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Jornal Olho nu - edição N°142 - Setembro de 2012 - Ano XIII

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O PELADÃO E O DOCUMENTO

por Paulo Lima*

Fonte: Revista IstoÉ

 

Nas famosas "ramblas" de Barcelona, um pacato cozinheiro de barbas brancas andou por anos e anos vestindo apenas suas 21 tatuagens. .

 

Preste bem atenção na foto. O distinto cidadão com jeito de banhista veterano trajando sunga discreta e escura na verdade está nu. Trata-se do cozinheiro Esteban Ejarque, um sujeito de 67 anos de idade que desde muito novo descobriu que tanto as leis da região da Catalunha onde vive quanto a legislação federal espanhola não registram nenhuma restrição à ideia de um cidadão de bem circular pelos logradouros públicos nu em pelo.

 

Naturista de longa data, Esteban passou a perambular pelas famosas ramblas de Barcelona portando apenas um saquinho com, pedindo desculpas pelo trocadilho involuntário, seu documento. Leva também na mesma bolsa, além de um sanduíche, água e cigarros, uma cópia xerox do texto que deixa claro que não é ilegal andar pelado na Espanha. Os mais de 225 mil turistas que passam pelos 2 quilômetros da passarela de pedestres mais famosa da Europa, já estavam bastante acostumados com as 21 tatuagens (incluindo o escudo do Barcelona, seu time do coração) e com a visão do avantajado membro do cozinheiro balançando ao vento. Para amenizar eventuais choques, Esteban cuidou de tatuar em volta da cintura, nas nádegas e púbis a mancha negra que imita o tecido de sua sunga virtual. E assim vivia feliz para lá e para cá, sem que ninguém o importunasse. Mas a casa caiu para o peladão de Barcelona.

 

Assim reporta o jornalista Daniel Setti, que, depois de razoável esforço, achou Esteban e conversou com ele para um perfil na edição da “trip” de setembro, que abordará o pênis e todos os seus significados: “Em 29 de abril de 2011, o PSC (Partido dos Socialistas da Catalunha), formação centro-esquerdista até então tolerante aos pelados metropolitanos, pactuou com a outra força política local, o partido mais conservador CiU (Convergência e União), na criação de lei que os penalizasse com multa de 120 a 500 euros. Nudismo ou seminudismo (calção, biquíni, etc.), a partir de então, só seriam permitidos nas praias ou piscinas, onde ainda é algo totalmente normal – lembre-se que a relação dos europeus, sobretudo a dos mediterrâneos, com a nudez é bastante bem resolvida. Com a proibição, Esteban voltou a vestir-se em período integral. Desde então, é um homem invisível. Ou seja, tornou-se irreconhecível quando vestido até para quem o conhece há anos.

 

A anedota faz da saga de Esteban um prato cheio para teóricos da guinada não apenas espanhola, mas europeia ao conservadorismo, fomentada pelas dificuldades financeiras e pela ascensão de políticos de direita. Nu no exercício de suas liberdades individuais, ele era, além de uma espécie de popstar das redes sociais, o retrato da Barcelona moderna, quase utópica, das últimas três décadas. Segundo Esteban, sua ‘peladeza’ era uma resposta ao sofrimento que o acompanhou em boa parte de sua vida. Perdeu a mãe no nascimento, apanhou de ‘educadores’ no colégio interno, a irmã morreu cedo de câncer, nunca se entendeu bem com o pai...

 

Despido forçadamente de sua nudez, ele nos dá um banho de realidade da Espanha 2012, em crise e com o astral na sola do pé: veste a mesma combinação de calça, camiseta e chinelo nos dois encontros, exibe os dentes em péssimo estado e cheira mal. Conta que sobrevive com míseros 357 euros por mês da aposentadoria e 104 de ajuda do governo catalão. Divide apartamento com outras quatro pessoas e almoça todo dia no bandejão.”

 

Se quiser saber mais e ver fotos mais reveladoras do naturista das ramblas, basta digitar http://is.gd/Jg1r7J . Você conhecerá o homem que agora anda cabisbaixo e anônimo pela cidade, rezando para que, como ele mesmo diz, lhe seja devolvida a liberdade que tanto ama e que lhe foi súbita e arbitrariamente tolhida. Fato é que a proibição da nudez do cozinheiro gerou polêmicas intermináveis na mídia espanhola sobre os limites das liberdades individuais e o redesenho dos padrões de comportamento na Europa, deixando expostas as partes íntimas de uma sociedade que carrega a contradição entre o liberalismo radical e o conservadorismo mais arcaico. Sem querer ou querendo, nosso cozinheiro jogou pimenta malagueta no cozido.

 

*A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip,

é publicada quinzenalmente na revista IstoÉ.

 

Matéria publicada originalmente na revista IstoÉ, edição 2233, 29 ago 2012.

A partir deste ponto republicação e atualização das matérias publicadas originalmente na seção "Últimas Notícias" do jornal OLHO NU, entre 4 e 31 de agosto de 2012

Escritora tira roupa em livraria de São Paulo para "estimular a leitura"

 

por Guilherme Solari

Do UOL, em São Paulo

 

A escritora Vanessa de Oliveira ficou nua em uma livraria de São Paulo neste domingo (12), para protestar contra a pirataria em um ato que afirma também servir de estímulo à leitura, em uma livraria de São Paulo junto de uma integrante do grupo Femem.

 

Ex-garota de programa e autora de livros sobre sexo, a autora esteve acompanhada de uma integrante do grupo feminista Femem, que também ficou nua em apoio à causa de Vanessa.

"Eu me inspirei inicialmente na Marcha das Vadias”, disse Vanessa ao UOL. “Depois conheci o Femem e achei a minha cara. É neofeminismo, é exatamente o que nós precisamos. Eu e o Femem tivemos essa coincidência de ideologia”.

O protesto foi feito durante o lançamento de seu novo livro, "Psicopatas do Coração", baseado em um antigo relacionamento destrutivo da autora. “Eu explico a outras mulheres, com conhecimento de causa, a como sair do relacionamento com um psicopata”, definiu.

Vanessa já havia feito um protesto nu no Peru, onde falou que a cultura de pirataria está muito enraizada. “Recebi uma resposta muito positiva dos peruanos”, falou. “Já o brasileiro sensualiza muito as coisas e tem mais dificuldade em entender [os protestos] como uma campanha”.

O protesto reuniu curiosos na Avenida Paulista em torno das janelas da livraria, que puderam conferir por trás o protesto. Nem todos sabiam do que se tratava. “Fica fechado lá dentro, é difícil entender o que está acontecendo”, disse o empresário Eduardo, que não quis revelar o seu sobrenome. Em geral, a resposta do público ao ato de Vanessa parece ser positiva também aqui no Brasil. “Eu não sei o que ela defende, mas eu apoio”, garantiu o garçom de um bar das redondezas que assistia ao evento.

 

Fonte: http://entretenimento.uol.com.br/noticias/

 

(enviado em 12/08/12 por Cesar Nu)


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