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Jornal Olho nu - edição N°175 - Junho de 2015 - Ano XV |
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Muito mais do que corpos nus 13/05/2015 · por jornalocasarao · em Cultura Alternativa. · Após mais de um século da criação do primeiro local oficialmente naturista no mundo, adeptos dessa filosofia de vida ainda enfrentam o preconceito e lutam pela quebra de tabus que cercam o movimento. Por Yuri Fernandes* O natural em meio ao caos Em um mundo cada vez mais conectado, onde carregadores de celulares se tornam quase que a energia que nos move e arranha-céus limitam nossa visão do horizonte, a natureza, muitas vezes, pode passar despercebida ou ser, até mesmo, ignorada. A dependência do uso de tecnologias nos dias atuais cresce e fica até difícil imaginar a rotina sem um smartphone ou computador. Se viver sem os aparelhos móveis se tornou uma situação quase impossível, como seria passar o dia inteiro sem roupas e em convívio com outras pessoas? Para alguns, pode ser uma tarefa difícil ou embaraçosa, mas para os praticantes do naturismo, isso não se aplica. Mais do que o ato de se despir, o movimento, que surgiu no início do século XX, vai além e tem como objetivo o crescimento psíquico do ser humano e a relação mais próxima e íntima com a natureza. Embora a prática ainda seja vista como um tabu por algumas parcelas da sociedade, a nudez sempre fez parte da história da humanidade. Afinal, na Grécia Antiga, os esportes eram praticados por atletas completamente despidos. Já no Império Romano, dos séculos II ao IV, as pessoas se banhavam nuas em termas públicas. Porém, com as mudanças no conceito de nudez ao longo do tempo e devido à influência das religiões cristãs, o nu passou a receber conotações relacionadas à malícia e o ato de se despir em locais públicos foi sendo marginalizado. Apesar das restrições, em 1906, foi criado na Alemanha o primeiro local oficial para a realização da atividade. No ambiente, havia a prática de exercícios físicos e a alimentação era baseada no vegetarianismo. Posteriormente, o movimento começou a ganhar força e mais adeptos, passando a se estender por outros países da Europa. Nos EUA, foi após a 2ª Guerra Mundial que ele se popularizou e se propagou por todo o mundo. Percebendo a necessidade da existência de um órgão que defendesse os interesses dos praticantes, em 1953 foi criada a Fundação Internacional de Naturismo (INF), que passou a definir, a partir de 1974, o naturismo como “um modo de vida, em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, com a intenção de encorajar o auto respeito, o respeito pelo próximo e pelo meio ambiente”. Luz del Fuego e o naturismo no Brasil Dora Vivacqua, mais conhecida como Luz del Fuego, foi a percussora dos ideais naturistas no país. Sempre à frente do seu tempo, a bailarina capixaba fundou o “Partido Naturista Brasileiro” em 1949, e na mesma época, o clube naturista Ilha do Sol, no estado do Rio de Janeiro. O local chegou, inclusive, a receber visitas de Brigitte Bardot e Steve MacQueen. Anos depois, Luz criava o “Clube Naturista Brasileiro”, sob rígidos princípios morais e de higiene. Com isso, o grupo foi reconhecido oficialmente pela INF. Porém, devido à repressão que vigorou durante a Ditadura Militar e com a morte de Luz del Fuego, o movimento perdeu adeptos. Os que praticavam o naturismo o faziam em propriedades particulares ou se reuniam às escondidas durante os anos 70 em praias como a do Abricó e Olho de Boi, no Rio de Janeiro, e Ubatuba, em São Paulo. No início dos anos 1980, com os primeiros indícios da prática na Praia do Pinho, em Santa Catarina, a filosofia passa a receber destaque da mídia e a ser difundida por todo o país. Hoje em dia, a Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) possui 30 entidades filiadas em 10 estados do país, mais o Distrito Federal.
Ficou curioso? Conheça a Praia do Pinho (SC), umas das primeiras praias de naturismo do Brasil, em um vídeo feito pela TV Bom Dia Santa Catarina:
Federação Brasileira de Naturismo Renata Barreto Freire, 57 anos, é a atual presidente da FBrN, a única entidade brasileira que representa o naturismo oficialmente no Brasil, e está à frente de uma organização que tem Conselho de Ética, Conselho Consultivo, Diretorias de Relações Institucionais, de Sustentabilidade e Meio Ambiente, entre outras. Apesar da estrutura e do arranjo organizacional bem definido, para Renata, o entendimento da filosofia ainda encontra barreiras: “Temos muita dificuldade em encontrar espaços sérios que realmente queiram explorar a nossa filosofia de vida como algo a se buscar”, conta a presidente, que considera equivocada a imagem do movimento passada pela mídia. Para entender como funciona a divisão da FBrN, clique aqui De acordo com Renata, o tabu ainda existe sobretudo por uma questão: “As pessoas acreditam que a prática da nudez social é sempre relacionada às práticas sexuais”, afirma. E para ela, a falta de informação é o fator que contribui para esse preconceito. “Entendo que, quando não conhecemos algo, criamos nossa própria ideia do que é este desconhecido e, ao mesmo tempo, não temos coragem de buscar este conhecimento”, diz a presidente da FBrN. “O naturista tem compromisso com tudo a sua volta. Cuidado com a natureza, respeito com as demais pessoas e com si mesmo. A solução de conflitos busca a harmonia das relações. É um mundo a ser buscado no nosso dia a dia”, defende. Um pedacinho de areia na orla carioca Além das belas e famosas praias de Copacabana, Leblon e Ipanema, a cidade do Rio de Janeiro também tem em seu litoral a Praia do Abricó, que apesar das belezas naturais, se difere das demais por um motivo: lá, a nudez é permitida desde a década de 70. Porém, só em 2014, uma lei regulamentou o naturismo no local, situado no Recreio dos Bandeirantes, a fim de garantir normas gerais para a prática e proteger os adeptos. Para Leonardo Valentim, atual presidente da Associação Naturista de Abricó (A.N.A), responsável por garantir o cumprimento das normas internacionais na praia, a lei foi um divisor de águas. “O naturismo ganhou força. O naturista conquistou de fato o direto de aproveitar seu espaço sem ser incomodado pelas autoridades locais e por aqueles que não concordam com a filosofia. Porém, ainda temos algumas insatisfações no que diz respeito à entrada de qualquer pessoa. Muitos homens solteiros vão em busca de erotismo, o que o naturismo não oferece”, ele conta. A organização está presente no local todos os finais de semanas e feriados com condições climáticas favoráveis. A A.N.A dispõe aos visitantes fiscais de segurança, que em esquema de ronda auxiliam na proteção e orientação aos praticantes. E foi como fiscal que o Leonardo Valentim começou a se envolver com a filosofia, cargo que ele ocupou por sete anos até chegar na presidência. Uma das primeiras medidas do seu mandato foi organizar uma campanha de doação de roupas e mantas para a população mais carente, projeto que ele pretende expandir a fim de propagar um naturismo ainda mais consciente. Como chegar à Praia do Abricó? Naturistas de primeira viagem Ir pela primeira vez à uma praia de nudismo pode parecer intimidador. Muitos vão pela curiosidade e outros com o intuito de interagir com os praticantes. Mas atenção meninas: nada de tirar apenas a parte de cima. Pelo menos é o que orienta o Valentim. “O acolhimento é feito da melhor maneira possível. Quando o visitante é naturista de primeira viagem, querendo conhecer a filosofia e fazer parte do ambiente, nós o recebemos logo na entrada da praia, explicamos como funciona e apelamos para o bom senso. Orientamos tirar tudo, porque o naturista vai se sentir incomodado com alguém seminu”, explica. E no país do carnaval, não poderia faltar a comparação. “Vivemos em uma sociedade hipócrita. No carnaval, todo mundo pode ficar pelado. Já a praia de naturismo é como se fosse o fim do mundo”, conclui Valentim. Apaixonada pelo mar e pela liberdade de ficar nua, a estudante universitária Layrha Moura, 22 anos, de Juiz de Fora (MG), se considera naturista mesmo sem nunca ter ido a uma praia ou clube voltado para o movimento. A vontade de conhecer um ambiente propício para a prática é grande e a curiosidade tem raízes históricas. “A natureza do ser humano é a nudez. Principalmente a sociedade brasileira, que a tem como traço da identidade cultural, herdada dos índios. A roupa foi um elemento que foi incorporado à cultura brasileira pelos portugueses, holandeses e franceses que aqui estiveram no período de formação territorial”, ela lembra. Naturismo no Facebook? Márcia Cristina, 45 anos, de Angra dos Reis (RJ) encontrou no Facebook uma maneira de unir as pessoas através da defesa do naturismo e da divulgação da prática. Há cerca de dois anos, ela criou o grupo “Voz Naturista“, que hoje possui quase 5.000 membros. No espaço, naturistas e curiosos se aproximam por meio de tópicos para discussões e questionamentos. “Encontrei quem tivesse vergonha de assumir algo tão simples, como se fosse um criminoso”, ela conta. Quando estava grávida de cinco meses, Márcia passou a se relacionar com a nudez de outras pessoas ao conhecer uma praia naturista. “Não era errado estar nua, não haveria punição ou crítica. Não estaria provocando ninguém. A sensação da liberdade aconteceu. Eu nadando sem culpa no marzão de Deus”, lembra Márcia que já visitou todas as praias de nudismo do país. Desde o dia que conheceu o naturismo, ela não abandonou o movimento. E a técnica em enfermagem não está sozinha nessa. Dois dos seus três filhos, também são adeptos. Poline Pinheiro, 30 anos, amiga de Márcia e integrante do grupo, também passou para a filha de 7 anos a filosofia do naturismo. “Para ela tudo é natural, quando ela vai para alguma praia que tem que colocar biquíni, ela não gosta”, conta a microempresária, que mora em Brasília. Segundo ela, ver crianças participando dos encontros é um grande prazer. “Temos a certeza que serão adultos evoluídos. Que conseguirão diferenciar a nudez do sexo. E a autoaceitação e respeito ao corpo do próximo com suas particularidades”, afirma a naturista que começou a fazer parte do movimento há 15 anos após uma viagem para Trancoso, na Bahia. Poline é protestante, mas garante que a religião não influencia no modo de vida. A espiritualidade é um dos temas que são tratados durante os encontros. “Venho percebendo que tem muitos evangélicos aderindo ao naturismo. Não só evangélicos, mas católicos, cristãos em geral”, comenta. Além de cachoeiras, e clubes naturistas, a microempresária pratica o naturismo em casa. Costume que o publicitário Flávio Borges, de Araçatuba, interior de São Paulo, também tem. Após 15 anos inserido no movimento, ele conta que nunca sentiu vergonha. “Comecei por curiosidade na Praia do Pinho, em Santa Catarina. Mas como moro no interior, minhas idas a encontros são mais limitadas. Acho legal a forma de ver o corpo ao natural”, relata. ‘Nu’ Literatura Evandro Telles é outro integrante da “Voz Naturista”. Mas ele tem um diferencial. Já escreveu três livros sobre o assunto: “Verdades que as roupas escondem“; “Naturismo – Um Estilo de Vida Transformador” e “Naturismo – Um Corpo Não Fragmentado”. “Comecei escrevendo e os assuntos foram gradativamente surgindo. Não é algo que a gente escolhe. Acho mesmo que somos escolhidos”, conta o escritor, que trabalha na área de Finanças. Naturista desde a infância, quando brincava nu no quintal de casa, Evandro possui vasto conhecimento sobre o assunto. Ele inclusive mantém um blog voltado para a temática. “O Naturismo entra na história tentando resgatar o respeito com a individualidade e a igualdade, mesmo com nossas diferenças”.
Você tem vontade de conhecer algum lugar Naturista? Clique sobre a pergunta anterior e você estará acessando o original dessa matéria aqui reproduzida. No final da página responda a essa enquete. *Fonte: http://jornalocasarao.com/2015/05/13 (enviado em 26/05/15 por Airam Santos) |
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