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Jornal Olho nu - edição N°153 - Agosto de 2013 - Ano XIV |
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Naturismo é ecumênico, ou mais ainda Texto e fotos por Pedro Ribeiro*
A tranqulidade e a serenidade do Padre Roberto Valicourt, francês de nascimento há 80 anos, mas morador do Brasil por mais de metade de sua vida, fez com que essa entrevista realizada durante as comemorações do decênio do Grauna, em Manaus, fosse uma conversa de troca de ideias e opiniões. O motivo da entrevista é a raridade em se encontrar um padre naturista, que ainda exerce sua função e que ainda por cima não tem pudores nem receios de mostrar sua imagem nua em veículo de comunicação. Para conhecer melhor sua vida, leia as suas revelações contadas ao OLHO NU.
Pronto ao sacerdócio em 1961, passou sete anos servindo na periferia de Paris, quando houve a chance de vir para nosso país como voluntário. Chegou ao Brasil como missionário em 1968, em pleno vigor e dureza da Ditadura Militar, diretamente para Belém do Pará. Destes 45 anos que está no Brasil, somente por duas ocasiões esteve longe da Região Amazônica brasileira. Logo após sua chegada foi estudar português na cidade fluminense de Petrópolis, considerada cidade imperial por abrigar várias construções que serviram de moradia para os imperadores brasileiros. Mas o curso teve que ser interrompido com apenas quatro meses, pois o governo militar decidiu cercar e isolar a cidade do resto do país. Teve que retornar a Belém, ainda com pouco conhecimento de nosso idioma. Uma outra vez, bem mais adiante no tempo, durante três anos foi servir em Campinas, no Estado de São Paulo, mas mais uma vez retornou ao estado do Pará. Morador de Manaus há três anos.
OLHO NU: O senhor já era naturista lá na Europa, antes de vir para o Brasil? Padre Roberto: Minha experiência começou em 1965. Na periferia de Paris ouvi falar de naturismo a partir de uma revista chamada "Vie au soleil". Procurei o endereço de uma instituição naturista francesa, mas me disseram que infelizmente eu não poderia frequentar por ser solteiro, por eles somente aceitarem famílias. Fiquei decepcionado e fui embora. Mas eu voltei uma outra vez e insisti - não tem jeito mesmo de conhecer? - Eles responderam - só se tiver um casal que o acompanhe - Eu disse que não conhecia ninguém. Eles mesmo me apontaram um casal católico que era da coordenação nacional do movimento naturista na França. Então entrei em contato com eles e criei amizade com esta família. A família me convidou para ir à praia com ela. Passamos oito dias juntos em Cap d'Age. Foi maravilhoso. Foi assim que comecei. Naquele tempo lá era muito bom.
OLHO NU: Então quando o senhor veio para o Brasil, tentou descobrir aqui um local naturista. O que foi que aconteceu?
Padre Roberto:
Eu soube que tinha um naturista e encontrei o João Carlos (ex-padre -
leia entrevista no
OLHO NU nº 30). Não me lembro o ano. Conheci ele e a Fátima, sua
esposa e o restante do povo do Grunapa.
OLHO NU:
Mas essa foi a primeira experiência aqui? O Grunapa foi criado na década
de 90.
Padre Roberto:
Bem, também tive experiência naturista em Campinas, durante o tempo que
passei por lá. Conheci a Renata Freire e o NIP. Mas não faz mais de 20
anos. Quando cheguei em Petrópolis em 1968, desci ao Rio de Janeiro para
procurar. Conheci uma pessoa, que infelizmente não me lembro quem é. Fui
ao seu apartamento e ele me falou que naquele momento não havia locais
para a prática.
OLHO NU:
E hoje em dia, como é sua relação com o Naturismo?
Padre Roberto:
Quando cheguei em Manaus, há três anos, já tinha ouvido falar do Grauna.
Mas acabei entrando em contato de outro jeito. Conheci primeiro o Carlos
Sena, que fez parte do Grauna mas já tinha se desligado. Através dele
conheci o Jorge Bandeira e acabei me envolvendo. E a partir daí
raramente perco uma reunião mensal. Isso já tem um pouco mais de dois
anos.
OLHO NU:
E a sua relação com seus fiéis?
Padre Roberto:
Eles não sabem que eu sou naturista. É difícil publicamente aparecer.
Mas os sacerdotes sabem. Em casa eu praticava o naturismo. Eles
estranhavam no início, mas hoje não tem problema. E também na equipe
indigenista com a qual trabalho, todos sabem e eu já convidei os índios
para virem aqui, mas só um aceitou. Os índios hoje não querem mais ficar
nus. Quando eles moravam na floresta ficavam sem roupas, mas aqui na
cidade não querem mais. Eles dizem "não somos mais selvagens". São muito
resistentes à ideia. Há um cacique que falou pra mim "os padres nos
obrigaram a usar roupa, agora a gente não quer mais tirar".
OLHO NU:
E o que o senhor acha do Movimento Naturista no Brasil?
Padre Roberto:
Eu tenho pouca participação. somente conheci estes três grupos, o
Grunapa, o NIP e o Grauna. Acompanho os acontecimentos e o movimento
através do OLHO NU. Eu fico assim, querendo ver o Movimento crescer. Tem
muito significado para mim. Principalmente o relacionamento ecumênico.
Acho até que mais que ecumênico, pois há gente agnóstica, além de
católicos, protestantes, espíritas e de religiões orientais. Isso é
fantástico. É tudo muito simples. É um convívio maravilhoso. isto não
acontece no mundo moderno. É Xiita brigando com Sunita. Protestante com
católico. no Naturismo não. Todos se tratam como irmãos. O Naturismo tem
um papel importante na sociedade moderna. Mostra que todos podem
conviver bem com religião e ideologia diferentes. Por isso é que eu sou
naturista e não abro mão. E outra coisa é o respeito à natureza. Coisas
que tenho visto como a destruição da floresta no Sul do Pará, depois em
Rondônia e agora, como estão
entrando, no Sul do Amazonas. Então a defesa da natureza é muito
importante para mim.
Também estou vendo Manaus como local muito sexual, sempre
a nudez relacionada a sexo. Também vejo então o naturismo com um grande
papel social para mudar isso. Com menos pensamento sensual. Tudo acaba
em sexo. Cada um tem sua intimidade, sua família, mas tem que haver o
respeito.
Eu gostaria de convidar mais gente. Mas na Igreja é muito
complicado.
OLHO NU:
Muito obrigado Padre Roberto, por essa entrevista.
Padre Roberto:
Eu é que agradeço. Espero ansiosamente vê-la publicada.
Entrevista concedida em 14 de julho de 2013
*Editor do jornal OLHO NU
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