A
definição do Naturismo diz que é “um modo de vida em harmonia com a
natureza”. Duas questões não muito fáceis de serem respondidas
normalmente aparecem em diversos contextos: 1) Como a nudez natural
cria esse tipo de harmonia? 2) É possível criar harmonia com aquilo
que não conhecemos?
Em resposta à primeira questão cito o artigo de Viegas Fernandes da
Costa, “Sobre a Nudez Social” quando ele diz: “Assim, ao despir-me,
na Praia do Pinho, reconheci a “graça” em mim, o “cuidado de si” não
para atender às necessidades estéticas do outro, mas para a minha
conciliação comigo mesmo, em um processo de reconhecimento da minha
integralidade.” Fica claro aqui que não há nenhuma preocupação com o
julgamento que o outro possa fazer de seu corpo, isso é um problema
de quem julga e não de quem é julgado. A harmonia aqui criada é com
ele mesmo.
Em outro artigo do Dr. John Veltheim, “Nus Por Baixo da Roupa” em
que ele mostra diversos motivos benéficos da nudez social, entre
esses motivos está a interação com a vida em que ele diz: “Quando as
pessoas se desligam psicologicamente e fisicamente, especialmente
através da metáfora da necessidade das roupas para se esconderem do
mundo, não estão apenas se escondendo das outras pessoas, elas
escondem-se do mundo. Elas bloqueiam a troca de energia e reduzem a
vitalidade total disponível para elas. Elas também prejudicam a sua
capacidade de se relacionarem e interagirem com o mundo. Essa
interação é um critério essencial para qualquer organismo saudável.
Todas as células, animais, plantas e seres humanos sobrevivem de
acordo com suas inter-relações com o mundo à sua volta. Quando as
pessoas se isolam, elas prejudicam a sua capacidade de crescerem e
de processar o mundo como deveriam”.
Os
dois textos citados mostram que a nudez social cria o ambiente
necessário para que o indivíduo possa criar a harmonia com o mundo a
partir dele mesmo. E de que forma podemos nos harmonizar com a
natureza tão desconhecida por todos nós? Sim, estamos condenados a
ficar míopes permanentemente no que se refere à natureza. Com o
advento da era quântica os cientistas tomaram conhecimento de que as
entidades quânticas possuíam comportamentos que fugiam a tudo o que
eles poderiam considerar razoáveis e aceitáveis. Ora como
partículas, ora como ondas, às vezes aparece, de repente some e
reaparece em outro lugar. A natureza estava brincando, e ela adora
se esconder.
A ciência estava chegando às mesmas conclusões dos místicos
orientais. Fritjof Capra em seu livro “O Tao da Física” nos diz: “O
misticismo oriental baseia-se na percepção direta da natureza da
realidade; por seu turno, a Física baseia-se na observação dos
fenômenos naturais através de experimentos científicos. Em ambos os
campos, as observações são então interpretadas e a interpretação é frequentemente comunicada através de palavras. Levando-se em conta
que as palavras são sempre um mapa aproximado, abstrato, da
realidade, as interpretações verbais de um experimento científico ou
de uma percepção mística são forçosamente imprecisas e incompletas.
A
existência não tem linguagem e, se você depender da linguagem, não
poderá haver comunicação com a existência. A existência é um
mistério, você não poderá interpretá-la. Se você interpretar, errará
o alvo. A existência pode ser vivida, mas não pensada. Para ouvir a
ausência de palavras, você precisa não ter palavras, porque somente
semelhante pode ouvir semelhante, somente semelhante pode se
relacionar com semelhante. Ao sentar-se ao lado de uma flor, não
seja um ser humano, seja uma flor; ao sentar-se ao lado de uma
árvore, não seja um ser humano, seja uma árvore; ao tomar banho num
rio, não seja um ser humano, seja um rio. E então milhares de sinais
serão transmitidos a você, e não se trata de uma comunicação, mas de
uma comunhão. (A Harmonia Oculta)
O clima está mudando, e mais de 30 mil espécies estão morrendo por
ano. Estamos testemunhando a maior extinção em massa desde o
desaparecimento dos dinossauros há 65 milhões de anos. A diferença é
que, pela primeira vez na história, somos nós, e não a Natureza, a
causa da extinção. Só seremos capazes de efetuar mudanças positivas
numa escala planetária quando ficar claro o valor da vida e a
precariedade da situação presente (Marcelo Gleiser). Podemos
consertar quando o ser humano estiver em comunhão com a natureza, em
harmonia com a vida.
por Evandro Telles
evandro.telles@terra.com.br
19/04/15
(enviado em 19/04/15)