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Jornal Olho nu - edição N°186 - Maio de 2016 - Ano XVI |
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Centro Turístico Praia do Pinho revisitado por Richard Pedicini
A Praia do Pinho, a primeira e mais primorosa área naturista do Brasil, tem passado por transformações em anos recentes, sem porém ter perdido o brilho. A face mais conhecida é o Centro Turístico Praia do Pinho – CTPP. Fora dele, a lanchonete Capop já funciona há 30 anos, servindo a quem não quer entrar no CTPP, e às vezes a quem nem entra na praia.
O CTPP
O Centro Turístico oferece acomodações que vão do luxo ao simples, área de camping com cozinhas e banheiros coletivos, e o bar Quiosque. É dirigido desde 2004 por Anilton da Silva Bitencourt Filho, 33 anos, casado, formado em Administração de Empresas e Turismo e Hotelaria. A formação talvez explica o ar profissional do CTPP, que oferece aos seus hóspedes um padrão de até quatro estrelas, e como diferencial, o naturismo.
Para quem visita após anos, a primeira mudança visível é que o verde pistache das construções foi substituído por bege. A antiga recepção de madeira deu lugar a uma construção feita de dois containeres juntados (foto à esquerda). No lado do mar, placas de vidro vão até o teto, enchendo a vão das portas de aço, que, a recepcionista Radaia assegura, às vezes são fechadas contra o sol, mas nunca foi necessário contra qualquer tempestade. O piso é em porcelanato de grande formato, e placas LED são embutidas no forro de gesso acartonado. Poltronas de estilo moderno, mas ainda assim confortáveis, aguardam visitas. Uma salinha atrás do balcão de atendimento, com a porta fechada por uma cortina, revela a cama de descanso da recepcionista on-call.
A restinga entre a areia da praia e área da CTPP foi restaurada, com a demolição do muro de alvenaria, substituído por uma cerca de postes de plástico e arame vinilizado. Passarelas suspensas de madeira ligam a areia ao Quiosque e ao deck da recepção. Na restinga mesmo, placas informam que, conforme exigência do órgão de proteção ambiental Fatma, a vegetação exótica foi substituída por espécies nativas. As vinte espécies plantadas na restinga incluem Aroeira Vermelha, Carquejinha, Erva de Santa Maria e Quaresmeira.
A mudança mais notável dentro da CTPP é o sumiço das “barracas fixas” que ficavam no área central do camping. Sua lona pesada de vinil, geralmente com estampas coloridíssimas que delatava que o tecido nasceu como outdoor, enchiam a maior parte da área de camping com um ar circense, caótico mas alegre. Niltinho começou cortar as barracas em 2014, e desde ano passado não há mais nenhuma.
Agora há gramado assombrada pelas mangueiras, até os menores com troncos já de 20 cm de diâmetro, e nesta estação pequenas mangas acumulavam-se nos passeios. Sendo já fora da época, uma única barraca estava no final da alambrada, mas o “chalet” tinha toalhas penduradas no corrimão em frente aos quartos de cima, anunciando hóspedes.
Uma constante no CTPP é a manutenção. Entrando logo de manhã, há um carrinho de mão com placas de grama, e uma pá e três ancinhos deitados contra um poste de luz. A portinha no poste revela tomadas para uso dos campistas, e ao lado das antigas, há outras do modelo novo (e menos conveniente) dos três furinhos, sinal da manutenção constante. A pintura de tudo é recente, como sempre foi. Entrando no banheiro, há um cheio de desinfetante floral.
Radaia, a recepcionista que cresceu na praia
Radaia, que trabalha fixo na Praia do Pinho há uns seis meses, é filha de Vera, que faz mais de 10 anos trabalha no CTPP e agora gerencia o Quiosque. Estes anos todos, Radaia frequentava o CTPP com a mãe. Radaia nota que com a crise o movimento baixou este ano, mas ainda assim está bem. Há mais estrangeiros, com destaque para argentinos, entre Réveillon e Carnaval. “Há gente que vem e passa 40 dias para pegar o Carnaval.”
Para Radaia, a estação de verão vai até abril, maio, mas “Depois do Carnaval, o movimento cai bastante. É mais feriado e fim de semana.” “No Réveillon, a gente solta fogos”, ela disse, “e no Carnaval fica lotado. Ano retrasado, fechamos a cancela às 11 da manhã porque não cabia mais gente.”
Há uns dez trabalhadores permanentes no CTPP, mas durante a estação alta de três meses, o número dobra, com quatro ou cinco garçons na época, e seguranças dia e noite, revezando, Radaia disse.
Torneio de Surf
O torneio de surf não chega às proporções do Carnaval e Réveillon. Quando aconteceu este ano, Radaia estava na caixa do Quiosque, e “deu movimento, sim,” mas os surfistas do torneio não ficaram hospedados no CTPP. “Sempre vem um surfista aqui, vem todo verão, e foi ele que ganhou o torneio,” e ainda “vem bastante surfista aqui, pois o mar é agitado.” Fora do torneio, uns surfistas chegam a curtir a praia pelados, mas sempre colocam calção para surfar, pois “a prancha machuca”.
Ano passado, Niltinho estava animado com o torneio de surf da Praia do Pinho, “Aquela primeira edição foi muito produtiva, (ao lado) tivemos um grande número de pessoas prestigiando o evento. ”Porém este ano perdeu o pique. Não temos até o momento nenhum encaminhamento ou projeto de realizar um novo campeonato de surf. Como tive muitos problemas com AAPP na realização daquele campeonato isso acabou me desanimando de realizar novos eventos deste tipo. Também após eu romper com a FBrN tenho focado meus esforços mesmo em apenas promover a Praia como um destino turístico, e em nossa estrutura de hospedagem.”
Ele esclarece que apoio oficial não falta. “A secretaria de Turismo, sempre que solicitada por nós, apoia tudo o que fazemos, sempre que pedi o auxilio deles para organizar algum evento lá na praia, sempre tive bastante apoio. Não podemos nos queixar disso, só não temos mais apoio por que não vamos atrás com tanta freqüência,” explica Niltinho.
Salva-vidas são do Estado
Em contraste ao padrão uniforme das construções do CTPP, onde reinam tijolos brancos e pintura bege, o posto de salva-vidas está de vermelho, preto e amarelo, e nos lados há o brasão do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina. “Os salva vidas são pagos pelo estado, representados pelo corpo de bombeiros da cidade, uma vez que a Praia do Pinho é publica e é um dever do governo prover a segurança no local,” esclarece Niltinho, “Nossa contrapartida de ajuda neste caso, por termos nosso estabelecimento em frente a praia, é de ajudar no que for preciso.”
Ele lista o "que for preciso", “Nós construímos o posto e o mantemos com recursos próprios, damos também 3 refeições a todos os bombeiros que trabalham no local (café da manhã, almoço e café da tarde), e temos uma relação muito boa com o corpo de bombeiros.”
O site dos bombeiros inclui Pinho na lista das praias vigiadas, sem nenhuma ressalva. Radaia lembra que já houve salva-vidas mulher lá. Ela nunca sentiu nenhuma aversão do serviço na Praia do Pinho por parte dos bombeiros, mas igualmente, nunca viu nenhum deles frequentar a praia pelado, nem nos dias de folga.
Vergonhas
Radaia disse que não se percebe preconceito na hora de preencher vagas, “Há muito curriculum, muito email, muita procura,” porém nota que os trabalhadores sazonais “quase sempre são os mesmos. Os que trabalham, não são trocados.”
Nem Niltinho, nem Vera, nem Radaia são naturistas, que ela explica que, “pode ter curiosidade, mas faria fora de casa”, e não entre as pessoas com quem trabalha. Nunca foi lhe transmitido qualquer proibição, e ela nota, “É praia pública, quem poderá me proibir?”
Uns frequentadores, na hora de pagar, antes de usar o cartão, perguntam o que aparece na fatura (“Complexo Turístico Praia do Pinho”), mas é difícil alguém evitar passar cartão por isso.
Crianças No sábado, houve mais de meia-dúzia de crianças na praia, meninos e meninas, no maior parte de famílias hospedadas no CTPP, e todas com menos de uns oito anos. O público total da manhã foi de umas 50 pessoas, subindo para 90 na parte da tarde. Radaia nota que o menino cuja foto (acima) fica em destaque no site e na recepção, “A mãe, o pai e o irmão veio este ano, mas ele não. São gringos.” Ha famílias todo ano, ela disse, mais a maioria é casal. De criança, “Até seis, oito anos é comum, depois não gostam de vir. Tinha uns adolescentes este ano, mas poucos.”
Mais luxo na hospedagem
Houve mudanças na hospedagem. Os apartamentos de luxo foram reformados ano retrasado, e frigobar adicionado. Eles ficam no segundo andar do prédio bem ao lado da recepção, na entrada do camping. Há também apartamentos tipo flat. Todos as camas são de casal, mas “podemos colocar colchão de solteiro no chão para criança”. As taxas fora da estação alta variam de R$270 de flat, para R$90 no camping, por casal. O que há mais procura, Radaia disse, é para a cabana (R$250), e os flats, “ar-condicionado é o que é mais procurado.”
Na estação baixa, e com duas semanas de antecedência, tarifas não-reembolsáveis, mas com 25% a 35% de desconto são oferecidas pelo www.booking.com, mas estes descontos não incluem o camping. A taxa de “day use” de R$25 o casal, que vale também para quem visita sozinho, não varia com a estação.
Públicos novos e diferentes
Radaia nota que depois de tirar as barracas fixa, o movimento continua igual, e “sempre há público novo”. Varia, mas o que predomina é de “40 anos para cima”, mas “Jovens vêm, e eles voltam.” “As pessoas jovens vêm, sim, para a prática de naturismo. São pessoas mais soltas, mais ciganas.” Como recepcionista e atendendo o telefone, ela nota que há dois tipos de público, e pelas perguntas que fazem, já dá para saber de quem se trata. “Quem vem para a prática de naturismo faz perguntas bem diferentes, sobre a praia, sobre como funciona o naturismo, quais restrições tem.“
E há um terceiro grupo, “vem bastante família curiosa, mas só ficam no deck,” a menos que algum corra para a praia e tira o calção “para fazer gracinha”. Um tipo que não aparece é de grupos de jovens, em busca de aventura na época de formatura.
Alvarás e Dejetos
Uma parede da nova recepção é em grande parte dedicado aos alvarás de funcionamento. Há um Alvará Provisório de Licença da Prefeitura; um cadastro de Meio de Hospedagem do Ministério de Turismo; um Atestado de Bombeiros (digital, com código de autenticação); da Polícia Civil uma licença para Hotel de até 40 cômodos, autorizando funcionamento 24 horas e notando que não permite atividade com música; e uma Alvará Sanitária da Prefeitura de Balneário Camboriú. “Fiscalização bate direto”, disse Radaia.
Deste último, Radaia informa que caminhão-tanque vem bombear a fossa, e esgoto não vai para o mar, “eles levam tudo.” A água “vem da caixa d’água”, ela brinca, mas é abastecido da floresta do outro lado da Rodovia Interpraias, e enquanto tratada, não é potável.
CAPOP
Fora do CTPP, mas ao lado do prédio que abriga os apartamentos de luxo, fica a Lanchonete Capop, da Ivanete Fonseca e seu marido Paulo. Ivanete nota que, “temos firma já faz trinta anos”, e que a lanchonete abre todos os dias, o ano inteiro. Na estação alta há oito funcionários, mas são sazonais, pois uma vez que começa fazer frio, o público só volta em setembro.
Como o CTPP, o Capop tem um quadro de alvarás. Ivanete observa que eles vem e fiscalizam mesmo, mas se solta no quesito de higiene”. “Ganhamos um prêmio pela cozinha, foi no jornal”, explicando que os fiscais elogiaram a cozinha “de tão bem organizada,” dizendo que “bem organizada como vocês é difícil.”
Sobre a crise, Ivanete observa que “como todo mundo, a gente vai levando,” notando que “Este ano é fraco para todos. A temporada foi fraca, pois Carnaval veio cedo … janeiro e fevereiro, havia bastante gente.” Porém, “Pessoas, têm bastante, mas gastando menos, por não saber o dia de amanhã. Em vez de passarem 10 dias, passam 4 ou 5.”
As visitas mais rápidas também foram afetadas. “Este ano, há mais pessoas que olham e vão embora, em meia hora. Em outros anos, ficavam mais.”
Mas para Ivanete, Capop está aguentado a crise melhor do que outros restaurantes semelhantes, “Por ser uma praia diferenciada, há mais visitas do que as praias ao lado.” Ainda, ela conta com um público conquistado com anos de continuidade e bons serviços, “Tenho freguês que vem anos e não entra na praia, só fica conversando.”
De venda de doces ao vento salgado do mar
O gaúcho Luís Fernando Cavalheiro, garçom do Capop, era pizzaiolo e forneiro em Porto Alegre, pegou uma rescisão de trabalho e foi para a praia de Torres. Lá, ele conheceu um rapaz com uma fábrica de doces, que começou vender lá. Querendo vir para Santa Catarina, ele foi vender os doces em praias catarinenses, e depois largou os doces e foi conhecer Balneário Camboriú.
“Cheguei sexta-feira de ônibus. Sábado à noite fui para uma balada, e veio diretamente da balada para Praia do Pinho. Nadei peladinho, a propósito é este, não? O naturismo real é o que a gente vê aí”, com gesto para a praia. “Passei domingo na praia, e no final do dia, acabei falando com as pessoas certas”, Paulo e Ivonete, “e comecei trabalhar aqui, e moro no apartamento atrás do lanchonete, ouvindo o barulho das ondas.”
Luis Fernando pegou a estação alta na Praia do Pinho, o verão e Carnaval. Sábado, estava constantemente transitando entre o lanchonete e a praia, carregando cadeiras e guarda-sóis, sanduíches e bebidas. Porém, de roupa, e está assim na praia até nas horas de folga. “Agora que trabalho aqui, não quero envolver meu trabalho com o parte pessoal, manter uma certa discrição. Os donos não praticam naturismo, também.”
Entrevistas
Fera e Bela vieram faz um ano de Cuiabá, MT, para Florianópolis, e estão “conhecendo a praia agora”, na sua segunda visita à Praia do Pinho. Fera explica sua falta de bunda branca: “Sou preto mesmo”. Do Pinho, ele acha, “muito bom”, e ela, “uma delícia”. Porém notam que os serviços do Centro Turístico Praia do Pinho são muito caros, destacando o aumento no preço de camping de R$60 para R$90 em apenas um ano.
De outras praias naturistas, notam que Galheta “não é só naturista, mas mista”, e consideram também obstáculos a longo caminhada para chegar na praia, e a falta de controle, com assalto na trilha. Bela admite, “mas é linda”.
Pedras Altas é “linda, mas muito pequena, e com pouco sol,” mas elogiam a continuidade, com o gerente morando lá há vinte anos e criando quatro ou cinco filhos no local, sustentando a família com o aluguel de cabanas. O acesso, “é para aventureiro, melhor ir de jipe”, Fera disse, mas apontou o lado positivo, que “‘e bom para que Pedras Altas continue como está,” com cabanas rústicas, de madeira, umas com janelas de vinil fechadas por velcro, de propriedade de particulares.
Visitaram também Tambaba,
onde encontraram uns oito casais cariocas que falaram bem da Praia de
Abricó, que também querem conhecer. M.C e sua esposa têm vindo para o Pinho faz um ano e pouco, e acham que a viagem de 70 km desde Balneário Barra do Sol vale a visita. M.C. é atraído principalmente pela “tranquilidade, e pessoas bonitas”, mas nota que as pessoas são “pouco amigáveis, e são muito fechadas”. Ele e a esposa vêm sozinhos, “Os filhos são muito grandes e casados. São naturistas dentro de casa desde pequenos, mas não querem vir a praia.” A crise não tem impacto nas suas visitas a praia, que são de mais ou menos uma vez por mês. Ele gosta de ficar perto da natureza, e longe das pressões, aproveitando “uma sistema de vida diferente.” O que ele mudaria é que “As pessoas só conversam entre si, são grupos muito fechados.”
Namorados argentinos, Carla e Jesuan, com seus vinte e tantos anos, enfrentaram 36 horas de ônibus para vir de Mar del Plata para Balneário Camboriú, e acham que valeu a pena. Em portunhol, elogiaram as lindas praias de Camboriú, e suas águas “calientes”. Chegaram à Praia do Pinho sem saber que era uma praia naturista. É sua primeira experiência naturista (e as marcas brancas de roupa de banho testemunharam isso), e acham “gostosa” e “livre”, e gostariam de tentar o mesmo no Caribe. Não conhecem a praia naturista do Uruguai. Perguntados se é barato para argentino viajar para Brasil agora, acham “mais ou menos.” Vão ficar dez dias no Balneário Camboriú, e vão recomendar para os amigos que vierem juntos no ônibus, e que estão em outras praias, que experimentassem Praia do Pinho.
Giovanni, encontrado na churrasqueira do CTPP, elogia "de cara" a “tranquilidade, o lugar bonito, o lugar diferenciado”. Notou a diferença de preços da alta temporada, a entrada de carro caindo de R$40 para R$25. Visitante da praia faz cinco anos, acho que em qualidade é “igual, nem melhorou nem piorou,” mas comentou umas diferenças. “Ficou limpa sem as barracas permanentes. Com as barracas parecia mais alegre, com as famílias que vinham direto. As famílias que tinham barracas, continuam vindo, mas menos.” Natural de Blumenau, ele mora em Floripa faz cinco anos e trabalha como controlador financeiro. Vem de vez em quando para Praia do Pinho, e fica “um, dois, três dias, quatro no máximo, ” e nota que agora fora da temporada tem mais tranquilidade do que nos grandes feriados. “Há muitas praias bonitas, mas aqui pode andar pelado, que é o diferencial.” Observa também que, “A Avenida Interpraias é muito bonita, e mostra bem o litoral de Santa Catarina.” Da Galheta e Mole disse que “Lá não tem organização, não tem estrutura, tem muito gente de todo lugar. Aqui é fechado.” Ele também já visitou Pedras Altas.
(enviado em 29/04/16 por Richard Pedicini) |
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