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Jornal Olho nu - edição N°143 - Outubro de 2012 - Ano XIII |
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O ELO PERDIDO DO NATURISMO por Evandro Telles*
Algumas pessoas que nunca tiveram experiências com o Naturismo me questionam: Vocês chegam à praia ou sítio, tiram a roupa. Só isso? O pensamento já está voltado para sexo, esse “só isso” é um vazio que o indivíduo sente, está faltando alguma coisa. Justamente a importância de se criar esse vazio que é preciso ser entendido. Somente uma nova mentalidade pode ser criada se tivermos um espaço que nunca foi dado pela sociedade, ao contrário, desde a infância fomos bombardeados na repressão ou numa liberdade promíscua com relação ao sexo, raramente no seu verdadeiro sentido.
Foi comemorado no dia 06 de Setembro o “dia do sexo”. A data é celebrada desde 2008, após uma ação de marketing do fabricante de preservativos Olla e da agência Age, ambas americanas, novamente usando “sexo“ para finalidades mercantilistas. Numa pesquisa rápida pela internet percebi uma relação de abordagens a favor do sexo, muito interessante! Só faltou o principal: “Sexo é a forma como a natureza te engana para preservação da vida”.
O Naturismo não é contra o sexo, simplesmente o coloca no sentido mais natural, na fluidez da própria natureza, na beleza do encontro dos opostos que se tornam um só, sem distinção, sem diferenças, numa perfeita harmonia, que desafia qualquer orquestra harmônica porque até o som que ouvimos depende dos neurônios cerebrais que acumulam informações e valores individuais, ou seja, até o que escutamos podemos estar enganados pela nossa própria natureza. (1) Até o que vemos com os nossos próprios olhos também nos engana, “portanto, não enxergamos na essência da realidade física. Temos apenas nossos experimentos, e eles nos dão uma imagem incompleta do que ocorre.” (2)
Os valores humanos são como uma escada de muitos degraus, o amor é luxúria no degrau mais baixo como também é oração no mais alto. Na luxúria, o amor equivale a apenas 1%; 99% são coisas como ciúmes, ilusões e mal-entendidos, possessividade, raiva, sexualidade. O amor, nesse caso, é mais físico, mais químico, não tem profundidade. É muito superficial, não ultrapassa o nível da pele. Conforme os sentimentos vão ficando mais profundos, ganham novas dimensões. O que era fisiológico começa a ter uma dimensão psicológica. O que era pura biologia começa a se tornar psicologia. (3)
O vazio criado pela simples nudez sem intenções pode provocar profundas reflexões sobre o corpo e a forma como relacionamos com o mundo que nos cerca. Além dos benefícios físicos da exposição ao sol já descritos em outros textos, também encontramos no psíquico. Ora, esses benefícios são para todas as pessoas sem excluir idade, sexo e raça, não é algo só para adultos, o Naturismo é inclusivo.
Diversas áreas naturistas têm aceitado pessoas vestidas desde que não se importem com a nudez dos outros, até aí tudo bem desde que não se torne um hábito do visitante continuar freqüentando seus recintos com roupas, Por quê? Em primeiro lugar, porque é um espaço naturista e destinado para o exercício da nudez social; em segundo, que considero o mais importante, não estamos realizando para essa pessoa nenhum benefício psicológico, teríamos que ajudá-la a vencer seus temores e fazer a travessia para os valores naturais.
Às vezes não sou bem interpretado com esse posicionamento. Não é uma questão de radicalismo, nem mesmo de imposição à nudez. Mas se o Naturismo não puder realizar mudanças individuais que proporcione crescimento e uma postura diferente em relação ao próprio corpo, não haveria nenhuma necessidade somente da minha nudez. Na verdade é algo que precisa ser dividido e compartilhado, caso contrário torna-se um comportamento egoísta.
Quanto mais coberto o corpo maior é a curiosidade e assim favorecendo a fantástica indústria do fetiche, cujo mercado vem crescendo muito acima do número dos freqüentadores do Naturismo. Com toda infra-estrutura para atender um público que dá retorno financeiro para os investidores. (4) A Pompéia destruída pelo vulcão Vesúvio foi reerguida, agora é esperar que o Naturismo seja de fato uma utopia do século XXI. Talvez em alguns anos estejamos procurando onde foi que erramos, onde está o elo perdido de um estilo de vida rico na essência, mas perdeu para o materialismo e suas ilusões.
Evandro Telles 10/09/12 www.evandrotelles.blogspot.com
(1)
Miguel
Nicolelis, Muito Além do Nosso Eu; Mercado do sexo: a fantástica indústria do fetiche |
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