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Jornal Olho nu - edição N°178 - Setembro de 2015 - Ano XVI

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8º Tambaba Open de Surf Naturista

por Pedro Ribeiro*

Graças ao torneio que ocorre há 8 anos na praia de Tambaba, o surf já é tradição no esporte naturista praticado naquela praia. Isso se deve a um trabalho incansável feito durante todo esse tempo por seu idealizador Carlos Santiago, que, graças à sua dedicação ao esporte, hoje é membro da Federação Paraibana  de Surf. Já é sonho dos organizadores levar o esporte praticado de forma naturista para outras praias do Brasil e, quem sabe, no futuro, realizar um campeonato nacional de surf naturista com representantes das várias praias naturistas brasileiras.

Nilson Marinho, presidente da Federação Paraibana de Surf, disse que para despertar ainda mais o interesse dos surfistas ainda não adeptos ao naturismo para participar do torneio de Tambaba, ele o tornou reconhecido como prova do circuito oficial do surf paraibano, valendo 200 pontos na contagem geral. A estratégia deu certo e a competição teve o maior número de inscritos até hoje: 60 surfistas participaram das provas. "Vieram atletas do Rio Grande do Norte, de Recife e de outras regiões da Paraíba, porque querem iniciar o circuito paraibano com estes 200 pontos." Sobre a aceitação da prática da nudez durante o surf, Nilson revela que ainda existe um certo constrangimento e preconceito. A indagação mais comum é "mas tem que surfar nu, mesmo?". "Eu explico que é uma etapa de descarte, ou seja , aquele atleta que não quiser vir participar, pode descartar, mas vale 200 pontos na contagem total. Isso fez com que eles abrissem mais a cabeça e quisessem vir e é a primeira vez de alguns que estão aqui. Mas depois de uns 10 minutos que eles se sentem bem e acolhidos aqui, totalmente natural, os próprios organizadores transmitem isso, eles acabam vindo mais e abrindo a cabeça para isso. E o surf tem tudo a ver com o Naturismo". 

Desta forma o torneio tem também a intenção de atrair mais jovens ao naturismo, experimentando uma nova filosofia e, quem sabe, se tornando adeptos após o evento. E isso já é uma realidade em Tambaba. Grande parte dos surfistas que competem no Tambaba Open retornam durante o ano para praticar o surf ou simplesmente curtir a praia.

Badeco, que dirige uma escolinha de surf em João Pessoa, fazendo um serviço social, trouxe seu filho para a praia

O famoso torneio deu frutos. Há alguns anos Carlos Santiago criou a Escolinha de Surf Naturista para incentivar frequentadores da praia a praticar o esporte. Foi inspirada na Escolinha de Surf de João Pessoa, que é coordenado por Arnaldo Badeco, 55 anos, que encontrou no surf um caminho para mudar o rumo de sua vida há 37 anos e onde fez muitos amigos. Criou o projeto há 20 anos com a principal intenção de prevenir o uso das drogas através da prática do surf. O aluno tem que estudar e ter um boletim "sem ser colorido" - isto é, sem notas vermelhas. "A gente consegue salvar alguns", declara. Na cidade ele convida os alunos a participarem do Surf Nu, nem sempre tem sucesso por causa do sentimento de vergonha de muitos, mas quando consegue convencer, o aluno não larga mais da praia naturista. Conta que, neste ano, a situação se inverteu, foi ele quem foi convidado por um aluno da Escolinha para vir para o Torneio.

Badeco também conta que foi ele e mais alguns colegas surfistas que descobriram a praia de Tambaba, porque para chegar aqui somente haviam trilhas e caminhos quase intransponíveis. Quando a praia foi oficializada como praia de nudismo se sentiu estranho, no início, por ter que surfar nu.

Patrocinador e patrocinado: Claudinei ajudou Claudivan a participar do Tambaba Open

A solidariedade também teve vez nesta edição do Surf Nu. Alguns surfistas acabam não participando da competição por falta de dinheiro para pagar a taxa de R$ 50,00 de inscrição. Claudivan Gomes e Paulo Martins tiveram sorte e encontraram dois patrocinadores para que pudessem competir. Já a alguns dias na praia antes do início do Torneio, Claudinei Viana, do Rio de Janeiro e Márcio Lemes, de Brasília, ficaram tocados com a frustração dos rapazes e resolveram incentivá-los. "Eu os vi treinando com bastante afinco no sábado e reparei na angústia deles por não se inscreverem. Resolvemos saber o que estava acontecendo e eles nos contaram. Não tivemos dúvidas. Pagamos suas inscrições" revelou Claudinei. "Como educador físico, tenho que incentivar o esporte" diz Márcio, que já patrocinou jogadores de voleibol, que é de sua área de atuação. "Como percebi o empenho dos rapazes, não tive dúvida em patrocinar um deles".

Paulo foi patrocinado por Márcio

Claudivan, 17 anos, é estreante no torneio de Tambaba, mas não no naturismo. Já esteve na praia algumas vezes porque mora perto e já pegou onda várias vezes totalmente nu. Ele acha que deveria haver mais patrocinadores para incentivar a garotada a participar, inclusive também nas questões das pranchas e acessórios. perguntado se algum membro de sua família costuma prestigiar sua atuação no esporte, disse que não. Só os amigos.

Paulo, 18 anos, também não é novato no naturismo nem no torneio de Tambaba. Sua estreia foi na sétima edição do ano passado, onde acabou ficando com a segunda posição na categoria Local. Revela que agora a nudez não é mais nenhum problema e se sente totalmente à vontade, o que também foi confirmado pelo amigo Claudivan. Agradece imensamente a ajuda que seu patrocinador deu para que pudesse participar. Desta vez Claudivan e Paulo não se classificaram para as finais. Fica para o próximo ano.

Gustavo Augusto praticava Kite Surf enquanto os outros praticavam surf

Wagner Oliveira dando entrevista ao SBT

Outra atração que não passou despercebida para quem esteve na praia de Tambaba durante o Tambaba Open foi o Kite Surf, modalidade ainda mais radical que o esporte original porque o surfista é arrastado por uma pipa (kite, em inglês) ao sabor do vento, que o faz literalmente levantar voo em algumas ocasiões ou deslizar de maneira extremamente rápida sobre as ondas. Gustavo Augusto, 28 anos, é praticante desse esporte.  É a segunda vez que pratica essa variação do surf totalmente nu, com exceção das cintas de amarração à pipa. A primeira foi no ano passado, durante a edição anterior do torneio. Morador da área, pretende voltar mais vezes, porque acha que as pessoas se agradaram da ideia. Ele acha que velejar nu dá uma sensação de maior liberdade  de controle da prancha. "Não existe nenhuma marca de roupa que seja melhor que estar nu para velejar no kite ou até mesmo surfar só com a prancha." confessa. "A sensação é bacana para quem curte o esporte". Embora também curta surfar só a prancha ele somente começou após o Kite surf já estar enraizado na sua vida, há pelo menos seis anos. "Quando o vento não está bom eu coloco (no mar) uma pranchinha por aqui mesmo em Tambaba".

Wagner Oliveira é diretor técnico do evento e da Federação Paraibana de Surf. Como se não bastasse é cantor profissional e tem uma banda de Reggae, a qual animou a festa de confraternização entre naturistas e surfistas no dia 5 de setembro, na Arca do Bilú. Ele explica que "as regras do Tambaba Open de Surf Naturista não são diferentes das regras oficiais, o único diferencial é a união com a prática do naturismo, que já vem sendo agregado ao esporte há oito anos, agregando a nova geração e desmitificando a prática da nudez que era meio nebuloso." Para esta edição, como já dito antes, aumentou muito o número de inscritos com antigos participantes trazendo novos.

Alexandre Cunha, acumula na prefeitura do município do Conde os cargos de Secretário de Turismo e Secretário do Meio-Ambiente, foi pessoa onipresente em todo o evento. Participou das atividades no Território Macuxi e na Praia de Tambaba. O apoio da Secretaria ao Surf Nu foi "total", segundo suas próprias palavras. Ele visa não só a manutenção da filosofia, mas como também seu crescimento com novos adeptos ao Naturismo. "Nós consideramos a praia de Tambaba, uma das mais belas para o Naturismo do Brasil. Essa gestão vai manter esse apoio e ampliar a força a essa filosofia para que ela cresça cada vez mais." A prefeitura deu apoio estrutural ao evento para que fosse possível ele acontecer. O secretário compreende que investimentos desse tipo funcionam como publicidade para o município porque as matérias veiculadas pela mídia percorrem todo o território nacional e repercutem na mídia internacional.

Alexandre Cunha, Secretário de Turismo e de Maio-Ambiente da prefeitura do Conde

Apesar de todo empenho para o crescimento do Naturismo, Alexandre se declara não naturista. Perguntado se ele um dia pretenderia ser naturista, disse que no momento seria muito difícil participar da filosofia porque como homem publico poderia ser alvo político e é melhor se preservar nesse sentido. Talvez depois de deixar o cargo de secretário seja mais fácil ele participar.Mas diz que não tem problema algum em admitir e fazer propaganda, pois publica as fotos autorizadas no site da Prefeitura e no seu blog pessoal. "Entro frequentemente na praia para ver como está o lixo, para fiscalizar posturas... Mas você sabe, no início é meio impactante para quem não está acostumado, hoje eu já me sinto acostumado, eu já circulo me sentindo integrado. Faço questão de vir uniformizado com a camiseta da secretaria para as pessoas verem que é uma instituição que está ali atuando.

Segundo Alexandre falta ainda muita coisa para ser feita para melhorar a praia de Tambaba. "Estamos tentando melhorar desde a estrutura da chegada, o estacionamento, a proteção solar na praia, que são as cabanas que vamos fazer para se dar maior proteção; chuveiro. A gente vê que a praia está limpa, mas o recolhimento (do lixo) tem que ser mais eficaz. Precisa de iluminação, a questão da segurança, a questão da promiscuidade, a gente sabe que de vez em quando acontece... pessoas que não entendem o Código de Ética. A gente está procurando intensificar esta fiscalização. Enfim, e depois de tudo é trabalhar, futuramente, para os eventos, reforçá-los. Talvez trazer novamente o encontro mundial, encontros brasileiros e dar toda uma estrutura que essa praia precisa ter independente de tudo isso. Principalmente independente do poder público. Na nossa visão é que ela seja auto-sustentável, não só financeiramente mas de preservação ambiental e de costumes".

(enviado em 17/09/15 por Pedro Ribeiro)


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