CO2, dióxido de carbono, e outros gases do efeito
estufa não tem nada a ver com o aquecimento global…
Segundo Don Easterbrook, professor emérito de
Geologia Glacial da Western Washington University,
apontado como um dos principais cientistas que
contestam o “consenso” em torno do tema, as
pesquisas, com base em análises de amostras de gelo
(Groelândia), indicam que a Terra passa por
constantes ciclos de aquecimento e resfriamento, com
duração aproximada de 30 anos cada; Easterbrook
acrescenta que não acredita no propalado aquecimento
global, sobretudo, porque não há dados físicos
definitivos que comprovem que isso está
acontecendo.” O referido cientista é enfático: “Tudo
que os arautos das mudanças climáticas tem são
modelos computacionais fundamentalmente errôneos”.
Então, procurar preservar o meio ambiente é
propósito elogiável e aconselhável, mas sem
“oportunismos verdes”, sem politicagem, com
respaldo, aí sim, acadêmico, rigoroso, e não barulho
apocalíptico na mídia. O texto de “O Globo”,
sintético, é claro: “De acordo com Easterbrook, o
aquecimento das últimas décadas é fruto de um
processo natural que já terminou, com evidências de
que, desde o ano 2000, a Terra entrou numa fase
(lenta) de resfriamento. Foram identificados pelo
menos 40 ciclos de calor e frio nos últimos 500 anos
e que, desde a última Idade do Gelo, há entre 10 e
15 mil anos, ocorreram pelo menos uma dúzia de
episódios em que a elevação da temperatura do
planeta foi de 15º C, mais de 15 vezes maior do que
a alta atual, sendo que nenhum deles estaria
diretamente associado a aumentos na concentração de
dióxido de carbono na atmosfera”…
É
sumariamente importante ressaltar aqui que ninguém
está a favor da degradação ambiental nem dos
exageros do homem, mas é bom reafirmar que a ciência
não é modismo, onda social, interesse
político-econômico, nem deve ser pretexto para
equívocos, para a repetição cansativa de meros
clichês catastrofistas. Ainda citando o texto de “O
Globo”, julgo pertinente sublinhar o que disse
Easterbrook, afirmando que o CO2 é incapaz de causar
uma mudança climática significativa (acentuada,
intensa, global) e não pode (não deve) ser usado
para explicar o pequeno aumento da temperatura
atual. A partir dos anos 1970, a temperatura começou
a subir e, mesmo assim, apenas décimos de grau, o
que não tem maior relevância estatística. Para o
mencionado cientista, com apoio de muitos outros
homens ilustres da Ciência, todas as emissões de CO2
da Humanidade, desde o início da chamada Revolução
Industrial, mudaram em apenas 0,008% a composição da
nossa atmosfera. Todos esses ciclos, então, estão
associados a variações na temperatura da superfície
dos oceanos, que é afetada pela cobertura de nuvens
do planeta, que muda de acordo com oscilações,
sobretudo, no campo magnético do Sol. Na média,
segundo Easterbroook, considerando anos mais quentes
e mais frios, o aumento falado não ocorre.
Pessoalmente, concordo com Easterbrook, como
biólogo, como amigo da natureza nua, pois acredito,
sim, que o bicho-homem degrada estupidamente a
natureza, mas, julgando-se um deus, considera-se
poderoso o bastante para comandar o cosmos, o
planeta, a vida. Tem razão Easterbrook quando
destaca os exageros catastróficos, quando afirma que
o discurso do dito aquecimento global grave é,
sobretudo, uma estratégia de grupos interessados em
obter dinheiro e poder, inclusive no sistema da ONU…
O
bicho-homem, paradoxal, reúne-se para falar de
ambientalismo e sustentabilidade, mas aproveita para
badalar, para fazer política, para fechar negócios
em parcerias internacionais no valor de bilhões,
questões distintas da Ecologia tão vulgarizada.
Nas
lidas do dia-a-dia, o homem, acima de tudo, revela
sua crueldade sem igual (na comparação com os ditos
irracionais), promovendo massacres, guerras,
assassinatos, torturas, como recentemente nas ruas e
cantos desse nosso grande país perplexo, quando dois
irmãos abraçados, confundidos com gays, foram
atacados, e um deles morto a pedradas. Sem falar
ainda no caso do jovem gay de 15 anos, de Volta
Redonda, barbaramente espancado, empalado, olhos
furados, corpo atirado ao rio… Até quando?
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PS:
Enquanto a ciência vira modismo, e até pretexto, a
nudez natural e as orientações sexuais são
questionadas, vilipendiadas, mas, segundo
estatística do IBGE (“O Globo - 30/6/2012 – “O
País”), decresce o número de católicos, sobe o de
ateus, e aumenta acentuadamente o de evangélicos… Dá
o que pensar. Mais do que nunca, é indispensável não
misturar ciência com ideologias ou religiões. Será
que sexo e nudez são tabus, coisas do demônio?
Façamos uma grande reflexão!
Escritor, tradutor,
biólogo,
o naturista mais antigo do
Brasil.
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