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Jornal Olho nu - edição N°164 - Julho de 2014 - Ano XIV |
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NATURISMO E YANNI por Evandro Telles*
Yanni, é o nome do livro lançado em Maio desse ano pelo amigo Yan Siqueira, não perdi tempo e logo registrei a minha presença ao lado de uma pessoa que muito admiro por sua incansável dedicação na declamação, na poesia e na forma como ele coloca as palavras em seus artigos. Ora agressiva, mas que retrata muito do que ouvimos no cotidiano, ora mostrando as frustrações das pessoas que vivem frequentemente conosco e em alguns momentos até mesmo de forma amorosa, mas não deixando de ser realista.
Um livro instigante a partir da própria capa onde mostra a fotografia de Claude Cahun, pseudônimo inventado pela artista que se chamava Lucy Renée Mathilde Schwob. Esse nome foi escolhido intencionalmente por se tratar de um nome que poderia ser tanto masculino quanto feminino. Do mesmo modo que Yanni foi considerado. Pode ser homem, mulher ou criança, pode ser qualquer um que queira assumir a sua roupagem.
Yan sabe muito bem que a linguagem nunca pode abranger a totalidade da vida, nunca se teve êxito por meio da expressão linguística, principalmente por causa das falhas das nossas percepções sensoriais, a mente tudo quer dividir: homem, mulher; macho, fêmea; dia e noite; frio e quente. Transcender essa polarização é ir além do Yin e Yang que é um princípio da filosofia chinesa onde representam duas energias opostas. A vida só pode se manifestar com a força dessas energias, o que na verdade não são opostas. Como transcender diante de uma mente fragmentada?
Numa passagem o Yanni estava num reformatório e o autor diz: “O maior problema era lidar com a nudez. Não que fosse tímido, não é isso. Mas as cicatrizes do passado não só marcavam as memórias, mas também o corpo. Souberam que uma cicatriz lhe cortava as costas.”
Em outra Yanni é um homem num corpo de mulher e “Odiava as conversas das meninas, preferia jogar baralho com os meninos no intervalo entre as aulas. Sem saber, eu já tinha escolhido – mesmo sabendo que não se trata de uma escolha – o que queria ser.” (página 70) E quando “Havia feito a minha decisão. Na noite em que contei, minha mãe me olhou com os olhos nus. Ela não esperava que eu fosse tão longe. Você não é minha filha, ela disse. Respondi que ela estava certa. Eu queria ser um filho. Fui expulso de casa.” (página 71)
Outras passagens também merecedoras de destaques, mas no momento ficarei com as que foram citadas acima.
Tenho divulgado a filosofia de vida naturista como um meio de tornar as pessoas melhores, principalmente quando esses “melhores” guarda um significado não somente cultural, mas também do ponto de vista psíquico. Tenho em minhas mãos diversos depoimentos que o Naturismo tirou o indivíduo do seu estado depressivo, em outros casos até mesmo houve o resgate da sua auto-estima. Se Yanni fosse um naturista a cicatriz não seria um problema para a sua nudez, o conceito do outro em relação ao seu corpo não seria de forma nenhuma considerado. Conheci pessoas que mesmo sem um seio, retirado por causa de um câncer de mama, ainda assim freqüentava áreas naturistas. Um verdadeiro exemplo de desprendimento e de uma beleza maior do que os desfiles das misses perfeitas! As verdadeiras mudanças não ocorrem de fora e sim dentro de cada um de nós mesmos.
Naturismo é também harmonia com a natureza. Sabe o que isso significa? Uma das coisas mais belas que pode existir no relacionamento humano, é aceitar o outro do jeito que ele é. Tenho certeza que a preocupação da mãe do Yanni era com os conceitos sociais e o julgamento dos outros, se não fosse por isso e da falta de amor ela jamais negaria a sua maternidade e não precisaria Yanni tentar o suicídio. (página 72) A natureza não pede julgamentos.
Em alguns dos meus depoimentos, quando digo que sou naturista noto disfarçadamente risos sarcásticos como se o movimento nudista encerrasse com a nudez. Isso não é verdade, o seu resultado é psicológico e transparência do que realmente somos, ou seja, uma nova consciência surge a partir de uma nova realidade. E quando vejo algumas piadinhas sem graça com relação ao corpo, fico desejando que o outro tente alcançar uma percepção mais humana e natural. Não nego, às vezes sinto-me frustrado diante de tanta hipocrisia. Pode ser que eu seja o Yanni não aceito pela maioria como citado no livro, nesse caso o Yanni Naturista, mas não me impedirá de tentar criar um mundo melhor para se viver. Obrigado Yan, muitos questionamentos foram tirados do seu livro. Expõem os preconceitos que o Naturismo cura.
Evandro Telles 10/06/14 www.evandrotelles.blogspot.com
(enviado em 10/06/14) |
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