por Pedro Ribeiro*

Paulistas e cariocas fizeram a festa naturista no primeiro evento realizado pela jovem agência EcoMar Viagens e Turismo. Foi a primeira vez também que uma pousada na Ilha Grande fechou exclusivamente para o Naturismo. A viagem começou oficialmente nas docas do famoso balneário de Angra dos Reis, no Estado do Rio de Janeiro, às 8 horas da manhã do sábado 13 de abril. No entanto horas antes os participantes deixaram suas cidades de residência e se dirigiram a este ponto de encontro. Naturistas de diversas cidades do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro viajaram boa parte da madrugada para estarem pontualmente no horário do início do tão esperado passeio.

A pequena escuna partiu da estação de barcos em direção à Ilha levando consigo os 25 intrépidos viajantes no horário marcado. O mar estava calmíssimo, no entanto havia uma nebulosidade, que anunciava o mau tempo previsto justamente para este fim de semana, mas este fato não parecia estar desanimando a turma empolgada, principalmente porque a deslumbrante paisagem já se descortinava diante de todos.

A viagem de cerca de uma hora serviu para que todos se apresentassem e já começasse a serem criados os primeiros laços de amizade. Alguns dos naturistas presentes já eram veteranos nos diversos eventos que são promovidos durante todo o ano por todo o Brasil. Outros, porém, faziam suas estreias em eventos fora das sedes de suas associações.

Ao se aproximar da Ilha Grande a beleza descortinada era ímpar. A mistura de montanha coberta por uma Mata Atlântica exuberante, aparentemente intocada, com o azul cristalino do mar era deslumbrante.

Do pequeno cais onde desembarcamos seguimos em meio à mata fechada, por trilhas devidamente organizadas, direto para a pousada Lagamar, que seria nossa morada nestes dois dias. A primeira impressão foi estupenda. Incrustada no meio da vegetação, construída em vários níveis do terreno, a pousada proporcionava paz e harmonia com a natureza, com direito à uma vista privilegiada da baía de Angra dos Reis. Fomos recepcionados com muito carinho e atenção pelo jovem casal proprietário, a paulista  Luciana e o argentino Ezequiel, e, logo depois, por vários micos vindos das árvores que se chegaram para saber o porquê de tanto rebuliço.

Não pudemos imediatamente tirar nossas roupas porque ainda havia hóspede não naturista que estava desocupando seu quarto. Mas enquanto aguardávamos, o café da manhã começou a ser servido compensando as horas de viagem até este local encantador. Então os participantes começaram a ser distribuídos pelos diversos quartos.

Quando já estávamos devidamente instalados, Valério e Simone, os condutores desta festa, apresentaram o roteiro que nos aguardava. O primeiro "compromisso" era o de conhecer um pequeno "poço", que se forma entre as pedras à beira mar bem em frente da pousada. A priori seria o único local possível de se ficar nu além da pousada por estar bem protegido da visão de fora.

Na pequena praia que se formou no poço havia muito pouca água, pois a maré estava muito baixa. Mesmo assim o sol estava marcando sua presença entre as nuvens e o povo se animou à prática do naturismo, com direito à exploração dos arredores e ao mergulho com snorkel para investigação do fundo do mar. Por volta do meio dia a maré começou a subir e foram formadas verdadeiras piscinas de águas tranquilas. Por volta de uma da tarde todos já haviam retornado à pousada para o almoço.

Depois do almoço, alguns momentos de descanso e a preparação para caminhar e explorar as trilhas próximas. Realizamos o programa, aproveitando para conhecer algumas praias não naturistas que se alcançavam pelo caminho. Todos, é claro, com suas vestimentas apropriadas para o ambiente. Depois de mais de meia hora de caminhada e sem encontrar qualquer pessoa cruzando por nós, alguns decidimos continuar o projeto sem roupas e nos sentirmos mais à vontade. Nosso objetivo era o de alcançar uma praia que costuma estar deserta de pessoas. Para sabermos se podíamos ou não continuar nus, um batedor foi à frente para investigar a situação. Sinal verde. A belíssima praia era toda nossa e ficou totalmente naturista. O mar estava calmíssimo e morno e fizemos a festa, mas nuvens negras se aproximavam.

Por volta das cinco da tarde decidimos retornar à pousada antes da chuva eminente. Parcialmente não obtivemos sucesso, pois a chuva forte desabou na trilha de volta e, ainda bem que somos naturistas, as roupas foram devidamente protegidas da água e da lama nas bolsas que carregávamos. Alguns escorregões ali outros deslizes acolá, chegamos são e salvos à nossa morada, embora enlameados. Todos direto para seus quartos para o banho e a espera para o jantar.

O jantar foi festivo com música, bate-papo e sorteio de diversos brindes oferecidos pelos organizadores. Acabou sendo abortada a apresentação prevista da peça teatral da pequena Isis, filha de Rose Santana, devido à impossibilidade de ensaios por parte de uma das atrizes, a jovem paulista Paula Mayra, que pela manhã havia se ferido ao pisar em um ouriço dentro do mar. Apesar da insistência da plateia, a diretora e autora de 8 anos se recusou a executar a função naquelas condições. Nem por isso a alegria do grupo esmoreceu e começou um divertido bingo que "enriqueceu" alguns sortudos. Não era tão tarde mas o cansaço do dia e da viagem da madrugada se fez pesar. Todos se retiraram para seus quartos torcendo para que a chuva forte insistente arrefecesse e tivéssemos um domingo, senão ensolarado pelo menos sem chuvas.

O domingo amanheceu chuvoso. Todos lamentavam a falta de sorte, mesmo assim ninguém nem pensou em deixar de fazer o esperado passeio de escuna. Após o café da manhã seguimos todos para o cais onde já nos esperava a escuna contratada, a mesma que nos serviu no dia anterior, a Cigana do mar. No momento do embarque só havia um chuvisco, mas não estava frio. O passeio transcorreu de forma naturista para alguns, pois nem todos tiveram coragem de tirar as roupas por causa do vento frio de agora e o aumento de intensidade da chuva.

Se do lado de fora de nosso barco o clima não era dos melhores, dentro era o oposto. Muita música, dança e bate-papo descontraído, com direito a piadas e tudo mais. Os mais intrépidos mergulharam nas águas as quais juraram não estarem frias, mas a visão não estava muito apropriada e a correnteza estava um pouco preocupante. Então retornaram ao barco e partimos para a Ilha da Gipoia para almoçarmos.

Os proprietários do restaurante só estavam nos esperando, pois éramos os únicos turistas nas proximidades no momento. O almoço farto e variado satisfez o gosto de todos. Os pratos servidos receberam muitos elogios quanto ao sabor. O programa para após o almoço era continuar velejando e visitar praias possíveis para a prática do nudismo, mas o grupo decidiu retornar à pousada, por causa do mau tempo. Decidimos também antecipar em uma hora o retorno para o porto de Angra dos Reis para que tivéssemos menos problemas de retorno às nossas bases.

Após as despedidas de praxe e as fotos infalíveis despedimo-nos dos anfitriões da pousada Lagamar e retornamos mais uma vez à escuna que nos levaria de volta à Angra. Ironicamente, neste horário das 16 horas, o tempo começava a abrir. Nada no entanto tirou o brilho e o encanto desta viagem que será inesquecível para a grande maioria, principalmente pelo fato de aumentar o círculo de amizade naturista.

Em todo passeio ou evento como esse há sempre uma pessoa estreante no Movimento naturista. Desta feita foi Paula Mayra, de 20 anos, atriz e escritora de teatro sorocabana que já atuou em várias peças em sua cidade natal e em outras na capital paulista. Foi convidada pelo amigo Luciano, do NIP, que a presenteou com o pacote turístico por seu aniversário. Foi sua primeiríssima vez. Nunca esteve antes nua diante de um grupo, revelou que levou um susto no início quando as primeiras pessoas começaram a se despir ali na pousada, no jardim, na varanda sem a menor cerimônia, mas rapidamente, graças à sua espontaneidade, o susto inicial passou com a convivência natural, sem malícia e a forma acolhedora do grupo.

Já tinha sido convidada pelo Luciano, que conheceu através de um amigo comum, já fazia algum tempo. O assunto naturismo surgiu nas conversas informais entre os amigos, mas a oportunidade de participar somente surgiu agora. No momento não tem condições de fazer parte de um grupo naturista, em sua opinião, por estar sua vida focada em outra direção.

Paula foi o centro das atenções por causa de sua alegria e conversa contagiante. Acabou sendo também uma das principais atrações por causa do pequeno acidente que sofreu ao ter mais de dez espinhos cravados na sola de seu pé, ao pisar em um ouriço do mar. Acabou sendo a vítima preferida das brincadeiras dos outros amigos naturistas.

A EcoMAr Viagens e Turismo está promovendo um outro passeio para a Ilha Grande para a mesma pousada Lagamar para o dia 26 de outubro. Não perca desta vez.

Na foto ao lado, nas extremidades Valério e Simone, organizadores da excursão. Ao centro os donos da pousada Lagamar, Luciana e Ezequiel.

*editor

pedroribeiro@jornalolhonu.com