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Jornal Olho nu - edição N°190 - Setembro de 2016 - Ano XVII |
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9º Tambaba Open de Surf Naturista por Richard Pedicni* Colaboração: Pedro Ribeiro
O 9º Tambaba Open de Surf Naturista terminou com a vitória nas três categorias de Local, Open e Expression Session pelo surfista Reginaldo Junior, de 13 anos de idade, concorrente no Tambaba Open desde as primeiras edições, e morador do Assentamento Tambaba, núcleo rural perto da praia. O Open ainda é o único evento do tipo no mundo, mas na nono edição fez uma inovação para garantir seu futuro, com a adição da categoria Iniciante, para atrair novos surfistas naturistas para a praia.
O momento mais dramático do campeonato veio nas semi-finais da categoria Open, quando Reginaldo Filho, depois de pegar um longo ride que o deixou na extrema esquerda da praia, perto das pedras que separam a praia naturista de Tambaba do lado vestido, caiu da prancha e ficou relutando na água, sem sair do lugar. O Reginaldo Pai - que estava na praia não somente como pai, mas como disputante - correu do outro lado da tenda de jurados, nadou até o filho, e “deu um tranco” nele, que pegou a prancha e foi de novo para as ondas para terminar a bateria, e depois as finais de Local e Open.
Na praia depois, com sua camisa molhada e tremendo no frio do vento do final da tarde, Reginaldo Pai explicou que o filho “deu um jeito no braço”, apontando para o ombro, e disse que “não deu tempo não” de tirar a camisa antes do salvamento. O próprio Reginaldo Filho, depois do fim da bateria, explicou, “Eu acho que desloquei o ombro. Na hora não parava de doer. O pai foi para lá e recolocou o ombro.”
Um torneio de surf como qualquer outro
Wagner Oliveira, presidente da FPBS -Federação Paraibano de Surf, disse que “É o dever da Federação acompanhar de perto o esporte, e assegurar que o julgamento segue as normas brasileiras e internacionais, da International Surf Association.” Ele continuou, “Há a categoria Open no evento, que afinal é o Tambaba Open, e que conta 500 pontos no campeonato Paraibano. Quem ganha já começa com 500 pontos à frente dos demais. Temos logo o líder no início da estação.”
Está incluído no Open de Tambaba uma categoria não contemplada na regulamentação de surfe, a de Iniciante, uma iniciativa da ASCC – Associação de Surf Costa de Conde.
Wagner explicou como funciona o trabalho dos juízes, “É preciso preservar um julgamento alinhado com o regulamento. Além de presidir o FPBS, sou o Diretor Técnico.” Os juízes precisam ser habilitados, fazer cursos aprovados pela ISA – International Surf Association. “No primeiro Tambaba Open, tinha todo mundo julgando de roupa, mas quando eu assumi a presidência, resolvi que quem julga em Tambaba, só julga nú.”
Reginaldo Belo exercita o ofício de juiz de surf faz dois anos, e tem 27 anos de surf. Para se qualificar como juiz, é preciso curso de arbitragam, e cursos periódicos de reciclagem. Para o torneio de Tambaba, “Me convocaram, tinha vaga para mais um juiz, e aceitei.” É a segunda vez que ele está na praia de Tambaba.
Paraibano, Reginaldo trabalha no ramo de hotelaria em João Pessoa, e nota, “Turistas vem conhecer Tambaba e só ficam no parte de fora, mas o naturismo dá fama para Tambaba. No hotel, perguntam e recomendamos Tabatinga, Coqueirinho, Praia Bela, Carapibus.” A estação turística da Paraíba depende muito da época das chuvas, geralmente de março a julho.
Prêmios
“A premiação é como em qualquer outro campeonato de surf,” disse Wagner, Os surfistas esperam vários prêmios: os vencedores levam uma prancha, e há outros brindes como boné, camisetas e bermudas. O segundo lugar no Local e Open levaram uma capacete de moto; um outro prêmio, levado pelo surfista João Emílio, era uma tatuagem grátis. Uma dificuldade que o campeonato de Tambaba enfrenta, conforme Wagner, é que muitos dos patrocinadores comuns a outros campeonatos de surfe não entram, porque não querem associar a imagem da marca com o nudez.
O campeonato é bancado basicamente por cinco empresários. A maior despesa em dinheiro é a impressão dos banners, uns R$1500. “Sebrae entra com a logística, Bilu cede alimentação, o Tambaba Camping cede o hospedagem dos juízes.” Neste ano, uma das pranchas da premiação foi doado pelo NIP – Naturistas do Interior Paulista.
Outro mimo aparentemente característico de qualquer campeonato de surf foram os pratos de frutas (especialmente as bananas) que apareciam de vez em quando, para que os atletas pudessem repor as forças.
“A Federação se preocupa com surf, e com a realização do evento. Fui árbitro, e agora organizo faz nove anos. Este pedação da praia é o pico da onda. Com o maré enchendo é um horário, na ressaca é outro,” disse Wagner, notando que dos surfistas “As meninas não vem [para o Open]. Até surfam, mas não querem a exposição.” O formulário da inscrição já inclui a permissão para a veiculação de imagem, que logo afasta os tímidos, que não são somente mulheres.
Onda de atraso
Devido às condições das ondas no sábado, só foram realizadas as baterias iniciais e semi-finais da categoria “Expression Session”, onde o prêmio vai para quem consegue o movimento mais radical. As finais da Expression Session, e as categorias Local, Open, e Iniciante, ficaram todas para domingo – e domingo começou tarde.
Houve 8 inscritos na categoria Local, e vários destes também estavam entre os 10 na categoria Open, com 14 na modalidade Expression Session. Enquanto no sábado foi informado que todos deveriam estar no local as 10:00, para que a competição pudesse iniciar ao meio-dia, ou até mais cedo se as ondas fossem propícias, a primeiro bateria do local deu início somente as 14:22. Parte do atraso foi uma disputa técnica: um dos surfistas, que já conquistou vários torneios, poderia participar na categoria Local, que existe exatamente para dar mais oportunidade aos surfistas do pedaço? Ele ficou fora da Local, mas o torneio ficou fora da cronograma.
O resultado foi que as baterias finais aconteceram não somente com o sol já atrás das falésias, mas com a noite chegando mesmo. A premiação de Iniciantes e segundo e terceiro lugares de Local foram realizados com a baterias finais ainda acontecendo; o ganhador do Local estava surfando no final de Open, enquanto o segundo e terceiro colocados foram sendo premiados.
Com os finais rolando no lado do mar (e o mar rolando até o pé da tenda dos jurados), Carlos Santiago do Movimento NU, idealizador do torneio, arrumava prêmios e cadeiras, e comentou “Tudo que acontece na praia dá trabalho em dobro.” No sábado, Carlos notou que “houve outros campeonatos este anos, nesta data. Todos querem aproveitar esta época [de ondas mais fortes na região]”.
Para o Open de Tambaba estava esperado 26 a 40 atletas (acabou sendo menos de 20), mas observou, “Conseguiria 110 surfistas, se fosse em praia normal. Cai por causa da exigência de surfar sem roupa. Uns surfistas são tímidos. Mas no Coqueirinho, não teria a mesma visibilidade. Não passaria na França amanhã.”
Escola Surf Nu é para deixar frequentadores da praia ter a oportunidade de experimentar o surf. “É mais uma oficina do que uma escola”, troca entre surfistas e turistas, conforme Carlos, dizendo, “Surf vai bem com nossa filosofia de vida. Na Escola Surf Nu, há participação de crianças e adultos que já tem um certa convivência com o mar.”
A presença da polícia militar e civil, é uma solicitação do Surf Nu, para dar mais conforto aos que frequentam o evento. É também uma exigência da Confederação Brasileira de Surf.
Incentivando iniciantes
“Estamos formando uma associação de surf aqui no litoral sul. É conhecido como a ASCC. A participação da Associação no campeonato foi apoiar a competição e botar mais uma categoria, fora da competição. Realmente, são três categorias: a Open, a Local, e a Expression Session. A gente criou a categoria Iniciante, para incentivar e motivar a galera aqui do litoral,” explicou Geilson, conhecido como “Gê”, da ASCC- Associação de Surf da Costa do Conde.
Houve mesmo um bom número de surfistas que estavam pela primeiro vez num torneio de surf, e pela primeira vez numa praia de nudismo.
Bruno dos Santos, 19 anos, disse que o Open de Tambaba é seu primeiro torneio, pois aprendeu a surfar um ano atrás, aprendendo aqui mesmo em Tambaba. Ele está participando este ano por causa do categoria Iniciantes, um novidade. “Fui incentivado pelo Bilú e toda a galera para participar.” Começou a surfar com seu primo. Mora no Assentamento Tambaba. Bruno trabalha como vigilante na pousada Aldeia dos Ventos. Depois de competir no primeiro dia, disse que a experiência foi “massa” e prometeu voltar para o final no domingo. Premiado, ele manteve a mesma opinião do Open: “massa”.
Vanberto Ferreira, 17 anos, é surfista local de Jacumã e Coquerinho, desde que começou a surfar faz um ano e três meses, e está participando no categoria de iniciante. É estreante em dois sentidos, é seu primeiro torneio de surf, mas “com certeza, vou participar em outros.” Também ele disse que é “a primeira vez que vai para a parte de nudismo.” Bem bronzeado, informa que “Não passei bronzeador, arde nos olhos e não gosto.” Perguntado dos seus chances, “Se Deus quiser, vou ganhar, mas é mais para o divertimento.” Vai concorrer sem torcida, pois “não deixo a namorada entrar” na área de nudismo.
Malicon José, de 18 anos, é de Jacumã, surfa faz um ano e três meses, quando foi chamado por amigos para experimentar. “No começo quase desisti, mas gostei e continuei.” Os amigos que incentivaram incluem Vanberto, com quem está concorrendo hoje, e Jackson e Janilson. “ É a primeira vez surfando aqui, e o primeira vez de nudismo, mas de Tambaba não. Já frequentei o outro lado.” Está achando o nudismo “normal”. Ninguém vem ver ele concorrer hoje. Malicon parou de estudar com a primeiro série completa, e trabalha como servente de pedreiro.
Cassiano da Silva, de Jacumã, veio para o seu primeiro Open Tambaba. De 20 anos, está na praia pela primeira vez, incentivado pelo seu irmão Malicon, que está na praia domingo pela segunda vez – o primeiro foi sábado. Ele geralmente surfa na Praia de Coqueirinho. Nasceu em João Pessoa, mas mudou para Conde faz 3 anos. Concorre na categoria de iniciante. Do naturismo disse que “é só costume”.
Michel já participou do torneio no ano passado, e tem nove anos de surf. Mora em Jacumã, mas nasceu em João Pessoa, e mudou para Conde faz 25 anos, quando só tinha 3 anos. Aprendeu a surfar no Coqueirinho, mas só participou de concursos em Tambaba mesmo. “Melhor surfar sem calça”, ele afirma. Entre Coqueirinho e Tambaba, ele disse que qual tem ondas melhores, depende da direção do vento no dia.
David da Silva já participou: “Quinta vez que estou participando do Tambaba Open.” Já chegou em “Terceiro lugar, Local e Open. Rapaz, é uma maravilha, né? Este ano, cada ano que passa, é mais organizado, mais bem estruturado, vem mais participantes. Isso é bom para o evento, não é?” De Jacumã, natural de Conde, com sete anos de surf já, Davi participa de outros campeonatos na vizinhança, no Coqueirinho, no Besser. Praia predileta? “É aqui, é Tambaba. Praia naturista, fica bem à vontade.” Bermuda incomoda, fica areia, incomoda bastante.”
Apoio Oficial
O bombeiro Júnior, um dos três presentes na praia no sábado, disse que o corpo de bombeiros fornece salva-vidas na praia “somente em festas, eventos, Carnaval, Surf Nu, e Tambabafest”, três vezes por ano. Do naturismo, disse que “fora do serviço, nos dias de folga, pode nadar aqui pelado.” Junior tem oito anos cobrindo eventos em Tambaba. O destacamento para a praia de nudismo não é por ordem superior - “sou voluntário” - mas o dever em Tambaba é concorrido. Júnior disse que enquanto o mar em Tambaba é violento, “Só salvei uma aqui, uma 'Panicat' que estava se afogando.”
Ricardo Lavor, da PBTur, estava “Prestigiando o evento, pois está prestigiando o País poder praticar o surf naturista. O cobertura da imprensa especializada e dos TVs . . . traz para Paraíba o turismo saudável.”
Falta de Recursos
Apesar da tripla vitória do Tambaba Open – Local, Open, e Expression Session – Reginaldo Filho tem participado em poucos outros campeonatos, ainda que Jornal Olho Nu já notou [Link: http://www.jornalolhonu.com/jornais/olhonu_n_177/notic.html] sua vitória na categoria infantil do Rota do Mar, competição realizada na praia de Maracaípe/PE.
Reginaldo Pai, torcendo para o filho na praia durante as finais, disse, “Rapaz este ano para mim está sendo muito bom. Graças a Deus que todos os competidores do ano passado aparecerem este ano mais uma vez, e agradeço muito estar aqui com meu filho participando deste campeonato. Se Deus quiser, eu pretendo que ele seja campeão.” “Vamos esperar, e se Deus quiser, no próximo ano estamos aqui de volta.” Reginaldo Filho surfa desde os cinco anos de idade. Era pequeninho, comecei trazer ele para a praia, e graças a Deus, agora ele surfa só.” Reginaldo Filho agora tem 13 anos. “Aqui de Tambaba, todos, fora ele concorrem pouco, devido à falta de condição, os recursos financeiros são muito pequenos. Preciso muito de um apoio para ele, mas é difícil encontrar apoio para concorrer fora daqui, mas é muito difícil.”
*Jornalista norte-americano, escreve regularmente para Aviation International News; correspondente local do Joe Sharkey,
colunista do NY Times mais de 20 anos. É colaborador do jornal OLHO NU
(enviado em 23/09/16) |
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